Parece óbvio, mas é preciso refletir sobre como o preconceito é exatamente o que o nome diz (um pré-conceito).
Eu nunca pensei que diria isso, mas o BBB, desde o ano passado, tem salvo minha vida mental em tempos de pandemia. Ele é o bálsamo de escapismo que precisamos em tempos difíceis, onde se você tem a tendência a se importar com o sofrimento alheio vai acabar pirando ou entrando numa espiral de depressão (e pior, não vai poder ajudar em nada). Dito isto, não pude escapar de analisar um pouco mais atentamente os fatos e as atitudes dentro da “casa mais vigiada do Brasil”, e perceber que o tema deste ano é Preconceito.
Mas o que é Preconceito?
substantivo masculino
- qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico.
- sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância.
Enfim, é um conceito adquirido previamente, sem embasamento, ou um conceito adquirido por uma experiência traumática e superficial, como ser maltratado por um francês em Paris ou ter sido assaltado por um representante de um grupo étnico e generalizar esse rótulo para todo o grupo.
Mas essa palavra está intrinsecamente ligada à questão racial em nosso país. O que é um erro, porque limita o escopo do QUANTO somos preconceituosos e favorece o discurso dos negacionistas com o famigerado “eu até tenho amigos (coloque aqui sua cor menos preferida)“. Durante décadas, talvez até um século, cultivamos a imagem de que o brasileiro não é preconceituoso por conta da forte miscigenação de raças, cultura, costumes e religião. Somos um país miscigenado, talvez ÚNICO no mundo com TANTA diversidade (refletindo a diversidade de nossa flora e fauna), mas essa máscara do “brasileiro não é preconceituoso” nos últimos anos caiu e caiu forte. Nos somos o suprassumo da intolerância, da opinião sem embasamento, da irresponsabilidade com o coletivo, do “é isso aí e f*da-se“. E isso independente de qualquer posição política, faço questão de frisar.
E o que isso tem a ver com BBB21?
Tudo começou quando o participante Lucas começou a fazer alianças pra tentar formar um grupo de homens contra mulheres. Não foi aceito, já que essa estratégia falhou completamente no BBB anterior. Então ele aproveitou que outro participante (Nego Di) fez um grupo VIP 90% composto de negros negros e isso ativou algum gatilho em Lucas que fez ele se comportar como o “vilão” Erik Killmonger (do filme Pantera Negra) que pregava uma superioridade dos negros sobre os “brancos”. Lucas não fez exatamente isso, mas em apenas uma noite ele conseguiu perturbar TODOS os participantes numa festa fazendo Mind Games (jogos mentais) com um discurso que alternava o tema “união dos pretos” com algumas frases que mais pareciam ameaças veladas a outros participantes.
— Eu nunca te vi como igual, porque somos Camarote, mas eu não vi esse espaço como Camarote, tenho meus rótulos — disparou ele, apontando para Pocah e Viih Tube.
“Rótulo” é outra palavra pra preconceito.
A partir daí foi um festival de intolerância, onde Lucas foi excluído da convivência com os outros participantes e onde os piores algozes dele foram a rapper Karol Conká e a psicóloga Lumena Aleluia. Lucas acabou sendo acolhido por Sarah, Juliette, Gil e Camilla, mostrando que limitar o preconceito a apenas cor, estudo ou orientação sexual é pobre e não corresponde à dinâmica social. Devido a aproximação com Gil, que é assumidamente homossexual, Lucas se permitiu dizer-se bissexual. Foi um escândalo dentro da casa, porque Karol e Lumena acharam que ele só fez isso pra buscar aceitação e/ou se vitimizar:
— Isso é uma pauta séria. Você está agenciando uma pauta coletiva em prol de uma demanda egoica — acusou Lumena, apontando o dedo para Lucas, que negou constantemente.
Estamos vivendo uma Era do cancelamento onde uma militância autodeclarada minoritária DITA todas as regras de convivência que devem ser seguidas pelos outros RELIGIOSAMENTE, cancelando tudo e todos que não disserem Amém a tudo o que eles decidirem, mesmo que preencha vários dos requisitos que eles mesmos classificam como minoritários. Gil é nordestino, gay assumido mas cometeu o “erro” de se autodeclarar negro durante uma festa de temática africana do BBB:
“Ele [Gilberto] disse que alguém na ‘festa da África’ falou que ele é branco. Eu falei para ele, ô meu filho, para quem é branco, é preto, para quem é preto, é branco. Cada um tem seus achismos, mas saibam que vão te ver como branco”, disse Karol.
TV Fama
“Desde que eu me entendo por gente, eu me entendo como preta”, acrescenta Pocah. “Mas tem uma diferença da tua cor pra ele”, rebate Nego Di.
Karol diz então que Gil seria “igual ao Projota”. O humorista discorda novamente. “Não, ele é mais claro”.
A cantora opina que o doutorando em economia teria “arcada de negro”. “Não, pode dizer que é muçulmano, negro não. Ele tem cabelo liso. Teve alguém que disse pra esse cara que ele é preto e e ele acreditou”, opinou Di. “Ele pode ter alguém, um vô, uma vó [negros]. O racismo só sofre quem é da nossa cor, o policial não te para porque tua mãe é negra. Ele é um pouquinho sujinho. Se esfregar bem…”, continuou. Lumena entra na discussão: “Tem vários tons de branco. O cara acha que por não ser o branco branquíssimo…” e Nego Di interrompe: “É porque ele não é da cor do Fiuk, aí ele acha que é negrão”.
Gil conseguiu aceitação no grupo de Juliette e Sarah, e depois foi conquistando até mesmo a Lumena. Lucas não aguentou e saiu da casa por conta própria. Ironicamente, os algozes de Lucas foram julgados aqui fora pelo público e saíram da casa com altos índices de rejeição, um a um.
Ao sair da casa, Lumena falou que ao entrar tentou deixar pra trás a Lumena acadêmica, militante e ser mais leve, mas não conseguiu. A Sombra (aquilo que projetamos de nós nos outros) foi mais forte:
“Já na saída do Lucas, aquele choro foi uma catarse de reconhecer que tanto a saída dele quanto a minha postura transcendiam o que a gente viveu ali dentro. Eram matrizes que vêm da história dele e da minha história. A imagem dele me lembrava os meus primos, pessoas com quem eu me relacionei na vida, pessoas que eu acolhi, a quem eu me doei. Eu confundi muita coisa lá dentro. Ele projetou em mim um acolhimento que, em dado momento, eu desejei e me anulei no jogo para me doar. Quando ele me feriu, eu decidi ligar o modo contra-ataque, o que foi muito prejudicial para o meu jogo. Me senti atacada pelo que ele me causou, e eu não levo desaforo para casa de homem nenhum. Pensei: “se me atacar, vou atacar também”. Só que eu esqueci que eu estava num reality, não num campo de batalha.”
Lumena Aleluia
O mesmo disse Karol Conká, outra eliminada:
“Tenho que estar sempre forte, vi a minha mãe fazendo muito tempo isso ou porque a fraqueza está ligada à vulnerabilidade, mas não consigo me sentir forte vendo o que fiz na casa. Depois que a gente sai e vê as imagens, elas são muito fortes.”
Karol Conká
A fala de Karol foi menos elaborada, mas indica que essa imagem de mulher empoderada, desconstruída, confiante e que não se abala com nada é só uma imagem, uma construção social como, aliás, TODOS NÓS TEMOS e que o psiquiatra suíço Carl Jung chama de Persona (máscara). Essa máscara muitas vezes é criada como uma defesa contra as dificuldades do mundo, como diz (talvez sem perceber) a própria Karol:
“Eu era muito rejeitada não pela minha família, mas no colégio. Um menino no colégio falou: ‘mergulhe numa piscina de água sanitária para falar comigo.’ Eu fiquei pensando: mas por que?”, disse à repórter Ana Carolina Raimundi. “Foi tipo uma gincana. Cada um entrega alguma coisa e eu falei: deixa que eu escrevo um som. Desde aquele dia, os meninos pararam de me xingar. Aí não era só a neguinha boba. Eu era a Karol Conká, a menina que faz umas rimas, que entende de rap.”
Karol Conká
Tal máscara, quando se torna (por fama ou necessidade) a TOTALIDADE de sua personalidade, se torna uma maldição. E duas pessoas se tornaram muito famosas como exemplo trágico dessa maldição. Uma delas nasceu Norma Jeane Mortenson, mas o nome pelo qual ela se tornou conhecida foi Marilyn Monroe, e a maldição dela foi personificar com sua esplendorosa beleza a “loura burra”; uma imagem que ela nunca conseguiu desvincular de sua vida pessoal, e isso se traduziu em relacionamentos abusivos que reforçavam mais e mais seus traumas internos e que levaram ela a se matar (intencionalmente ou não) com uma overdose de remédios.
Uma pessoa em especial teve a sensibilidade de captar essa história (até porque ele por muito tempo também usava uma máscara / Persona para esconder seus sentimentos) e transformá-la em poesia:
Não à toa o próprio Elton John, muitos anos depois, percebeu esse mesmo padrão ocorrendo com outra pessoa, Diana Frances Spencer, mais conhecida como Lady Di. Se na música para Marilyn ele diz que gostaria de tê-la conhecido, dessa vez Elton ficou amigo de Diana e provavelmente ajudou-a a superar o tormento de viver uma “vida de Princesa” que só existia da porta pra fora (recomendo a série The Crown). Essa é outra faceta do preconceito: achar que só pessoas feias, pobres ou negras sofrem preconceito. Pode ser tentador zombar da tristeza de uma loura linda rica e famosa porque “ela tem tudo”, mas não sabemos NADA da jornada interna daquela pessoa. Não temos um CONCEITO, um mapa mental embasado e estabelecido sobre ela, apenas um PRÉ CONCEITO baseado em reportagens e programas de TV (ou, mais recentemente, Instagram). E o preconceito é justamente tomar um pelo outro, arrotar nossa arrogância e dizer com toda a convicção que SABEMOS e DEFINIMOS quem é aquela pessoa e a JULGAMOS por isso. Não é exatamente o que a Ku Klux Kan faz? E no entanto nós fazemos isso diariamente nas redes sociais, com consequências menos dramáticas mas que vão se acumulando até chegarmos a coisas bizarras como ameaças à família de participantes eliminados do BBB21. O julgamento que ocorre DENTRO do BBB21 é o mesmo julgamento que ocorre AQUI FORA, não só em relação ao BBB como em relação a nós mesmos, diariamente:

Enquanto isso o governo facilita para que essa mesma população adquira armas de fogo. O que pode dar errado?
Jade Picon descobrindo que cebola faz a gente chorar é a melhor coisa que você vai ver hoje
A influenciadora chorou ao cortar o legume e se perguntou: ‘O que está acontecendo?’
01/03/2022
https://gshow.globo.com/realities/bbb/bbb22/a-internet-ta-vendo-no-bbb-22/noticia/jade-picon-descobrindo-que-cebola-faz-a-gente-chorar-e-a-melhor-coisa-que-voce-vai-ver-hoje.ghtml
Legume?
Normal, descobri ontem que era possível fazer chá de caroço de abacate.
É você, Cipher? Saiu da Matrix e está pedindo pra voltar?
Recomendo esse video aqui a todos:
https://youtu.be/JBkcFVXt74Q
pra ser visto em parceria com o post Simulacro e simulação:
https://www.saindodamatrix.com.br/simulacro-e-simulacao/
“Enquanto isso o governo facilita para que essa mesma população adquira armas de fogo. O que pode dar errado?” Em 2016, pela primeira vez na história, o número de homicídios no Brasil superou a casa dos 60 mil em um ano. De acordo com o Atlas da Violência de 2018, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o número de 62.517 assassinatos cometidos no país em 2016 coloca o Brasil em um patamar 30 vezes maior do que o da Europa. Só na última década, 553 mil brasileiros perderam a vida… Read more »
Essa semana tive a oportunidade de ver um texto do Paulo e lembrar da Lumena. “Suas dores”, ela estava na Casa das Pretas com a Marielle no dia em que foi assasinada. Pensa no trauma e no conflito… Paulo traduziu bem a situação e nos trouxe Marvin Gay pra “roda de gira”. Já ontem sobre o João, chorei junto. (Torço por ele, professor, salário de R$ 2.000,00 🤦🏽♀️) Na década de 80/90 as mulheres davam a alma por cabelos cacheados/crespos (permanente/bigudinho) pouco sofri com isso. O apelido máximo que ganhei na adolescência foi bozolina (quando cortei, parecia mesmo, era acobreado😂)… Read more »
O texto do Paulo:
https://www.instagram.com/p/CNLsYXnnaFN/?igshid=16b95utmmqkwt
O BBB tem sido pesado, mesmo. Reflexo da nossa sociedade cada vez mais sem noção de um lado e cada vez mais fula da vida de outro. Em outras épocas talvez o assunto passasse batido, mas o próprio jogo incentiva a discussão. Funciona como uma catarse coletiva, no final das contas.
Está muito lindo isso, Acid. Estava ouvindo “Se fiquei esperando meu amor passar” – Legião Urbana – quando ouço o Gil falando da promessa de Abraão ao ver um Arco Íris, em seguida Juliette canta:
https://m.youtube.com/watch?v=LYsaKn8FRhc
Que energia….
Fiquei emocionada, pq após o falecimento de mãe a filha abraçou muito as ideias da faculdade… Quando Gil citou Abraão, comentei: tomara que exibam na edição. Ela respondeu que não tinha nenhum fundamento. Ahn?! Expliquei o quanto era importante para comunidade a cena ser exibida, e em seguida Juliette cantou.
Pensa….
No BBB o Gil é o que mais tem chamado minha atenção…
https://m.youtube.com/watch?v=PVjiKRfKpPI
Você chegou a ver a Juliette cantando?
https://fb.watch/4E4HItbZy-/
Da adolescente que cabulava a aula pra jogar Street Fighter. Não entendo nada daquelas músicas de game. 😂
https://m.youtube.com/watch?v=nEjoPH2mLjw
A danada é talentosa. Quando sair vai ser um sucesso onde quiser.
Acid, uma excelente explicação para o embusteiro:
https://instagram.com/tv/CM3BRFNgLM5/
Impossível não lembrar das análises do filme que já fez sobre…
Vigiai e Orai!
saindo da matrix analisando bbb? poxa cara, pelo menos muda o nome do blog
…e cara, quer exemplos melhores Ursula Andress e muitas que dava pra ver que eram mais humanas apesar do ”glamour”, mas a Marylin era muito tóxica mesmo, não condenar ela por estar saindo com um cara casado, mas por ela ainda ficar ligando pra casa da esposa que está cuidando do filho pequeno pra atormentar ela e falar m… A dona Marilyn tbm fez TROCENTOS abortos, não um nem dois, só queria saber de farra mesmo. Se ownou após tomar um fora do Kennedy isso sim, não por ”pressão da fama”. O Kennedy ao que tudo indica, amava a Jackeline… Read more »
Após esse comentário, o post “Jung e a Mente dos Profetas” fez ainda mais sentido. 😂
Essa semana lembrei do filme 2.012 e do mapa que estava na divisão conspiração Marilyn Monroe.
https://m.youtube.com/watch?v=S26KnDW5G08&feature=youtu.be
Desculpa, Acid, estou realmente naquela fase em que Sabina vê coelhos e Jung esculpe o embusteiro. 😂😂😂
O (in) consciente coletivo quando não me pesa, me faz rir. 😂
Oi Geninha 🙂 não entendi direito, mas TODOS sabiam que a Monroe tinha um caso com o Kennedy e queria ser primeira dama, bem como os telefonemas insultando a Jack… então pelo menos essa parte não é ”teoria da conspiração”. Sobre bbb, claro que a guria ser rica e mais clarinha não a impede de ter problemas, bem como ela pode ser mais merecedora de ficar com o primeiro prêmio. Só quis dizer que não há muito com o que se preocupar que esses participantes foram escolhidos já como cartas marcadas, e apesar de mudar o perfil da maioria o… Read more »
Toad, campo espiritual – arquétipo de Vênus: Oseias e a mulher adúltera 3 O Senhor Deus falou de novo comigo e disse: — Vá e ame uma adúltera, uma mulher que tem um amante. Ame-a assim como eu amo o povo de Israel, embora eles adorem outros deuses e lhes ofereçam bolos de passas. 2 Fui e comprei a mulher por quinze barras de prata e cento e cinquenta quilos de cevada. 3 Eu disse: — Por muito tempo, você vai esperar por mim. Durante esse tempo não se torne prostituta, nem se entregue a um amante. E eu também esperarei por você.… Read more »
Um século depois… Oi Geninha, se ainda ler aqui… não entendi direito, tenho uma certa lerdeza depois de um traumatismo craniano ;p
Na parte da prostituição, disse que não por isso, mas por ela ainda ficar incomodando a Jack, que cuidava de um filho pequeno. E tbm se já havia métodos anticoncepcionais, e ela abortar tanto, mas enfim ninguém é Deus pra julgar, só sei que se fosse uma parente minha na situação da Jack, eu ia querer xingar a Monroe. Abç…
Oi Toad.
Lamento o traumatismo.
Nada importante. Estava estudando a “prostituição espiritual”, acho. Não lembro.
Que monte de mer.da… mudou mesmo, bbb PIOROU. Poluição mental, nada pra nalisar não.
😂
Era uma das poucas que comentava de BBB aqui… É Laboratorio.
É interessante observar as pessoas no “modo sobrevivência”. Mas esse ano também tem sido interessante observar a manipulação Global, a informação distorcida e a agressividade do público na pandemia. Assustador!
Não duvido que tudo seja uma forma de ensinamento. Que não existam momentos comuns e que sempre há algo ocorrendo. Se tivermos sensibilidade para enxergar. O aprendizado, a evolução e o crescimento espiritual ocorrem na lida do dia a dia. Na convivência familiar, ambiente de trabalho, no trânsito. A imensa maioria dos seres não está destinada a achar paz eterna e sabedoria transcedental no cume das montanhas do himalaia (ao menos, não nessa vida). Agora, big brother? BBB? Rsrs. Preciso rever meu próprio preconceito! Somente um site como o saindo da matrix pra me fazer refletir sobre o big brother.… Read more »