DEUS MÃE

Entrevista com Leonardo Boff, publicada no caderno prosa & Verso de 15 de maio (O Globo):

maria mae deus

Minha visão do Deus cristão, como Trindade, quer superar a perspectiva ocidental, fragmentada, que vê cada uma das pessoas em separado, Pai, Filho, Espírito Santo, sem ver a relação entre elas. Na realidade, o que existe é uma família divina. Para mim, não é o Filho apenas que encarna, é a família inteira que baixa. O Pai encarna em São José, o Filho em Jesus Cristo e o Espírito Santo em Maria…

No hebraico, nos livros orientais, Ruah é feminino. Em todas as línguas médio-orientais o Espírito Santo é feminino.

E a figura de Madalena é importante. Os evangelhos apócrifos, sobretudo o de Madalena e o de Filipe, falam dela como companheira de Jesus. No Brasil, esse evangelho apócrifo de Madalena, traduzido do grego, foi editado pela Ed. Vozes. Nele e no Evangelho de Filipe há uma linguagem com a qual a teologia tradicional não está habituada. Os apóstolos e Pedro dizem: “Por que você nos discrimina assim? Gosta mais de Maria Madalena do que de nós? Por que diz coisas a Madalena que não diz a nós?”. E Jesus responde: “Não, o amor que tenho por ela tenho por vocês também”. Filipe afirma que Jesus diante dos outros a beijava na boca, demonstrava grande carinho…

Acho que temos que assumir a plena humanidade de Jesus. Como o dogma cristão diz que ele é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, ele viveu a dimensão da afetividade. Só uma cultura que malicia as relações pode ver algum desvio na relação que Jesus teve com o feminino. Acredito que tenha tido uma relação muito aberta com as mulheres. Discípulas o seguiam. Ele era liberalizante. E acho que isso tem que ser apreciado por um Cristianismo que se interesse pela integração humana.

Leonardo Boff

Leia a entrevista na íntegra

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