QUASE

Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão de um quase!
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna.
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos “bom dia”, quase que sussurrados.
Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor. Mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Para os erros há perdão, para os fracassos, chance, para os amores impossíveis, tempo.

De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você.

Gaste mais horas realizando que sonhando…
Fazendo que planejando…
Vivendo que esperando…
Porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

(Autoria atribuída a Luís Fernando Veríssimo, mas que ele mesmo diz ser de Sarah Westphal Batista da Silva, em sua coluna do dia 31 de março de 2005, do jornal O Globo)

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Anônimo
Anônimo
9 janeiro de 2010 6:59 pm

Comentários da época: Muita coisa atribuída ao Veríssimo circula na Net. Mesmo esse texto foge um pouco ao seu estilo, porém, independente disso, sempre achei que o Veríssimo fosse um verdadeiro “contatado”… Rufus Me causou espanto ver esse texto (que eu já tinha recebido por e-mail) no teu site, sem nenhum comentário pessoal a respeito, já que você segue Buda, que pregava justamente o caminho do meio… SuperSimpson Acho que os textos que “passam” por nossas mãos sempre servem como sinal (is) a alguém, mesmo q não saibamos quem. Isso lembrou Apocalipse 3:16? Ka O começo e sempre mais difícil.… Read more »

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