A VACUIDADE DA CRISE ECONÔMICA… E MÃOS À OBRA!

A primeira contribuição veio justamente falando sobre crise… justo como a que está passando esse blog, então achei bastante pertinente, e automaticamente este texto foi selecionado para inaugurar esta nova fase de colaborações no site

Por Isabela Bisconcini

Outro dia conversava por email com um amigo italiano e ele disse: “esta crise já vai durando mais do que imaginava“. Algo que nas entrelinhas revelava “agora já deu, vamos parar com isso, vamos voltar ao que éramos!“… Isso me fez pensar o quanto (por mais que possamos estar acostumados a nos dizer coisas diferentes) no fundo não queremos e não estamos abertos para nos transformar de fato. Imaginamos que estamos num período difícil, mas que ali adiante as coisas retomarão o pé do jeito que eram. No fundo é assim que pensamos e é assim que queríamos que fosse. No Budismo chamamos a isso de “sofrimento da mudança”. Tudo muda o tempo todo, dependendo de causas e condições. O que resiste a mudar é a nossa criação mental que trabalha na ilusão da permanência, e por isso sofremos.

Quando vemos que a situação muda, e principalmente quando muda de forma brusca, a nossa primeira reação é a paralisação. Porque nos dizemos “vamos esperar para ver o que vai dar“, porque acreditamos que exista um caminho que existe independentemente da minha participação nele. Isso parece óbvio mas, de fato, não é. Exemplo: na economia, vemos as pessoas reclamando que a situação “parou” porque acreditamos haver um desfecho que posto e apresentado me dirá o que devo fazer… ora, isso não existe efetivamente, pois o desfecho que se apresentará (coletivamente) dependerá inclusive da minha participação e do meu gesto agora. Se eu paro, não posso atribuir o desaquecimento do mercado a algo externo que exista independentemente de mim. A questão é mais filosófica, intrincada e profunda do que parece nesta frase que pode soar simplista. Vamos um pouco mais fundo, destrinchando o argumento, puxando a raiz conceitual.

Lama Michel tem dado, quando vem ao Brasil, um curso de Filosofia Budista no qual está explicando um texto tradicional do Budismo Tibetano (os Ensinamentos sobre o Dág-Dzin Shág-Deb – o debate entre a sabedoria e a ignorância – texto do IV Panchen Lama, Losang Chokyi Guailtsen) que traz o debate entre a visão sábia e a visão ignorante a cerca dos fenômenos; o texto discute a natureza não inerente dos fenômenos, a Vacuidade. Na minha rasa e tosca compreensão da Vacuidade, e do pouco que tive a oportunidade de acompanhar dos ensinamentos, vou compartilhar, ainda que de maneira superficial, o que recebi.

Estamos habituados a enxergar os fenômenos como se eles existissem por si mesmos, independentemente de mim. Então a minha mente participa em tudo? No que me diz respeito e em como vejo, sinto, percebo e como nomeio (o significado que atribuo a) o que se me apresenta, sim. Mas é verdade que existem coisas independentemente de mim? Sim, mas para mim, neste momento, não! Mas elas existem como potencial, mesmo que eu não as esteja vendo neste momento. E o que tudo isso tem a ver com a crise econômica? Tem, que não existe uma crise “Absoluta”, estática e que seja percebida e se manifeste de forma igual para todos, o tempo todo. Não existe “A” crise econômica de forma estática, percebida igualmente por todos, o tempo todo. Nem quando dizemos que a crise “atingiu” o mundo todo… pois ela não atinge o mundo todo, da mesma forma, o tempo todo; ainda assim, cada um sentirá de uma maneira diferente, e colherá efeitos diferentes da situação vivida. Então quer dizer que a crise econômica não existe? Não! O fato exterior existe, mas como cada um o vive e o percebe não é íntrínseco e inerente à própria crise (mas é assim que pensamos e nos relacionamos com o fato). Isso significa, então, que posso fazer o raciocínio do privilégio que garante imunidade? Não! Na realidade, é bem ao contrário… Porque como o que cada um sente e vive (a maneira como cada um experiencia os fenômenos hoje) depende exclusivamente das causas e condições já previamente estabelecidas (no passado) dentro da própria mente… então, precisamos criar NOVAS causas que nos permitam experienciar os fenômenos de maneira DIFERENTE E POSITIVA, no futuro. Aaaaaaaaaaah!!!!!! Ficou claro? Mais ou menos…

Trocando em miúdos a filosofia milenar: não espere que aconteça nada de fora. É você quem cria a realidade, pelo menos a sua. A sua liberdade reside na maneira como você pode significar o que lhe acontece e não em mudar o fenômeno externo, mas se você mudar a maneira como percebe o objeto, ele seguramente mudará, já que ele não existe para você de uma forma que independa de como você o percebe. O fenômeno é vazio de existência inerente, como se diz na filosofia milenar Budista. Então não fique paralisado, pois não existe uma realidade exterior e estática, que existe independentemente de como você a percebe. Crie o seu caminho, passo a passo, a partir de agora, com gestos – ações positivas (karma quer dizer ação) de corpo, palavra e mente que espelhem, reflitam e demonstrem suas sementes específicas das qualidades, habilidades específicas e do seu melhor potencial, das suas qualidades mais maduras. Lembre-se é preciso criar novas causas, para experimentar novos efeitos. Se você quer um efeito positivo, a causa a criar deverá ser positiva.

Ou, dito de outra forma: não espere tudo mudar de fora para dentro, participe da sua própria vida criando a partir do seu melhor. Porque você já está criando o tempo todo, mesmo quando não faz nada… Então crie a partir de uma semente positiva. Pergunte-se: o que tenho de bom para oferecer? Tome a iniciativa de mostrar as sementes que você tem guardadas com seu melhor potencial. A hora é agora e o momento de fazer a mudança é SEMPRE JÁ. Mostre a cara! Diga a que veio!

Sugiro, para entender melhor este assunto, uma leitura espetacular: O Lapidador de Diamantes, de Gueshe Michael Roach.

Se está difícil pra você conseguir gerar causas e efeitos diferentes e positivos por você, para você mesmo e para os outros, talvez você precise de um apoio! Trabalhando no consultório, na prática, o que vejo é que a vida melhora infinitamente quando identificamos – e isso é uma realização emocional, orgânica e não algo como uma compreensão intelectual – as criações mentais que têm nos feito agir de maneira repetitiva, que têm nos paralisado e que quando liberadas nos põem de volta no fluxo, no movimento, descongelando-nos e liberando nosso espaço interno para criações positivas em nossas vidas.

Boa sorte! E, se precisar, pode contar comigo!

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: este artigo não pretende reduzir ensinamentos milenares, propondo uma aproximação simplista deles em tom superficial, como se fosse fast-food. Receba o conteúdo que está aqui como uma simples degustação, como uma dica para te inspirar, e vá atrás da fonte profunda de um alimento que é um banquete!

Para saber mais sobre Lama Michel e o Budismo acesse o Centro de Dharma da Paz.

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Mcnaught
Mcnaught
24 junho de 2009 5:29 pm

Cara esse artigo é muito bom. Virou um post e tanto.

Vc não esta vivendo crise de meia idade rs, pelo que vc comentou vc esta vivendo de fato os seus 18 anos hehe. Sei que é complicado, mas relax. Apenas viva, e como diz o post e vc vai ver em filosofia ja que se interessou por ela – tudo muda. A vida tem suas fases.

[]´s

Suzana Flag
Suzana Flag
12 junho de 2009 9:01 pm

Engraçado, eu me lembro de você ter dito uma vez aqui no blog que era leonino. Mas esse papo de “ser de Lua nas relações sociais” ou “simplesmente não estou a fim” parece mais coisa de canceriano rsrsrs. Anyhow… do as you wish my friend. Post whatever you want. Or don’t.
Abraços.

Waking Onion
Waking Onion
12 junho de 2009 1:48 pm

Se a sabedoria é, é no corpo saudável que se mostra a sábia mente;
Se na semente está a árvore, na árvore saudável está a semente.

Se segue o hábito, o monge é;
Se no lodo floresce, o lótus é.

Se o meio é o estar, o início e o fim é o ser;
Onde se mostra o Ser, antes e depois de viver.

Vegetarianismo, bicicleta, baixo consumo de energia elérica;
Raspar prato, separar lixo, se aprender para não estar bicho.

Munhoz
Munhoz
12 junho de 2009 10:37 am

O problema é que não temos nenhuma noção do que seja ‘Bom ou Ruim” pra nós mesmos, oque achamos ser uma coisa ruim (como acrise por exemplo)pode ser uma coisa muito boa. tenho aprendido a enxergar desta maneira, se o meu carro quebrou no meio do nada, sem socorro,já não xingo mais… agradeço a Deus por ter me livrado de um acidente mais adiante.
Abraços…

grandeluabranca
grandeluabranca
12 junho de 2009 8:34 am

… Ótimo post… despertou para mim a necessidade de parar pra pensar sobre crises não como momento de passagem, como “abalos na força”, mas como pontos de partida para novas realidades, como portais para novas realidades. Ando passando por uma fase pessoal (nada a ver com a crise mundial) que indica a urgência de pensar profundamente sobre o tal desapego, coisinha pra lá de difícil… e seu post me indicou mais uma vertente de reflexão sobre o tema. E válido lembrar mais uma vez que a única coisa que podemos modificar no mundo é nossa própria visão sobre ele, nosso… Read more »

Rose
Rose
12 junho de 2009 6:37 am

Neste texto está o fundamental da vida, a responsabilidade. Alguém me disse que quanto mais responsabilidade tiver, mais poder tenho. E poderiam interpretar “poder” como algo negativo e “responsabilidade” como algo aborrecido. Mas responsabilidade é entender que eu crio tudo o que experimento com os 5 sentidos. Disto vem a liberdade, e depois o poder genuíno. Às vezes a mudança interior para esta perceção está mesmo ao lado, mesmo a segundos de acontecer, talvez neste preciso momento. Cada coisa que eu vejo, falo, ouço, cheiro, toco, tudo o que faz parte da minha vida, não tem significado, absolutamente nenhum! Tudo… Read more »

ughi
ughi
12 junho de 2009 2:20 am

crises são foda… eu tenho só 18 anos e parece que to passando pela crise da meia idade..uehuehuehuehheehheh
to largando um curso cientifico por filosofia, a droga da insonia voltou, os instintos que me levam ao suicidio tambem (nada fora do controle,ainda) lol
imagino se fiquei meio como um personagem secundario na minha vida, mas perseguir sonhos e fugir ainda é muito mais atraente que acordar.

o que é mais real??? A realidade(matrix) ou nossos sonhos?
viajei demais por hoje. belo texto e muito util.

Longos dias e belas noites para todos.
Run forrest RUN

UI
UI
11 junho de 2009 4:40 pm

Faça um sobre brigit bardot! Ou cidadão kane, ou roberto marinho, a xuxa, o pelé! Os ursinhos carinhosos! E assim vai! Ui! Calma… só zuação!

xaxeila
xaxeila
11 junho de 2009 1:25 pm

Ai! Que coisa linda! Parece que você tirou de dentro de mim um peso, eu estava me sentindo culpada em não “me importar” com essa crise e prosseguir comprando coisa pra caramba, sem medo do futuro econômico!! Eu acredito MESMO que esta crise vi chegar aqui uma marolinha, já ‘tava com vergonha de acreditar nisso em segredo (já que todo mundo está metendo a boca no trombone para falar mal da economia do Brasil). Até que enfim alguém fez alguma coisa boa para dissipar a crise, se todos nós começarmos a desabrochar nosso potencial a crise vai embora!

Maruska
Maruska
11 junho de 2009 1:02 pm

Parece q a idéia de “crise” não só paralisa as pessoas como amedronta, aterroriza, fazendo-as se perceberem menores e indefesas.
Principalmente quando se tem a mídia e todo mundo à sua volta fazendo terrorismo e roendo as unhas presumindo qual será a próxima vítima … Quando deveríamos orientar nossa atenção para outros assuntos.

Isso me leva a querer discutir… 🙂 Até q ponto vai a veracidade da afirmação:

“O ser humano é responsável por TUDO q acontece na sua vida”.
?

Nantilde
Nantilde
11 junho de 2009 12:58 pm

Gostei muito do post. Ele fala de forma simples de um assunto bastante complexo, a questão da mudança interna, de não ficarmos presos a padrôes de comportamnetos repetitivos.Mas, posso dizer até por experiência própria que libertar-nos destes padrões só se consegue por meio de uma luta difícil e diária, uma vez que a mente foi moldada dentro destes padrões e parece apegar-se a eles. Mas, viver não é fácil mesmo, pelo menos para quem tem o hábito de analisar-se.

Holanda
Holanda
11 junho de 2009 12:23 pm

Finalmente (segunda vez) consigo ser o primeiro a comentar um post seu, mesmo sem comentar nada. Abraços ,e força neste momento difícil

Suzana Flag
Suzana Flag
12 junho de 2009 9:07 pm

Ups, comentei no post errado. E ainda com erro de grafia. Refiro-me ao posto anterior. No lugar de “anyhow” leia-se “anyway”.

Abraços again.

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