Andar por qualquer país ouvindo a voz das pessoas do local é essencial pra curtir o clima, se sentir parte da cidade. Mas depois de uma semana isso já não tem mais o mesmo apelo. É aí que entra a musica. A música ativa camadas emocionais que podem transformar a realidade, como bem sabemos quando vemos filmes com e sem a trilha sonora. Em Paris os cidadãos usam fones de ouvido direto; no metrô, na rua, nos parques… Então, após a experiência turística de viver a língua francesa, recomendo a experiência de viver Paris como os parisienses: com um fone de ouvido decente.
Por 2 anos andei por Paris com fones de ouvido e numa noite descobri por acaso uma coisa fantástica: estava andando pelo corredor Richelieu, do lado de fora do Museu do Louvre, e estava tocando no fone uma música de Actraiser 2 enquanto passava diante da galeria de estátuas, e a mescla imagem/música resultou num orgasmo sensorial de rara beleza e o qual jamais esquecerei na vida. Foi justamente uma experiência dessas que me ligou emocionalmente a Paris, em 2012, quando estava em cima de um ônibus de turismo e tocou “Paris en Colère“, uma música que eu nunca tinha ouvido, mas que casava com perfeição com o cenário que se descortinava diante de meus olhos (Opera Garnier e suas ruas em torno).
Eu achava que tal experiência com o headphone tinha sido um belo acidente e que jamais aconteceria de novo, mas ao voltar ao Brasil e começar a ouvir algumas músicas percebi que me vinham à cabeça imagens de Paris, e pensei “hummm, isso pode casar perfeitamente”. Então preparei uma playlist e fui visitar a cidade-luz já com essa intenção, testando certas músicas em determinados lugares e testando algumas diferentes no mesmo lugar. O resultado é uma compilação de musicas que – pelo menos no meu caso – transforma a realidade ao redor para algo tirado de um filme ou mesmo de uma experiência espiritual. As fotos que acompanham foram tiradas por mim.
Qualquer canto de Paris
Idealmente eu ouvi essa música executada por Roy Gerson, mas o Youtube bloqueou ela no mundo todo, então vai a versão do Philippe DuBois, pra você se sentir dentro do filme Meia Noite em Paris, de Woody Allen:
Paris em movimento (dia)
Via moto, carro, ônibus ou bicicleta, preferencialmente pelas ruas da Madeleine e do Opera Garnier:
Num dia mais nublado, num pôr-do-Sol, ou à noite:
Chatelet (noite)
Caminhe olhando os barzinhos e apreciando a vida noturna:
Champs-Élysées (dia)
Esse lugar é uma Paris que os parisienses abandonaram para os turistas, e a música reflete um pouco esse sentimento, de ser algo icônico, com ter o Arco do Triunfo logo à frente, mas com o pano de fundo frenético do comércio, capitalismo, miséria e cinismo, tudo no mesmo lugar.
Pontes de Paris (pôr do Sol)
Também pode ser na Quai de la Tournelle:
Pontes de Paris (noite)
Ideal pra uma despedida de Paris; só não se jogue no Sena!
Dentro da Notre Dame
A Catedral Notre Dame sempre foi o meu refúgio para quando queria descansar das andadas ou botar a cabeça no lugar. Não à toa tive várias experiências interessantes com música dentro dela:
Fora da Notre Dame (noite)
Estar do lado de fora da Notre Dame é estar olhando para o coração de Paris. Um local imortalizado na obra de Victor Hugo Notre-Dame de Paris (mais conhecido como O Corcunda de Notre-Dame). Em toda a França se tornou muito popular o musical de 1998 de mesmo nome, e a música “Belle” se tornou um dos maiores sucessos musicais que o país já viu. Ouvi-la do lado de fora da Notre Dame é se conectar com um pedaço da alma francesa no tempo, tanto literária como musicalmente. É também meditar sobre toda a tragédia humana que desfilou por aquele lugar, representados na figura dos personagens.
Hotel de Ville (dia)
Você está agora no cérebro de Paris. O lugar que deu origem à cidade, onde os barcos descarregavam suas mercadorias, a Place de Grève (Praça do cascalho, que cobria tudo aquilo), que deu origem ao nome “Greve”, e também o lugar onde se viu a primeira execução por guilhotina. A música captura toda a imponência atual em estilo épico, mas também um pouco sombria:
Place de la Republique
Caminhe pela calçada em torno da praça enquanto observa a estátua da República por todos os ângulos.
Sainte-Chapelle
Provavelmente a mais linda coleção de vitrais de toda a Europa, Sainte-Chapelle merece ser descoberta aos poucos. Por isso, comece a ouvir ainda do lado de fora, entre com 1 minuto de música, olhe todo o piso, quando a música estiver em 7:10 suba pro primeiro andar e você terá quase 2 minutos de puro delírio visual e sonoro:
Belleville
Ao anoitecer ou num dia chuvoso Belleville se transforma num cenário do filme Blade Runner:
Praça de estátuas do Louvre
Este é o local onde ficam as estátuas greco/romanas do Louvre. Elas podem ser vistas sem precisar pagar pra entrar no Museu, através de um vidro no corredor do Pavillion Richelieu. Foi esta combinação que me surpreendeu e me fez fazer playlists pra Paris. O fato é que quase todas as músicas do jogo Actraiser 2 caem bem com essa praça:
Parmentier e Oberkampf
Pra sair num dia nublado de inverno ou num fim de semana à noite de verão. Esse tipo de música eletrônica está no DNA do parisiense, desde Jean Michel Jarre nos anos 60/80, chegando ao Daft Punk e outros:
Saint-Étienne-du-Mont (interior)
Esta é a Igreja onde o rapaz do filme Meia noite em Paris esperava o carro pra voltar no tempo. Dentro dela tem um maravilhoso órgão de cano que combina demais com essa música:
Dentro do metrô
O tipo de experiência que só quem jogou Final Fight ou outros jogos de luta vai curtir. Procure um metrô mais barra pesada, como a linha 13 à noite, bote essa música pra tocar e tente sobreviver sem ter armas ou comida espalhada pelo chão: