A PAIXÃO DE CRISTO (Filme)

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Assisti a Paixão de Cristo. Não a de Nova Jerusalém, mas a de Mel Gibson. A diferença é que o último é BEM mais realista, mas ambos não são muito fiéis à parte histórica da coisa, e sim à Bíblia (Novo Testamento). Isso joga toda a discussão sobre a culpa dos judeus por terra abaixo. Todo mundo sabe que na Bíblia a parcela de culpa dos romanos é minimizada, que Pilatos é bonzinho, então como o diretor disse: “quem tem problemas com esse filme, tem problemas com a escrituras”. E um bocado de historiadores divergem das escrituras, e com razão. Um pequeno exemplo pode ser encontrado na crucificação: os cravos não eram colocados nas palmas das mãos, pois os ossos se partiriam com o peso do corpo e o cara cairia da cruz! Então os romanos pregavam no pulso. MAS, como tem uma passagem na Bíblia onde Tomé diz que quer ver o furo dos cravos nas mãos de Jesus (João 20:25), então virou lei: penduraram pelas mãos. Não interessa se foi um erro do copista, tradutor ou mesmo do Tomé, o que vale é o que está escrito.

Agora, eu detesto revisionismo! Odeio quando querem minimizar o holocausto nazista, mas também não aceito quando grupos judeus tentam minimizar o papel de seu povo no episódio do julgamento de Jesus (ei, Jesus era judeu! O VERBO que se tornou carne era judeu!! Os seus discípulos TAMBÉM eram judeus! Pessoas que todos nós admiramos! Orgulhem-se disso!). Encarem os fatos! A alta cúpula de religiosos judeus mandou Jesus para os romanos matarem, não exatamente o povo de Israel (o filme mostra isso, quando Pilatos pergunta “não era seu povo que saudava Jesus há cinco dias no Templo?”). Se Jesus tivesse nascido e vivido na Noruega, teriam sido os religiosos noruegueses, porque seria uma blasfêmia alguém se dizer filho de Odin (Thor) na Terra. E nem por isso as pessoas do mundo se tornariam anti-norueguesas, nem deixariam de comer bacalhau. Se formos censurar algum fato histórico em respeito aos sentimentos de um povo, então vamos abolir todos os filmes onde aparecem os nazistas como vilões cruéis e desalmados, pois ofende o atualmente pacífico povo alemão. Vamos também ignorar o fato de que os EUA jogaram DUAS bombas atômicas no Japão, pois essa é uma mancha negra na atual amizade colorida entre esses dois países tão próximos economicamente…

A celeuma começou mesmo antes mesmo do filme estrear. Um líder judaico norte-americano pediu ao Mel Gibson para que ele cuidasse que o filme não atribua a culpa pela crucificação de Cristo aos judeus. Ora, todo mundo que teve curiosidade de ver um daqueles filmes que passam na Semana Santa sabe que a Judéia naquela época estava dominada pelos Romanos, que exerciam a autoridade militar, e os líderes Judeus cuidavam da autoridade religiosa. Como está escrito na Bíblia, Jesus era P da vida com os Fariseus, o povo que respeitava a Torah de forma superficial, fingida. “Sepulcros caiados”, dizia. Branquinhos e bonitinhos por fora, e por dentro aquela podridão de morte. Não se encontra revolta política no Novo Testamento, muito embora devamos levar em conta que Paulo de Tarso implantou a Igreja Católica em Roma, e não pegaria bem “vender” a idéia de um Jesus revolucionário e anti-romano, como podemos supor em algumas passagens do Evangelho Apócrifo de Tomé (Thomas, o gêmeo). Mas, mesmo nele temos o famoso “Dai a César o que é de César, a Deus, o que é de Deus…”, no versículo 100. O que o Rabino pede é quase como convencer Spielberg a fazer uma versão light de “A lista de Schindler“, em que o povo alemão não tenha tido nenhuma parcela de culpa, sendo o vilão tão somente Hitler e os seus malvados capangas nazistas.

Mas, pra ser bem imparcial, não devemos esquecer que Mel Gibson tem sim um viés pessoal antissemita bem documentado. Então, apesar dele seguir a Bíblia fielmente, esse viés pode ser encontrado numa fala do filme que sugere que o povo judeu carrega a culpa coletiva pela morte de Jesus. A comunidade judaica também criticou a representação física do povo com estereótipos preconceituosos.

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O legal do filme é que, em vários momentos, você precisa conhecer as passagens da Bíblia pra entender o que está acontecendo. Foi emocionante ouvir os diálogos em Latim e Aramaico. Por uns instantes me senti como se tivesse voltado no tempo. Pena que o diretor tenha se interessado mais pelo aspecto grotesco da crucificação, e menos nos ensinamentos de Jesus. Minha esperança é que, com o sucesso desse filme, transponham para as telas um dos mais interessantes livros que já li: Operação Cavalo de Tróia, de J. J. Benítez.

Atualização (13/01/2023)

Com o sucesso arrasador deste filme (é o filme independente mais rentável já feito em Hollywood) está sendo providenciada uma continuação, cujo título é A Paixão de Cristo: Ressureição.

Referência:
Saindo da Matrix – Jesus de Nazaré;
Jesus e a Palestina;

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