Na primeira parte de nossa biografia sobre Yuzo Koshiro nós vimos que ele deixou a Falcom em 1988, chateado com a falta de reconhecimento e direitos sobre a música. Mas antes disso acontecer ele ainda fez música para vários jogos obscuros no ocidente. Lembram do vídeo em que ele fala que o jogo Tower of Druaga foi sua grande inspiração pra compor? Pois bem, ele foi publicado pela produtora Dempa, e foi pra eles que Yuzo emprestou seu talento nos jogos The Gate of Labyrinth e Dark Storm – Demon Crystal III, ainda em outubro de 1987, para o computador Sharp X1. Em dezembro saiu Ojousama Club (da DTB software, para PC-88), onde ele participou com outros compositores. De volta para a Dempa ele fez The Curse of Mars, em 1988 para o Sharp X1. O último trabalho de Yuzo para a Falcom saiu em junho de 1988 e foi Ys II: Ancient Ys Vanished – The Final Chapter, com Hideya Nagata e Mieko Ishikawa (onde ele fez a maioria das músicas). Poucos meses depois sai o jogo The Return of Ishtar (continuação de Tower of Druaga), onde Yuzo fez a trilha para a versão MSX. Podemos dizer que fechou-se um ciclo na vida dele.
ENFIM, LIVRE
Em agosto de 1988 Yuzo experimenta novos estilos, fugindo um pouco da tradicional “música de videogame”. Fez a trilha para The Scheme (da empresa Bothec) em duas versões, ambas para o PC-88: Uma usando o sistema de som nativo do computador (OPN, pro chip Yamaha YM2203) e outra para a (então) novíssima placa de som Soundboard II (um chip Yamaha YM2608). Notem que, ao invés de simplesmente incrementar a música original OPN para a placa mais avançada, Yuzo criou NOVAS MÚSICAS para a SoundBoard II. Era uma época onde a criatividade de Yuzo não conhecia limites.
Notem o uso intenso de samples pra criar toda uma textura musical:
O mais importante desse jogo é que, por controlar os direitos da própria música, Yuzo lança um CD com a trilha sonora original e, pela primeira vez, faz versões arranjadas de suas músicas (junto com Yasuhito Fujimaki). Tem uma música de The Scheme chamada “I’ll save you all my justice” que Yuzo disse que roubou o título da música “I’ll Save You All My Kisses“, da banda pop britânica Dead or Alive. Abaixo está a minha favorita deste jogo, onde ele flerta com o rock progressivo, numa combinação do estilo “elétrico” de Mozart misturado a uma ótima batida eletrônica:
Em dezembro de 1998 sai pela Namco uma versão do jogo de tiro Bosconian para o computador Sharp X68000, onde Yuzo divide as composições com Hideya Nagata. Logo de cara podemos ver um show de virtuose no Free Jazz feito por Yuzo e o abismo que há entre ele e as composições de Nagata:
No ano seguinte ele faz para o Sharp X1 Algarna (da M.N.M. Soft), onde ele explora mais o estilo Bachiano, usado apenas timidamente em Ys:
Dois anos depois, as músicas de Algarna foram retrabalhadas por Miki Fukutomi para o computador Sharp X68000, com som FM e ADPCM, elevando maravilhosamente a qualidade do som mas mantendo o espírito da música original:
Outros também melhoraram o arranjo das músicas, como esta aqui, com mais samples:
Ou este fã que fez uma quase perfeita emulação do som do cravo, que foi a idéia de Yuzo Koshiro desde o início:
RECONHECIMENTO MUNDIAL
Eu gostava de jogos de arcade, então minha visão da Sega era como a empresa de jogos mais legal da época. Eles tinham jogos como Space Harrier e Hang-On, que tinham consoles sentados, aquelas máquinas grandes. Eram jogos com visuais impressionantes e, claro, o som também era legal. Era apenas a Sega que estava fazendo isso.
Yuzo Koshiro
1989 parece ter sido um ano mágico para Yuzo Koshiro pois, uma vez com a reputação de talentoso compositor freelancer estabelecida, ele consegue munição para negociar com a empresa de videogames Sega, e assim conseguir a façanha (até hoje inédita) de poder ostentar o nome do compositor na tela título dos jogos. Yuzo diz que fez isso porque queria estabelecer a música como parte importante da produção dos jogos. E parece que funcionou: No seu primeiro jogo para a Sega, sua fama atingiu níveis mundiais.
Esse jogo foi The Revenge of Shinobi (Super Shinobi, no Japão), a continuação de um game de sucesso dos Arcades (fliperamas) e que seria o carro-chefe do videogame Mega Drive, que estava sendo lançado nos EUA neste ano (Sonic ainda nem sonhava em existir). Yuzo estava trabalhando com um pequeno mas talentoso grupo de programadores e designers da Sega e não iria desapontar: TODOS na indústria de games, todas as revistas e pessoas que escreveram sobre esse jogo mencionaram como ficaram surpresas ao ouvir tamanha qualidade sonora. O Mega Drive já estava há quase um ano no mercado japonês, mas as pessoas não sabiam que ele podia gerar músicas desse tipo, porque nenhum compositor havia feito nada parecido!
Correu a lenda que Yuzo conseguiu esse know-how arrancando o chip Yamaha YM2612 do Mega Drive e colocando-o no seu teclado, brincando com ele pra abarcar todas as possibilidades sonoras que o chip tinha pra oferecer (mas Yuzo já falou que não é verdade). Mas um outro truque, desta fez confirmado pelo compositor Tommy Tallarico, é que ele usava o único canal de samples do sistema (que até então só era usado para sintetizar pequenos efeitos de voz, como em Super Mônaco GP) como canal de música, e usou o Z80 – uma CPU extra que estava no Mega Drive apenas para dar compatibilidade com o Master System – como processador de samples também, o que possibilitou batidas mais realistas e um som mais orgânico. É a inventividade que separa os gênios dos demais.
“The Revenge of Shinobi foi minha primeira chance de manter um relacionamento com a Sega. Mais do que música de videogame, eu queria mesclar dance music com instrumentos tradicionais japoneses.”
Yuzo Koshiro
O virtuosismo musical de Yuzo neste jogo nos leva do oriente ao ocidente, cobrindo o estilo chinês, techno, industrial, experimental (anos 70) e jazz. Em entrevistas ele diz que fez as músicas de The Revenge of Shinobi em pouquíssimo tempo, e sem nenhum esforço, pois o chip de som do Mega Drive era quase idêntico ao do PC-88, no qual ele tinha larga experiência. Segundo Yuzo, todas as músicas foram baseadas no tema principal (“The Shinobi“), que toca no primeiro estágio, menos a música da área industrial, que foi inspirada pela música de Prince para o filme Batman:
Mas a música preferida por todos que jogaram (eu incluso) e que na (finada) comunidade Yuzo Koshiro do Orkut ganha disparado como a melhor música da carreira de Yuzo Koshiro é mesmo “Chinatown“:
Referência:
Entrevista com Noriyoshi Ohba, diretor de The Revenge of Shinobi e Streets of Rage
Continuação:
Adorava shinobi!
😀
Parabéns pelo post, Acid!
Chinatown é f*…que música linda do mestre!!
Acid parabéns pela publicação (coloque seu nome no credito da página) Abs Edu
Legal sua matéria Acid, é difícil alguém se interessar pela trilha sonora do jogo, muito bacana mesmo.
Aliás, as melhores acredito são dos jogos da Enix, com algumas excessões é claro.
The Best in Ze World !