AVATAR

Numa época em que os grandes estúdios só pensam em sequências, livros de sucesso ou remakes, é altamente refrescante ir ao cinema e ver um novo conceito. Aconteceu isso com Distrito 9 (pra mim o melhor filme do ano) e agora com Avatar, do diretor James Cameron.

avatar poster

Enquanto Distrito 9 pegou os fãs de ficção científica pelo estômago com situações nunca antes exploradas e um roteiro onde tudo podia acontecer (e acontecia), Avatar aposta numa história arquetipicamente consagrada (Pocahontas, Dança com Lobos) mas nos trazendo uma nova EXPERIÊNCIA visual. Cinema é arte, e a arte pode se expressar de várias maneiras: uma história inesquecível, um visual revolucionário, evocando um sentimento, ou nos brindando com um espetáculo. Jurassic Park não é lembrado pelo seu roteiro, e sim pela experiência de ir ao cinema e se deslumbrar com dinossauros “reais”. Da mesma forma Avatar não será lembrado por sua história, mas sim pela primeira experiência 3D COMPLETA, e por estabelecer um novo patamar de CGI que torna todos os outros filmes um pouco toscos em comparação.

Confesso que fiquei com muito medo de ver esse filme. Vinha acompanhando-o desde que Cameron anunciou que ia fazê-lo (há uns 4 anos) e todo o hype que o cercou (que ia revolucionar o cinema, que ia mudar o jeito de se fazer filmes, etc) até as primeiras imagens e o fatídico trailer. Cameron, ao lado de Spielberg, é um dos meus diretores favoritos. Os caras sabem TUDO sobre como prender o espectador e guiá-lo para um mundo de aventuras. Mas confesso que o trailer me morgou. Pelo que vi ali parecia uma história açucarada, tipo Titanic, com bichinhos que são o cruzamento de Smurfs com Thundercats. As cores não me convenceram. Tudo colorido demais, cartoon demais, 3D demais… pra alguém que jogou Crysis e se encantou com a floresta em 3D processada pelo MEU computador EM CASA, aquilo ali me pareceu beeem fraquinho. Pensei “será que Cameron perdeu a mão? Será que depois do sucesso de Titanic ele resolveu fazer um filme só pra garotas? Será que ele virou George Lucas e se encantou com seus brinquedinhos e acha que vai impressionar a geração videogame com CGI gratuito?” Enfim, quem fez o trailer merecia ser demitido.

Havia ainda um fio de esperança em mim, de que o diretor de Aliens e Exterminador do Futuro não me deixaria na mão. O filme foi feito pra ser visto em 3D, e até então eu só tinha visto imagens e vídeos 2D. Talvez o filme só “exista” em 3D, pensei… e não me decepcionei.

AVATAR É FANTÁSTICO! Uma experiência de tirar o fôlego e que nos fazer esquecer que tudo aquilo é computação gráfica. O filme é uma experiência, mais do que um jornada. É uma expedição a um novo mundo, no caso, ao planeta Pandora. A primeira metade do filme é a mais fraca, por conta disso. Era preciso criar um elo entre o planeta e a platéia, porque isso é relevante no final. Então o filme se assemelha a um (bom) documentário da Discovery ou National Geographic, mas, por ser em 3D, a experiência (vou ficar repetindo essa palavra) realmente ganha novos contornos, pois é algo nunca antes visto no cinema. O planeta Pandora é VIVO, um personagem por si só, magnificamente concebido e apresentado a nós em detalhes. A essa altura você deve estar se perguntando “peraí, e aquele visual cartoon, bonecos em 3D fake, a floresta Crysis do trailer?” É aí que entrou o fator 3D. Ou, mais precisamente, o fator ÓCULOS 3D.

Pra quem nunca foi num novo cinema 3D (muita gente) pode ficar pensando que ainda se usam aqueles óculos coloridos de celofane, mas não é nada disso. A tecnologia evoluiu, e agora se usam óculos com lentes polarizadas. A limitação desses novos óculos é que esse efeito 3D é conseguido mais facilmente com pouca luz (ainda por conta da limitação de nossos olhos). Por isso os óculos 3D são escuros. Existem 3 modelos:

  • RealD: óculos passivos polarizados circularmente. Adotado pelo Cinemark.
  • Dolby3D: óculos passivos com filtros de cores. Adotados pela Playarte e nos UCI Kinoplex.
  • XpanD: óculos ativos de LCD. Adotado pela rede Box Cinemas.

Foi com este último que assisti a Avatar. Eles são o que há de mais moderno em 3D. Um feixe de luz invisível (acho que infravermelho) é jogado na sua cara e sincroniza com os óculos pra apagar uma das lentes (esquerda ou direita, alternadamente) em sincronia com o filme. Isso acontece 100 vezes por segundo e nós não percebemos, por conta das limitações do olho humano (a mesma que nos permite ver filmes com 24 cenas projetadas por segundo). O resultado é que vemos numa fração de segundo o personagem um pouquinho pra direita, noutra um pouquinho pra esquerda, e nosso cérebro junta isso e nos dá uma imagem 3D “REAL” (igual ao efeito 3D que nós vemos no dia-a-dia, que é a soma da imagem dos nossos dois olhos). Infelizmente a rede Box de Pernambuco é muito eficiente pra cobrar o preço altíssimos dos ingressos, com a desculpa de que eles fazem a manutenção dos óculos, mas eles vêm com a lente TOTALMENTE engordurada. Por mais que se tente limpar na camisa, a gordura não sai. E dezenas de outras tentativas dos clientes (usando sabe-se lá o que) acabam arranhando a lente! Isso é uma vergonha, pois não há o mínimo de cuidado com um óculos que custa 50 dólares por parte da empresa! Como ela espera que o cliente veja o filme com a luz distorcida por conta da gordura na cara e não tente limpar???

Voltando ao filme, a genialidade técnica de James Cameron foi usar a lente escura do óculos como uma aliada, ao invés de um estorvo. A fotografia do filme foi propositalmente “estourada” nos brancos e com a cor saturada, pra que fique legal com o óculos. E fica. Na verdade é a mágica do filme, usar os óculos, porque tira MUITO da cor “azul smurf” dos Navis e um pouco dos detalhes hiper-realistas (que, ironicamente, nosso cérebro interpreta como algo falso) da computação gráfica, e eles se parecem mais com algo crível, algo que está sendo filmado num ambiente real, com ATMOSFERA.

avatar saturation
Simulação da imagem de Avatar com e sem óculos 3D

Atmosfera é algo essencial pra compor um filme, e é o que separa as “crianças” dos “adultos”. Já vimos muitos filmes de guerra no passado, filmado com cores vibrantes e imagens perfeitas, mas o que ficou pra história foi o desembarque de O Resgate do Soldado Ryan, onde Spielberg (junto com o diretor de fotografia Janus Kaminsky) degradou propositalmente a imagem pra deixá-la “lavada”, e com frames A MENOS pra parecer com velhos documentários de guerra. Na computação gráfica a atmosfera foi usada com perfeição em Distrito 9, onde os aliens CG se mesclam perfeitamente com o ambiente graças a uma perfeita degradação da imagem pra parecer que eles estão sob o sol da África do Sul (muito diferente de Transformers, que foi feito com tecnologia de ponta, mas sem “alma”).

Então, em Avatar a atmosfera SÓ é propriamente criada ao utilizar o óculos 3D, o que me deixa preocupado com a versão 2D (que é a maioria esmagadora nos cinemas) que, pelo visto no trailer da internet, carece de um ajuste desses. O que me faz pensar: será que James Cameron, SE pudesse, colocaria todo aquele azul vibrante na pele de seus Navis em 3D, assim como está no 2D? Porque pra mim isso estragaria mais da metade da experiência do filme.

Voltando a história (minha mente funciona em looongos parênteses), não pude deixar de perceber que Cameron usou da mesma fórmula de sucesso em Titanic: um cara de outra “classe social” vai parar em uma grandiosa viagem por conta do destino e se apaixona por uma garota que está comprometida com outro cara (que vai ser seu rival), enquanto fazemos um maravilhoso tour pelo “ambiente” e depois temos a ação non-stop de cair o queixo. Escrito assim pode parecer uma fórmula batida, mas Cameron SABE contar uma história como poucos, e o faz de forma que você estará íntimo do planeta Pandora e seus personagens, e nem lembrará de Jack Dawson na segunda metade, quando o mundo vira de pernas pro ar.

É nessa hora que os 300 milhões de dólares que o filme custou são colocados em bom uso. É um deleite visual pra geração Star Wars, que curtiu Aliens e se decepcionou com A ameaça Fantasma. ISSO é o que A ameaça Fantasma devia ter sido: uma revolução nos efeitos visuais a serviço da ação na tela. O cara não só fez uma batalha épica em 3D com Mechawarriors e máquinas voadoras, como escolheu ângulos e tomadas que realmente valorizam o efeito, em vez de apenas jogar coisas na sua cara, como os outros filmes em 3D fazem. Só tem realmente UMA cena em que um objeto voa na sua direção, e isso diz muito da segurança com que James Cameron tocou o projeto, valorizando a PROFUNDIDADE das cenas e o envolvimento da platéia, em vez de tentar assustá-la ou brincar com ela.

Enfim, o recado está dado: Avatar é um ótimo entretenimento, uma maravilhosa experiência, mas só em 3D.

Não posso terminar este post sem mencionar a frase do site Omelete que define tudo isso:

Com Avatar, James Cameron deixa de ser Rei de um Mundo para se tornar Deus de seu próprio planeta.

Érico Borgo
james cameron

Referência:
Artigo sobre como evoluíram as tecnologias digitais do cinema;
Crítica do Toca do Lobo;
Crítica do Cinema em Cena;
Resenha com a simbologia do filme, por Anoitan;
Resenha do prof. Prof. João Valente de Miranda

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Titanico
Titanico
21 dezembro de 2009 9:22 am

Fala Acid, beleza? Qdo li a reportagem do omelete na semana passada, fiquei justamente pensando na frase que vc citou… Mudando: eu não sabia que as lentes do Box eram as melhores… em uma única vez que assisti 3D lá (era do gelo 3), fiquei decepcionado justamente pela falta de cuidados da lente. Tentei limpar mas não melhorava… O cidadão que entrega os óculos na entrada tb o faz de qualquer jeito, pegando pela lente e não pela haste (esqueci como chama). E só não fui esse final de semana pra assistir, porque odeio multidão em shopping… já cheguei a… Read more »

Verônica Tila
Verônica Tila
12 fevereiro de 2010 3:03 pm

Coreia do Sul exibe Avatar em 4D.

O 4D significa uma experiência que envolve os cinco sentidos. As cadeiras se movimentam, há cheiros de explosivos, pingos de água, luzes de laser e até vento.

http://msn.techguru.com.br/Coreia-do-Sul-exibe-Avatar-em-4D.htm

Verônica Tila
Verônica Tila
3 fevereiro de 2010 9:02 pm

Vi no Box em 3D, muito lindo!

Ricardo
Ricardo
30 janeiro de 2010 10:16 am

É amigo eu sou de Recife tbm mas assisti ao filme em Natal-RN quando estive lá rescentemente. Lá o cinema é Cinemark e não Box como aqui, não sei se há diferença na qualidade da imagem mas achei o filme belíssimo em coparação ao 2D, pois já havia assistido aqui no Tacaruna. Agora uma diferença foi gritante: a qualidade o serviço oferecido. Lá eu recebi meus óculos em uma embalagem lacrada com o aviso de que os mesmos já haviam sido higienizados. Aqui eu peguei os óculos em um tambor e os mesmos estavam coberto de gordura como se tivessem… Read more »

Fred
Fred
19 janeiro de 2010 4:27 pm

Não custa fazer um pequeno alerta. O caso fatal narrado no link abaixo é uma exceção, mas há muitos casos de pessoas que sofrem tonturas e dores de cabeça vendo o filme. Provavelmente não seria recomendado para pessoas com algum problema neuronal consolidado, como epilepsia, por exemplo.

http://cinema.terra.com.br/interna/0,,OI4214065-EI1176,00-Homem+morre+apos+assistir+sessao+em+D+de+Avatar.html

Fred
Fred
19 janeiro de 2010 4:23 pm

Acid, gostaria de saber se você tirou os óculos e viu o filme ao menos alguns segundos sem ele. Se afirmativo, a exibição sem os óculos se comporta como num filme convencional em 2D? Ou a imagem fica distorcida sem os óculos? Se alguém fez essa experiência e quiser me adiantar a informação, agradeço a todos, até porque pelo visto para cada óculos há um tpo de tecnologia de exibição correspondente. Obrigado!

Lia
Lia
12 janeiro de 2010 2:08 pm

Avatar blues… http://www.cnn.com/2010/SHOWBIZ/Movies/01/11/avatar.movie.blues/index.html “O espetáculo completamente imersível de James Cameron pode ter sido um pouco real demais para alguns fãs que dizem ter experienciado depressão e pensamentos suicidas após ver o filme pois anseiam apreciar a beleza do mundo alien Pandora.” Meta o povo inconscientemente infeliz com sabe-se-lá-quê em uma experiência viva que eles percebem o que os incomodam… Os usuários, pelo que li no artigo e em um dos fóruns mencionados, ficaram realmente tristes com o relacionamento em média miserável que temos com o natural, com o que criamos, e uns com os outros, em especial. Os meio suicidas… Read more »

Emerson
Emerson
10 janeiro de 2010 2:41 pm

Oi, queria saber quem é o autor deste blog. Achei ele pelo google, procurando uma solucao para fazer um pendrive bootavel.
Achei interessantissimo porem queria mais informacoes sobre o autor.
Emerson

Acid
Acid
3 janeiro de 2010 11:03 pm

Oi Fabricio! Acredito que já vivemos no meio de uma Matrix (não como a do filme, e sim como na idéia do Budismo), e que estamos caminhando pra termos nossa própria Matrix (além das que já criamos em nossas mentes).

Fabrício
Fabrício
3 janeiro de 2010 9:32 pm

Salve Acid!!!
Li seus dois posts sobre Avatar (“Somos Todos Um” e “Meu outro Blog”) e fiquei muito interessado em ver este filme…
Sobre seus comentários no Stum, cada vez mais nos aproximamos da realidade de Matrix, ou, Matrix já é uma realidade “inevitável”?!?! (literalmente e verdadeiramente real)
Abraços, Namaste.

Hermano
Hermano
25 dezembro de 2009 8:22 am

Como no cinema da minha cidade não tem essas coisas, eu vi o filme sem o 3d mesmo :/ E acho que não dá pra ter idéia do que é o 3d vendo essa imagem aí, não vi muita diferença. Só as veias que parecem mais saltitantes. :] Eu não achei o roteiro tão ruim assim a ponto de dizer que o filme só presta em 3d. Mas concordo que a história é um mais do mesmo em diversos aspectos. Mas o filme mostra de um jeito bem material, a conexão entre os na’vi e o mundo Pandora, que de… Read more »

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