TAO: SUPÉRFLUOS

Lao Tsé; Tao Te Ching verso 53

taoteching

Se eu tivesse a sabedoria suficiente para compreender o Caminho Supremo,
Evitaria as pequenas trilhas que poderiam extraviar-me.
O Caminho Supremo é direto, mas a maioria prefere as trilhas.
Enquanto nos palácios reina a opulência,
os campos estão cheios de ervas daninhas
e os celeiros públicos vazios.
A corte corrupta se veste de ouro e roupas bordadas,
com armas afiadas na cintura.
Excessivos são os vinhos e os manjares
e acumulam enormes riquezas.
Isto se chama roubo e mentira.
Não é isto apartar-se do Tao?
Tao Te King – Trad. Albe Pavese (Ed. Madras)

Comentários de Huberto Rohden:
Dois terços da humanidade, diz um escritor, estão morrendo de fome – e um terço morre de indigestão. A humanidade ainda é dominada pelo “poder das trevas”, que leva alguns a folgar em riquezas supérfluas, e outros a gemer na miséria. Enquanto uns têm demais e outros têm de menos, não pode a terra ser o reino da felicidade.
Quem guarda em sua casa, escreve Mahatma Gandhi, objetos supérfluos que a outros fazem falta, esse é ladrão. O ego é insaciável em seus desejos; nunca diz “basta”. O conforto leva ao confortismo, e quando o confortismo culmina em confortite, está o homem no princípio do fim.
Por isto recomendam os Mestres que o homem tenha o necessário, sem desejar o supérfluo.

Comentários do Saindo da Matrix:
Diz um ditado popular: “quem muito quer, nada tem”.
Diz o Hannibal, no filme O silêncio dos Inocentes: “Nós cobiçamos o que vemos todo dia”.
Diz a Bíblia: a cobiça é um dos 7 pecados capitais.

Comentários de meu pai:
Uma das principais causa do sofrimento é o apego. Assim enfatiza o budismo. Buda alertou seu povo na sua época (cerca de 600 anos antes de Cristo) e constatamos que isso é ainda bem atual. A humanidade vive apegada a muitas coisas – muitas delas supérfluas – e por não consegui-las (ou conseguir mantê-las) sofre com sua falta. A mídia moderna e o mundo comercial vivem estimulando desejos e apegos na população, estimulam a obter objetos, posses, títulos e honrarias. Todo mundo quer ser o “Tampa”, todo mundo quer ser o melhor e o maior (e até o único), estimulados por esta mídia comercial. Como não conseguem, vem o sofrimento. Como não estão preparados para sofrer e perder, tornam-se agressivos. Tentam destruir aquilo que não conseguem, difamar, prejudicar; vivem numa sede de vingança.
O que fazer com estes pobres coitados? A grande maioria das instituições prega esta competição em busca de ser o maior e melhor – ao sucesso! – como sendo o excluir todos os outros, ser o único! e não a conviver, compartilhar, o fazer parte de um grupo, um todo composto por vários e diferentes elementos. Consciência, seria uma das soluções; Educação, o meio para se chegar lá.

Comentários de Confúcio:
Uma vez perguntaram a Confúcio:
– O que mais o surpreende na humanidade?
E ele respondeu:
– Os homens que perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido…

Abujamra declama Felicidade Realista, de Martha Medeiros
0 0 votes
Avaliação
Subscribe
Notify of
24 Comentários
Newest
Oldest Most Voted
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários
Djuly
Djuly
6 junho de 2008 2:43 pm

Estamos presos nessa teia de desejos e vontades materiais, onde tudo é imposto. Somos modelados por esse veneno desde o dia em que nascemos, e o grande desafio de nossas vidas é entender que nosso mundo não é esse, que o caminho é bem mais simples, e a felicidade está muito mais perto do que imaginamos!! Boas vibrações a todos os frequentadores desse blog. E Acid, há algum tempo tenho feito brilhantes leituras e descobertas aqui, que complementam o meu sentido de VIDA. Muito obrigado pela sua contribuição! Você é uma daquelas pessoas (como todos aqui) das quais nosso mundo… Read more »

Ui
Ui
8 junho de 2008 12:02 am

Tenho dificuldades para abraçar!

Coringa
Coringa
8 junho de 2008 5:02 pm

Ui, para abraçar basta tentar…FAÇA-O! Veja como, neste link:

http://www.youtube.com/watch?v=vr3x_RRJdd4&eurl=http://www.nossavia.com.br/comportamento/abracos-escolha-o-seu

(campanha “Free hugs“, iniciada em 2004 em Sydney, Austrália, por Juan Mann.
“Vale a pena conferir o vídeo. Um filme que apresenta uma verdadeira história que inspira humanidade e esperança. Algumas vezes um abraço é tudo que precisamos. Free Hugs é uma história real, sobre um homem que acreditava que sua missão era trazer alegria na vida das pessoas através de um abraço.”
http://www.nossavia.com.br/comportamento/abracos-escolha-o-seu

Anônimo
Anônimo
8 junho de 2008 11:26 pm

Desculpe-me, fugir do assunto mais seria possível apurar a realidade sobre a teoria da Terra Oca?

Olim
Olim
9 junho de 2008 9:33 pm
Saindo da Matrix
Saindo da Matrix
10 junho de 2008 12:13 pm

Muito bom link, Olim. Ficaria ainda melhor no post do Robert Happé. Krisnamurti fala das mesmas coisas, de forma ainda mais direta: a iluminação (ou seja, a percepção das imagens e construções mentais em nosso mundo) é o que nos levará a amar ao próximo.

(Botei lá no post alguns vídeos dele, complementam bem mesmo!)

bimbo
bimbo
9 junho de 2008 7:47 pm

Caro anônimo, a terra não é uma bolha de rocha e lava. A estrutura oca é muito instável porque a gravidade puxa tudo pro centro de massa, o planeta ia acabar quebrando. Fora que não teria como existir lava se o planeta fosse oco, precisaria de uma superfície dura e fria do lado de fora e do lado de dentro, senão a lava ia escorrer toda pro centro pela gravidade. Se tivesse uma estrutura fria do lado de dentro não teria lava acima dessa estrutura porque não tem como esfriar de dentro pra fora, só pode ter lava mais para… Read more »

Olim
Olim
10 junho de 2008 2:01 pm

Oi, Acid… Ontem deu uma vontade de assistir J. Krishnamurti, então, fui ao YouTube. E o melhor que encontrei -e que achei fantástico!- foram algumas filmagens com legendas em Espanhol… Esse último link à primeira vista não pareçe ser tão “linkado” ao tema do post, mas nos apercebermos com mais atenção tem tudo a ver. O supérfluo, assim acho, não estaria relacionado diretamente com o apego/desapego de coisas, pessoas, idéias, sentimentos… Mas sim está inculcado e sedimentado em nosso modo de pensar e, conseqüentemente, de se relacionar. Creio que os supérfluos tenham uma íntima relação com as imagens/impressões (já aceitas… Read more »

Coringa
Coringa
10 junho de 2008 2:26 pm

Tb gostei da indicação, Olim. E concordo tb com este último comentário seu. Vejo inclusive, direta associação das palavras de Krishnamurti com o conceito deste blog que frequentamos, ou seja, o ‘sair da matrix’!

Abraços 🙂

Anônimo
Anônimo
6 novembro de 2008 12:35 pm

Cirurgia de lipoaspiração? Pelo amor de Deus, eu não quero usar nada de ninguém, nem falar do que não sei, nem procurar culpados, nem acusar ou apontar pessoas, mas ninguém está percebendo que toda essa busca insana pela estética ideal é muito menos lipo-as e muito mais piração? Uma coisa é saúde outra é obsessão. O mundo pirou, enlouqueceu. Hoje, Deus é auto imagem. Religião é dieta. Fé, só na estética. Ritual é malhação. Amor é cafona, sinceridade é careta, pudor é ridículo, sentimento é bobagem. Gordura é pecado mortal. Ruga é contravenção. Roubar pode, envelhecer, não. Estria é caso… Read more »

Anônimo
Anônimo
30 setembro de 2012 8:54 pm

Mark Boyle – O Guaco from England 😛

Será mesmo possível viver sem dinheiro? Conheça o caso de Mark Boyle, fundador de Freeconomy.

Desconfiamos que não. E por isso entrevistamos Mark Boyle.

A conclusão: viver sem dinheiro afinal é possível. Pelo menos para este autor, economista e ex-empresário que optou pelo “back to basics”…

Matéria- http://bit.ly/V3qhfZ

Site de Mark Boyle: http://justfortheloveofit.org/

Amiko
Amiko
7 junho de 2008 6:11 pm

Boa noite a todos….
é só o link de um texto que achei interessante, sobre a fome no mundo, nada supérfluo….

Me fez lembrar aquela piadinha antiga, onde mostra a opinião dos otimistas e dos pecimistas em relação aos problemas atuais:

Otimistas – acham que se tudo continuar como esta, o povo vai acabar é comendo bosta…

Pessimistas – Já acham que a bosta não vai dar pra todo mundo….

http://www.itis.com.br/brasil/agricultura.htm

Saindo da Matrix
Saindo da Matrix
7 junho de 2008 1:12 am

Eu ainda quero meu Iphone!!!

Sanches
Sanches
6 junho de 2008 5:55 pm

O comentário do seu pai é bem parecido com a conclusão que eu cheguei pensando sobre um tema semelhante.

Hoje em dia somos treinados, já desde crianças, a ver o próximo como concorrente, tudo é uma grande competição.

Bruno H
Bruno H
6 junho de 2008 6:07 pm

Eu mesmo, nunnnca desejaria uma TV LCD 32′. Eu estaria muito perto do fim com minha confortite : )

Roger
Roger
6 junho de 2008 6:40 pm

hj é meu aniversario,senti a evidencia do meu apego aos dias,objetos,pessoas e ao tempo.Nao ganhei nenhum presente,estou só…me sinto mal…

Olim
Olim
6 junho de 2008 7:09 pm

Roger: Que legal que faça aniversário na mesma data que minha esposa… Só não tão legal pelo que sente por estar só. Acho que grande parte das pessoas tem passado um niver meio solitário… Pessoalmente quase todos meus aniversários foram desse tipo, por morar e trabalhar sempre longe da família e amigos. Presentes? Só alguns raros cartôes, que às vezes chegavam bem depois da minha data…heheh Bom, uma vez contei aqui no SDM um aniversário meio-raro que se passou comigo… Estava só, longe de todos, trabalhando… À tarde resolvi sair e, do nada, vejo alguém cantar a cançao de aniversário… Read more »

Bono
Bono
7 junho de 2008 8:37 am

Como dizem, nosso mundo está de cabeça para baixo, o essêncial é supérfluo, o suplérfluo é essêncial.

Mas aqui parece que Lao Tsé está falando mais é sobre a corrupção dos líderes políticos, no Brasil por exemplo eles roubam bilhões da população, imagina quantas pessoas morreram ou sofrem miséria por causa da corrupção deles.

Coringa
Coringa
6 junho de 2008 8:46 pm

…hmmm, creio que seremos obrigados a pensar sobre esta questão – dos supérfluos – cada vez mais…se não pelo bom senso, será por duras ‘cobranças’ da natureza, por nossos excessos.

Aritme
Aritme
6 junho de 2008 9:49 pm

Além de nos corroer, o excesso de bens materiais nos aprisiona. O mundo deixa de ser portatil quando temos muito mais do que podemos carregar nas costas.

Abraço a todos.

Chantinon
Chantinon
6 junho de 2008 9:52 pm

Levei 1 ano para ler “A arte da Guerra”. Eu sempre me prendia a cada trecho…
E acredito que é muito mais voltado ao humanismo que a guerra.
Eis o grande problema… Quem nos lidera só consegue enxergar o poder, e temo eu, que boa parte dos humanos sejam ruins ou cegos na essência.

Isa
Isa
6 junho de 2008 9:54 pm

A história do aniversário, do menino cantando no outro lado da rua, me lembrou que faz umas 2 semanas, eu andava meio desanimada da vida. Uma sexta-feira cedo saí para caminhar, e numa rua deserta, cruzei com uma senhora na calçada, ela se dirigiu a mim e disse “Que Deus te abençoe”, de uma maneira enérgica. Fiquei contente e um pouco emocionada. No sábado de manhã, me vesti um pouco melhor que de costume, não sei porque, pois não ia sair. Às 10 horas, ouvi uma música vinda da rua, fui olhar no portão, era uma caminhada das crianças com… Read more »

Humberto Luiz Dall'Oglio Zasso
Humberto Luiz Dall'Oglio Zasso
6 junho de 2008 11:52 pm

Excelente post, vivemos na geração Coca-Cola, a juventude é uma propaganda de refrigerantes.. A mídia, a moda… são ilusões da matrix, e muitas pessoas se perdem nesse labirinto, e não procuram a essência, o que realmente importa! Esse abimos social em que vivemos, é terrivel enquanto uns tem demais, outros tem de menos.. em todos sentidos.. temos que se esforçar pra essa diferença toda diminuir, até acabar (utopia), cada um tem que fazer sua parte. A felicidade é um estado de consciência, e muito simples! Dê valor aos seus amigos, a sua familia, a humanidade, aos animais, a natureza.. e… Read more »

Anônimo
Anônimo
30 setembro de 2012 10:21 pm

O olhar surrealista sobre o consumismo em “Little Otik”: Ligado ao movimento surrealista desde a década de 1970, Svankmajer oferece um olhar carregado de humor negro sobre uma cultura de consumo baseado na regressão infantil à compulsão e voracidade oral onde objetos assumem dimensões fetichistas e mágicas ganhando vida própria, e nos prometendo a redenção das frustrações. O olhar surrealista de Svankmajer questiona: estaria nessa verdadeira cultura da devoração do outro a origem das guerras, desigualdades e terrorismo do mundo contemporâneo? Se o fetichismo do consumo promovido pela mídia e publicidade substitui ou, no mínimo, faz a mediação das relações… Read more »

Posts Relacionados

Comece a digitar sua pesquisa acima e pressione Enter para pesquisar. Pressione ESC para cancelar.