O RESGATE DO SOLDADO RYAN

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O Resgate do Soldado Ryan é uma das melhores experiências sensoriais que o cinema já me proporcionou. Ele simplesmente não foi feito para a sala de estar. A história é chata, em nenhum momento convence que 8 soldados arriscariam a vida por um Matt Damon perdido no meio da guerra, mas a representação fiel das batalhas foi o que garantiu que este filme entrasse para a história logo nos primeiros minutos, o que também garantiu que Spielberg ganhasse o Oscar de melhor direção. E disso Spielberg entende: ele cresceu ouvindo as histórias do pai, e portanto o tema de seu primeiro filme caseiro (feito em Super 8) seria um só: 2ª guerra mundial, com direito a aviões, jipes e explosões, engenhosamente feitas com sacos de areia!

Esse menino talentoso cresceu, se tornou o diretor mais querido e famoso do mundo, e agora podia filmar sua versão da guerra com os mais modernos efeitos que o cinema poderia proporcionar. E ele o fez!

O Resgate do Soldado Ryan começa com a bandeira dos EUA tremulando, lívida e modorrenta. Somos apresentados ao cemitério e ao dramalhão do filme (que eu não gosto). Mas logo somos apresentados aos 20 minutos mais espetaculares da história do cinema. Ainda me lembro da minha reação quando a porta do barco se abriu. Eu não esperava aquilo. Ninguém esperava aquilo, ainda mais de um Spielberg! A partir daí foi uma montanha-russa onde por vezes eu me abaixava atrás das poltronas (juro!) e acompanhava com a cabeça o zunido das balas tracejantes (que pareciam passar a poucos centímetros!).

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Não pensem que foi fácil fazer aquelas cenas, que apresentam um aspecto “sujo”, grosseiro e tremido, como os documentários de época. Cada movimento de câmera foi planejado à exaustão, para criar um link entre as cenas e a platéia. As lentes e a velocidade do filme foram alteradas para se assemelhar às das antigas filmadoras (com ocasionais entradas excessivas de luz, como na cena das chamas na casa-mata), e as cores foram esmaecidas no computador. Os efeitos sonoros foram elevados a um novo patamar, fazendo muita gente comprar um home theater só por causa desse filme. A primeira versão em DVD foi bem básica, trouxe um mini-documentário sobre o que inspirou Spielberg a fazer o filme, som Dolby 5.1 e só. Mais recentemente, saiu uma versão dupla, onde a única diferença é que o mini-documentário ficou no disco 2 e agora temos som DTS 5.1, que é um pouco melhor (principalmente nos graves). Em junho deste ano saiu a versão comemorativa do desembarque da Normandia, onde temos mais extras. Neles, aprendemos que os atores tiveram de passar semanas num campo de treinamento com um ex-general da segunda guerra, onde dormiam em barracas, comiam as rações dos soldados na época, aprendiam a montar e desmontar um fuzil no escuro e só eram chamados pelos nomes dos personagens.

A cena que mais me encanta no filme é quando tocam Edith Piaf no meio da cidade francesa abandonada, com sua voz melancólica ecoando pelo alto-falante através dos escombros. E logo depois surgem os tanques de guerra alemães, as armas mais terríveis de Hitler apoiadas pela elite das tropas germânicas, a SS. Os alemães costumavam deixar seus tanques com pouco ou nenhum óleo nas engrenagens das esteiras, para fazer aquele barulho terrível, o “som da morte”, que aterrorizava as tropas inimigas (e que, no cinema, me arrepiou dos pés à cabeça).

Algo que me chamou a atenção foi o lançamento de morteiros com a mão. Tive a oportunidade de perguntar a um soldado do exército se aquilo era possível, e ele disse que não. O morteiro tem um dispositivo de armação por deslocamento de ar, mas é preciso um GRANDE deslocamento de ar para ativá-lo (batendo no chão não ativa, tanto é que no exército eles usam um fuzil FAL disparando ar comprimido para atirar). Não é a primeira vez que Spielberg subverte a realidade pra dar mais emoção aos seus filmes. Em Tubarão, o roteirista disse que era impossível a garrafa de ar comprimido explodir daquele jeito, mas aí Spielberg retrucou: “Se eu conseguir botar a platéia na minha mão com o filme, eles acreditarão em qualquer coisa que eu colocar lá”.

Ele tem razão…

PS: Quando Soldado Ryan foi lançado, em 1999, eu e Ribamar fizemos uma paródia com as fotos disponíveis. Puro besteirol.

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Ricardo
Ricardo
4 março de 2023 4:18 am

Concordo contigo na parte em que diz que o filme é chato e a premissa dele é inverossímil. Eu detestei o filme. Na hora em que o Matt Damon se recusa a ir embora e o batalhão fica lá com ele, eu passei a torcer para que todos morressem. Uma palhaçada de roteiro. Péssimo. Ridículo. E aí não tem cena de 20 minutos que faça o filme ficar bom. Foi o pior filme vencedor do oscar de todos os tempos. Uma merda.

billy shears
billy shears
23 outubro de 2008 11:45 pm

Bastante criativa e engraçada a sua fase de besteirol…rs

Quanto ao filme, também fiquei meio que paralisado diante das cenas iniciais, que com certeza entrou para a história do cinema. Tecnicamente é um filme irrepreensível, porém, não possui o roteiro e as idéias bem construídas de “Além da Linha Vermelha”.

Outro filme de guerra também bem dirigido foi “Falcão Negro em Perigo”. A cena dos helicópteros saindo do QG, ao som da música do Faith No More, ficou emocionante.

Espero que um dia estas imagens só se dêem na ficção…

Dudu
Dudu
24 outubro de 2008 3:06 pm

Muito bom esse coment kra..

Você tem algum link para download do filme ai?
vlws

elli
elli
9 novembro de 2008 9:33 pm

não sei se vc já jogou medal of honor… é produzido por steven tbem, e tem uma cena identica a invasão… vc escuta as balas suzindo exatamente igual, a diferença é q vc tá no meio da guerra e morre várias vzes até descobrir o macete…

Alemac
Alemac
10 novembro de 2008 11:53 pm

Acid, depois desse filme, se dedicaram a uma série que ficou famosa mas nunca passou por essas bandas, chamada Band Of Brothers… são 13 horas de filmes com a qualidade vista no Resgate do Soldado R……. aproveitaram até o grande set que tinham feito pro filme. Eu tenho o box original, pois adoro filmes sobre a segunda guerra. Mas você deve conhecer esse também, né?.. rsrsrs. Elli, Medal Of Honor não foi produzido por ele, no máximo ele deu uns palpites na produção do games, até disso eu duvido até hojem, foi mais jogada de marketing mesmo. Mas o jogo… Read more »

Saindo da Matrix
Saindo da Matrix
11 novembro de 2008 11:24 am

Conheço sim, tanto o Medal of Honor quanto o band of brothers (esse ultimo tenho em alta definição. O som é fantástico!). Agora Spielberg a Tom Hanks estão filmando algo sobre a guerra no pacífico.

Francisco Mesquita
Francisco Mesquita
13 novembro de 2008 7:21 pm

Esqueceram da cena em que os soldados estão no meio dos escombros ouvindo Edith Piaf… magnifíco.

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