“O primeiro passo é sempre o mais importante.”
Frase dita duas vezes durante o filme
De vez em quando surge um filme “encomendado” pela espiritualidade pra inserir, discretamente, valores espirituais em nós. Alguns mais descarados, como Ghost: do outro lado da vida e Amor além da vida (com Robin Williams). Outros mais discretos, como o final de Titanic, (em que os tripulantes mortos se reúnem pra receber o espírito de Rose na contraparte etérica do salão do navio) e outros que trabalham por metáforas de difícil compreensão, como Cidade das sombras, Cidade das Crianças Perdidas e, claro, The Matrix.
Mas um filme em especial é muito sutil em sua mensagem, e só a percebi quando me foi dada a chave para destrinchá-lo. É o filme Feitiço do Tempo (Groundhog day), com Bill Murray. É uma comédia de primeira, com muito humor ácido, do tipo que eu gosto. Conta a história de Phil (Murray), um cara arrogante que fica preso em um dia em particular (o “dia da marmota” que dá nome ao título original), dia esse que ele tem de reviver infinitamente, e onde as coisas ocorrem sempre igual (a menos que ele interfira nos acontecimentos). Assisti a primeira vez e nem me liguei. Da segunda, vi com o pessoal do CEPEC (Centro de pesquisa da evolução da Consciência) e foi fantástico perceber como o diretor conduziu (conscientemente ou não) os fatos para que cada dia daquele represente uma encarnação. Essa é a “chave”.
Não leiam a resenha abaixo se não viram o filme. Recomendo que vejam, vai ser muuuuuuuito instrutivo:
Quando Bill Murray descobre que está preso neste Samsara (ciclo de encarnações) primeiro sobrevém a negação, o desespero. Depois ele se acostuma, e percebe o poder que tem em mãos. A partir daí ele procura se divertir, ser leviano, dar vazão aos prazeres (viver emoções fortes, comer tudo o que quiser, conquistar todas as mulheres da cidade) e usa de informações privilegiadas (afinal, ele sabe tudo o que vai acontecer no dia) pra manipular as situações e as pessoas, como fantoches.
Daí ele se volta pra Rita, a produtora de TV que veio com ele pra cidade. Então ele tenta usar seu “poder” pra obter o máximo de informações sobre ela e ser aquilo que ela quer de um homem ideal: mas só de fachada. Através de várias manipulações ele quase consegue seu intento, mas isso não o satisfaz. Afinal, ela não se apaixonou por ele, e fingir o tempo todo é algo cansativo. Então ele se cansa dos prazeres efêmeros… tudo o que ele fez até então não acrescentou nada em sua personalidade, nem ao seu caráter.
Ele então tenta se matar. Fugir daquela maldição do mesmo dia após dia. Não adianta. Até que ele tem o estalo de usar o tempo (no caso dele, a eternidade) pra investir no próprio aprendizado. Afinal, tudo o que ele leva de um dia para o outro é o conhecimento, mais nada. Ele vai procurar se TORNAR de fato o homem ideal pra Rita. Uma mudança interna. Estuda piano, aprende a esculpir, passa a dar mais atenção às pessoas, a contornar com delicadeza e perspicácia situações que antes ele partia pra ignorância e arrogância. Percebe que, se ele não pode buscar a própria felicidade, ele pode trazê-la a outras pessoas. Ele sabe que amanhã vai acontecer tudo novamente, que aquilo é uma felicidade efêmera, mas verdadeira para cada pessoa que ele ajuda. Isso o faz se sentir bem. Há coisas que ele não pode evitar (como a morte por velhice do mendigo, pois já era o tempo dele), mas tudo o mais ele pode alterar pra melhor, bastando ele interagir (ao contrário do começo do filme, onde ele sequer olhava para as pessoas).
Então, muito tempo depois, ele já tem os atributos necessários para conquistar o coração de Rita. E o mais interessante é que, com essa mudança interna, mudam também seus valores e prioridades. Rita se encanta com ele logo pela manhã, e o convida para um café. Mas Phil adquiriu responsabilidade: ele tem pessoas para ajudar. Rita não o vê até de noite, num baile. Phil adquire humildade: Em vez de sair contando ou mostrando suas ações pra impressioná-la, ele fica quieto. Mas a Lei do Karma se manifesta positivamente: Tudo o que se planta, se colhe, tanto as más quanto as boas ações. Todas as pessoas que ele ajudou aparecem no baile e o agradecem efusivamente. Ela passa a conhecer mais sobre o Phil através do que ele fez para aquelas pessoas (Muito mais eficiente que qualquer cascata / marmota que ele tentou anteriormente).
Ele a conquista, enfim. Mas está tão cansado que acaba dormindo nos braços dela.
Só quando ele irradiou o amor desinteressado por outras pessoas ele recebeu o amor de volta (de várias formas). E recebe o prêmio final: o fim daquele ciclo de aprendizado (e o início de novas experiências ao lado de Rita).
Nossa vida é assim mesmo. Retornamos muitas vezes a esse mundo pra aprender muitas lições, e algumas em especial. Se falharmos exatamente nesta (que é essencial para o aprendizado de outras mais, assim como aprender o básico da Matemática é um pré-requisito para estudar Física) teremos de repeti-la na próxima vida (o contexto em que virá será completamente diferente, mas a lição a ser passada será a mesma).
Por vezes nossa vida parece chata, ou você se sente a pior pessoa do mundo, a mais feia, a mais abandonada, enquanto outras pessoas parecem ter tudo de mão beijada… mas você não está só. Aquilo está sendo analisado por seus guias, só esperando o seu “estalo” (como vai se dar, só você sabe). Pode-se evoluir através da alegria ou do sofrimento.
As oportunidades na Terra são como um tesouro que precisa ser abrigado. Ele procura a sua casa, discretamente bate à porta, mas se ela se encontra fechada, então esse tesouro procura outra casa próxima para se abrigar. Mas chega uma hora em que as outras casas estão cheias, e só a sua acomodaria certos tipos de tesouros (principalmente os grandes, pesados e não muito interessantes para os outros que já guardam coisas mais refinadas; mas este é muito importante pra você, que não tem nada e possui muito espaço sobrando). Mas, como fazer algo entrar numa casa que só tem uma porta, e ela se encontra irremediavelmente fechada? É preciso bater um pouco mais forte: Se você abrir, ótimo. Se não será preciso bater com mais força, talvez gritar para chamar sua atenção. Por fim, pode ser necessário acabar derrubando a sua porta com marretadas! A primeira reação sua é reclamar “Minha porta!“, mas aí você vê o tesouro entrar, e é exatamente aquilo que você precisava o tempo todo e nem sabia! Você já nem liga pra porta quebrada, e nem lembra mais dos gritos, das marretadas.
“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”
Mateus 6:19-21
Tô aqui em 2022 rezando pra Paramont Channel reprisar o filme durante o dia todo (02/02/22) :))
Excelente sua reflexão sobre o filme, eu assisti hoje e vim procurar comentários e reflexões, este foi o primeiro blog que li e gostei muito. ❤️
Bem-vinda ao Saindo da Matrix, Ana
Happy Groundhog day!
Tô assistindo o filme agora no canal da Paramount. Feliz dia da marmota!
Oi Acid.. Tudo bem?!
já assistiu o filme No Limite do Amanhã (Edge of Tomorrow) ???
…
Quando a Terra é tomada por alienígenas, Bill Cage (Tom Cruise), relações públicas das Forças Armadas dos Estados Unidos, é obrigado a ir para a linha de frente no dia do confronto final. Inexplicavelmente ele acaba preso no tempo, condenado a reviver esta data repetidamente. A cada morte e renascimento, Cage avança e, antecipando os acontecimentos, tem a chance de mudar o curso da batalha com o apoio da guerreira Rita Vrataski (Emily Blunt).
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-185030/
Esse é um dos meus filmes preferidos! Eu não suporto rever filme, mas esse toda vez que passa na Tv (e passa muito) eu vejo nem que seja uma parte. Ontem mesmo assisti até a metade, mas já estava tarde e fui dormir.
É um filme feito sob medida pra Tom Cruise brilhar, tanto quanto em Magnólia. E a direção é perfeita, os personagens são ótimos, todos inspirados pelos Marines de Aliens, inclusive com a participação genial de Bill Paxton (um dos Marines em Aliens q grita “Game over, man!”).
Amo, amo amo esse filme.
Feitiço do Tempo vai ganhar uma série pra TV
https://www.legiaodosherois.com.br/2020/feitico-do-tempo-serie-tv.html
Sensacional, assisti o filme e não tinha reparado nessa linguagem ampla simbólica presente , mas compreendendo agora com suas palavras tornou mais enriquecedor! Gratidão
Disponha 🙂
Osama bin Laden
novo ciclo
Um vídeo que vale a pena ser visto…
Jane Fonda – O terceiro ato da vida: http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/jane_fonda_life_s_third_act.html
Nesta geração, foram adicionados à nossa esperança de vida 30 anos extras – e estes anos não são simplesmente uma nota de rodapé ou uma patologia. No TEDxWomen, Jane Fonda pergunta como podemos pensar sobre esta nova fase das nossas vidas.
Happy Groundhog Day =)
Caramba, é hj! Feliz Dia da Marmota!
O sucesso surpreendente de banda de rock mais antiga do mundo e superstars globais mais improváveis - The Zimmers – com um vocalista de 90 anos e uma idade combinada de mais de 3.000…http://bit.ly/1W1j3tn
“O essencial faz a vida valer a pena! Basta o essencial!”
🙂
Sei que o artigo já é antigo (para o tempo relativo de blogs e Internet) embora o assunto sempre esteja atualizado. Não penso que o filme foi realizado para emitir mensagens relacionadas ao conceito “reencarnação”. A propósito, eu estou aqui, neste blog, porque estou interessado em “a eterna recorrência” e “o além-homem” do livro Assim falou Zarastruta de Nietzsche e este filme, assim como, o “A insustentável leveza do ser” refletem estes assuntos. A leitura do Blog é boa.
Muito legal esse post… e eu adoro esse filme. Já o vi dezenas de vezes… é, dezenas não mas umas 5 ou 6 rs
Porém sobre a questão da reencarnação, para quem acredita ou vive, como vocês tiveram essa percepção? Como vocês souberam que existe vidas passadas/alternativas?
Ótimo texto !
Gosto muito deste filme, e não tinha analizado por este prisma( uma vida em cada dia). E sim como se ele estivesse quitando os seus karmas e evoluindo a cada dia.Porém dentro de uma mesma vida.
Acredito que para que fosse reencarnação,o personagem teria que ter uma vida diferente a cada dia, senão seria ressureição me não reencarnação.
Ele não se importou mais se nada do que vivesse fosse valer para o dia seguinte. Ele simplesmente resolveu fazer bem feito.
Pois é. Não só eu conheço o filme como sempre adorei ele. Pensava justamente nas mudanças que ocorriam com ele. Mas para ser sincera nunca tinha parado para analisar o filme dessa forma… racionalmente. Apenas o sentia, minha parte favorita? Justamente a do mendigo. é quando ele acorda.
Show de bola este texto, Acid.
Vou rever o filme.
Att.
Cris
Valeu pela dica, esse filme é ótimo mesmo!
Desculpe, mas o filme não tem nada a ver com reencarnação. Na doutrina da reencarnação, os espíritos vêm em outras vidas, com outras missões.
Este filme é nota 10! ———————– Recebi este texto por email…desconheço a autoria: ” Sobre Tempo e Jabuticabas Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicentemente, mas percebendo que faltavam poucas, roeu o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Já… Read more »
Bem isso!
A impressão que eu tive quando eu vi o filme foi que o cara estava justamente ‘pagando os pecados’. O Karma dele.
Não cheguei a assimiliar o fato de cada dia ser uma vida.
(to lendo o seu blog já tem umas 2 horas. fui chorar aqui neste post. confesso que ando meio perdido.. entrei na amorc e larguei de mão na segunda monografia..isso uns 2, 3 meses atras. tu me deu um pouco de animo agora cara. devo recomeçar meus estudos senão hoje, amanha mesmo. agradeço por isso)
AMORC ou qualquer outra coisa, o importante é estar sempre em contato com coisas que despertem nossa “consciência superior”, não a pseudo-consciência que usamos pra trabalhar, comer, respirar, jogar, etc. Engraçado que o budismo, especialmente o zen budismo, proura ativar a consciência superior através de ensinamentos e meditação justamente pra que a usemos pra trabalhar, comer, respirar, jogar, etc.
Muito bom texto, amplia consideravelmente o prisma pelo qual vemos esse filme.
O filme é ótimo … o texto do coringa melhor ainda!
Abraços Fraternos!
Caramba! Eu juro que nunca tinha dado importância pra esse filme, apesar de ter gostado bastante… muito legal. Acho que vou alugar o filme pra assistir de novo.