MIRDAD: O PODER DA VONTADE

Por Mikhail Naimy; O Livro de Mirdad

Vós escolheis o vosso nascimento e a vossa morte, a hora, o local e o modo, não obstante a vossa memória caprichosa, que não é mais do que um emaranhado de falsidades, cheia de buracos e de brechas enormes.

Assim como as gotas de chuva se reúnem nas fontes; e as fontes fluem para se transformarem em riachos, e os riachos em ribeirões; assim como os ribeirões se oferecem como afluentes dos rios maiores e estes, por sua vez, levam as suas águas ao mar, e o mar se junta ao Grande Oceano – assim cada vontade de cada criatura, inanimada ou animada, flui como tributária da Vontade Total.

MIRDAD: O PODER DA VONTADE

Em verdade vos digo, que tudo tem Vontade. Mesmo a pedra, aparentemente tão surda e muda e sem vida, não é isenta de Vontade. Se assim fosse, ela em nada influiria, e nada a afetaria. A sua consciência de querer e de ser poderá diferir da do homem, em grau, porém, não em substância.

De quanto, com referência à vida de um só dia, podereis afirmar que sois conscientes? De uma parte insignificante, na realidade. Se vós, dotados de cérebro, memória e meios de registrar emoções e pensamentos, ainda sois inconscientes da maior parte da vida de um único dia, porque vos admirais de que uma pedra seja inconsciente de sua vida e sua vontade? E assim como viveis e vos moveis quase inconscientes de que estais vivendo e vos movendo, assim também quereis, sem terdes consciência de que estais querendo; mas a Vontade Total é consciente da vossa inconsciência e da de toda criatura no Universo. Ao se redistribuir a si mesma, como sói suceder a todo instante do Tempo, e em todos os pontos do Espaço, a Vontade Total dá a cada homem e a cada coisa aquilo de que ele ou ela desejaram, nem mais nem menos, quer o tenham querido, conscientemente, ou não. Os homens, porém, não o sabendo, surpreendem-se freqüentemente com o que lhes toca da sacola da Vontade Total, que tudo contém; e os homens protestam, abatidos, desanimados, e culpam os caprichos do Destino.

Não é o Destino, ó monges, que é caprichoso; pois Destino não é mais que outro nome da Vontade Total. É a vontade do Homem que ainda é muito caprichosa, muito instável e muito incerta no seu curso: hoje corre para o oriente e amanhã para o ocidente; aqui marca isto como sendo bom, e ali decreta que é mau; agora aceita um homem como amigo, e mais tarde o combate como inimigo.

Vossa vontade não deve ser caprichosa, meus Companheiros. Lembrai-vos de que todas as nossas relações com as coisas e os homens são determinadas pelo que quereis deles e pelo que eles querem de vós.

Portanto, já antes vos disse e agora torno a dizer: Tomai cuidado de como respirais, de como falais, do que desejais, do que pensais e fazeis. Porque a vossa vontade está escondida em cada respiração, em cada palavra, em cada desejo, em cada pensamento e em cada ação. E o que está oculto para vós será sempre manifesto à Vontade Total.

Querei de todos os seres e de todas as coisas o seu amor; pois somente com ele serão levantados vossos véus e a Compreensão nascerá em vosso coração, iniciando-se assim a vossa vontade nos profundos mistérios da Vontade Total. Enquanto não chegardes a ser conscientes de todas as coisas não podereis ser conscientes da vontade delas em vós, nem de vossa vontade nelas. E enquanto não conhecerdes os mistérios da Vontade Total não deveis estabelecer a vossa contra ela; pois certamente sereis vencidos. Saireis de cada encontro feridos e embriagados de fel; e buscareis vingar-vos somente para acrescentardes mais ferimentos aos antigos e fazer transbordar a vossa taça de fel.

Em verdade vos digo, aceitai a Vontade Total, se quereis transformar a derrota em vitória. Aceitai, sem murmurar, todas as coisas que de sua misteriosa sacola caírem sobre vós; aceitai com gratidão, convencidos de que são a vossa parte, justa e perfeita, da Vontade Total. Aceitai-as com vontade de compreender o seu valor e o seu significado. E quando conseguirdes compreender os caminhos ocultos de vossa própria vontade, tereis compreendido a Vontade Total. Aceitai o que não sabeis, e talvez isso vos permita vir a saber. Voltai-vos contra o que ignorais, e continuareis a ter ante vós um enigma irritante.

Deixai que a vossa vontade seja serva da Vontade Total até que a Compreensão torne a Vontade Total serva da vossa vontade.

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