Carregar e ser carregado
Um velho monge e um jovem monge estavam andando por uma estrada quando chegaram a um rio que corria veloz. O rio não era nem muito largo nem muito fundo, e os dois estavam prestes a atravessá-lo quando uma bela jovem, que esperava na margem, aproximou-se deles. A moça estava vestida com muita elegância, abanava o leque e piscava muito, sorrindo com olhos muito grandes.
– Oh – disse ela –, a correnteza é tão forte, a água é tão fria, e a seda do meu quimono vai se estragar se eu o molhar. Será que vocês poderiam me carregar até o outro lado do rio?
E ela se insinuou sedutora para o lado do monge mais jovem.
O jovem monge não gostou do comportamento daquela moça mimada e despudorada. Achou que ela merecia uma lição. Além do mais, monges não devem se envolver com mulheres. Então ele a ignorou e atravessou o rio. Mas o monge mais velho deu de ombros, ergueu a moça e a carregou nas costas até o outro lado do rio. Depois os dois monges continuaram pela estrada.
Embora andassem em silêncio, o monge mais novo estava furioso. Achava que o companheiro tinha cometido um erro ao ceder aos caprichos daquela moça mimada. E, pior ainda, ao tocá-la tinha desobedecido às regras dos monges. O jovem reclamava e vociferava mentalmente, enquanto eles caminhavam subindo montanhas e atravessando campos. Finalmente, ele não agüentou. Aos gritos, começou a repreender o companheiro por ter atravessado o rio carregando a moça. Estava fora de si, com o rosto vermelho de tanta raiva.
– Ora, ora –, disse o velho monge. – Você ainda está carregando aquela mulher? Eu já a pus no chão há uma hora.
E, dando de ombros, continuou a caminhar.
(Este conto, intitulado Trabalho inútil, faz parte do lindo livro de coletânea Contos Budistas, recontados por Sherab Chödzin e Alexandra Kohn, ilustrados por Marie Cameron, editado no Brasil pela Editora Martins Fontes, tradução de Monica Stahel, São Paulo, 2003)
Pedras e pedras…
Um peregrino passa diante de um vasto canteiro de obras.
– O que você está fazendo? – pergunta a um dos operários que vê por ali, trabalhando com grande empenho.
O trabalhador acha a pergunta engraçada. Enxuga o suor do rosto enquanto responde:
– Não está vendo? Estou quebrando pedras.
Mais adiante, o peregrino pergunta a mesma coisa a um outro talhador de pedras.
– Estou ganhando o meu sustento – responde, com grande seriedade.
Antes de deixar o canteiro de obras, o peregrino faz a pergunta ainda uma vez, a um terceiro talhador de pedras.
– Eu estou ajudando a construir uma catedral – responde este, sorrindo.
O peregrino retoma seu caminho.
Torne-se um lago
O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d’água e bebesse.
– Qual é o gosto? – perguntou o Mestre.
– Ruim – disse o aprendiz.
O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago.
Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago, então o velho disse:
– Beba um pouco dessa água.
Enquanto a água escorria do queixo do jovem, o Mestre perguntou:
– Qual é o gosto?
– Bom! – disse o rapaz.
– Você sente o gosto do sal? – Perguntou o Mestre.
– Não – disse o jovem.
O Mestre então sentou ao lado do jovem, pegou sua mão e disse:
– A dor na vida de uma pessoa é inevitável. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Então, quando você sofrer, a única coisa que você deve fazer é aumentar a percepção das coisas boas que você tem na vida.
Deixe de ser um copo. Torne-se um lago.
Fonte: Para ser Zen
Adorei os textos!!!! Maravilhosos!
Fica tudo tão mais fácil quando colocamos sentimentos em palavras!!!
Mas o melhor é poder ver quais são as perspectivas de cada ser humano por uma simples fábula.
Parabéns Acid!! Mas estou curiosa…isso é só pra deixar o pessoal mais zen depois das acaloradas respostas dos posts anteriores??? hehehehehe..
Beijos,
Dani 🙂
Quem dera,um dia poder falar aquilo que sou, e não falar aquilo que dizem que sou.
história do século VII na China foi a seguinte: o abade de um grande mosteiro pediu a seus monges que fizessem um poema no qual expressassem sua compreensão dos ensinamentos de Buda. O Chefe dos Monges, muito querido e respeitado pelos seus mais de mil companheiros, escreveu solenemente: “O corpo é a árvore Bodhi*, A mente é como um espelho brilhante Cuide para mante-la sempre limpa Não permitindo que o pó se assente” Um jovem semi-alfabetizado, que ajudava separando a palha do arroz viu o poema na parede, pediu que alguém o lessse e exclamou: —“Não é isso” e pediu… Read more »
Eu pergunto: como esvaziar o que já está vazio? Há uma história Zen muito interessante. Certo dia um jovem aspirante pediu ao Mestre Zen que aquietasse sua mente. O Mestre disse: —“Traga sua mente aqui, entregue-a a mim e eu a aquietarei.” O jovem saiu procurando pela mente. Onde estaria? Seria pensamentos, memórias? Seria silëncios e quietude? Seria sonhos e pesadelos? Seria feita de palavras, conceitos? Seria apenas a massa encefálica, a matéria? O jovem pensava e não pensava. Cada vez que acreditava ter apanhado a mente, percebia que ela fugia, que já estava em outro pensamento, em outra idéia.… Read more »
Tantas palavras…
bolas… 😛
éh….. e as arvores somos nós…
http://www.youtube.com/watch?v=i_MIPrZngRI
Zen Speaks 1/11 (Português /English)
http://www.youtube.com/watch?v=hURzUNwDYlg&list=PL827F116175285EE7&feature=plcp
O Monge Desce A Montanha (2017)
torrentdosfilmes.com/o-monge-desce-montanha-2017-torrent-bluray-720p-1080p-dublado-dual-audio-5-1-download/
O Monge Desce A Montanha – Trailer
youtube.com/watch?v=dHSCd0aeRc0
Wu-Tang Clan – Da Mystery of Chessboxin’ – Master Iller
youtube.com/watch?v=8oKFc_O82vI
Você fala, você escuta “Um monge zen que vivia nas montanhas, todos os dias pela manhã se banhava numa bela cachoeira, e então costumava gritar alto: “Bokuju, onde você está?” Bokuju era o seu próprio nome. E ele mesmo respondia: “Estou aqui!” E continuava: “Bokuju, lembre-se, um outro dia lhe é dado…fique consciente, alerta e não seja tolo!” E ele mesmo respondia: “Sim, senhor, tentarei dar o melhor de mim.” Porém, não havia mais ninguém ali! Ele perguntava, ele respondia… Seus discípulos começaram a pensar que ele tinha enlouquecido, mas ele estava somente representando um mono-drama. Vejam bem, essa é… Read more »
A Iluminação de Buda, Jodo-e em japonês, é a celebração da Iluminação Completa e Absoluta que torna Sidharta Gautama um Budha vivo. É o início do Budismo. Comemorada em todos os templos e mosteiros com uma grande cerimônia solene, ofertas de flores, incenso, luz de vela e alimentos. Nos mosteiros Zen Budista a comemoração inclui um retiro de sete dias (Rohatsu Sesshin)iniciando-se em 1 de dezembro e terminando ao amanhecer do dia 8, pois a história relata que Xaquiamuni Buda havia se sentado em meditação (Zazen) durante esse período e que ao amanhecer do oitavo dia, ao ver a estrela… Read more »
Belas parábolas…vindas do zen não é de se estranhar que carreguem um significado profundo.
Sim, um lago! 😉
Da raiva que pode cegar…
“– Ora, ora –, disse o velho monge. – Você ainda está carregando aquela mulher? Eu já a pus no chão há uma hora.”
Nós podemos carregar um peso
até quando não é físico. Acho que era o que o jovem estava fazendo..
Gostei das parabolas, bem profundas! Bjão, lindo!
Gostei muito dos textos. Ilustra bem a diferença entre ‘os escravos das regras’ e os ‘senhores de si’…entre os ‘medíocres’ e os ‘sábios’.
E ae Acid… Qto tempo heim… Na paz?
Gostei dos textos…
Quando o homem renuncia a todas as intenções e não tem nenhum apego aos objetos sensíveis nem às suas obras, diz-se que atingiu a Yoga.
Bhagavad Gita
Off-topic:
A matrix dentro da matrix:
http://www.estadao.com.br/tecnologia/noticias/2006/nov/30/35.htm
Eu vejo assim BoB:
Os dois monges eram iguais.
Um não era medíocre e o outro sábio.
Apenas um era mais jovem e o outro mais velho.
Se fosse o contrário, se o mais jovem carregasse a moça até o outro lado e o mais velho ficasse furioso, aí sim, eu concluiria (e apenas) que o mais jovem era mais sábio.
É, tua observação está correta, NJ. Mas o que rolou na minha cabeça, é que a juventude, neste contexto, tb implica em imaturidade, naturalmente pela falta de vivência ou experiência. O ‘jovem’, no caso, é utilizado como símbolo desta imaturidade que pode estar presente em qualquer pessoa, de qualquer idade. A mediocridade a que me referi, diz respeito àquilo que tem ‘qualidade média’ é ‘comum’ ou mediano, sem profundidade ou aprofundamento, podendo ser uma característica natural e esperada, decorrente da idade de uma pessoa ou mesmo uma falha de caráter, por assim dizer.
Tb pode ser que naquele dia, em que inseri o post, eu tenha acordado com o pé esquerdo e procurando pelo em ovo! rs
😀
Lindo os textos! põe mais aí rsrsrs
Renunciem ao mundo e o retome em termos diferentes.
Um homem disse a Buda: “Eu quero felicidade.”
Buda respondeu: “Primeiro retira ‘eu’, esse é o ego! Depois retira ‘quero’, porque isso é desejo! E repara, agora só tens Felicidade.”
(Conto Budista)
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