ALAN MOORE: ARTE

Alan Moore

The Mindscape of Alan Moore é um documentário focado exclusivamente nos pensamentos de Alan Moore, um premiado escritor de histórias em quadrinhos com temáticas adultas, como Watchmen, Constantine, V de Vingança e Batman: A Piada Mortal. Auto-declarado Mago, suas idéias vão muito além do que costumamos pensar de quadrinhos e magia. Vejamos alguns trechos mais interessantes do documentário:

Alan Moore na capa do disco dos Beatles

Existe alguma confusão a respeito do que a magia é realmente. Penso que isso possa ser elucidado se você apenas olhar as mais velhas descrições de magia. Magia na sua forma mais antiga é referida como “A arte”. Creio que isto seja completamente literal. Creio que a magia é arte, e que essa arte, seja a escrita, a música, a escultura ou qualquer outra forma é literalmente magia. A arte é, como a magia, a ciência de manipular símbolos (palavras ou imagens), para operar mudanças de consciência. A verdadeira linguagem da magia trata tanto da escrita como de arte e também sobre feitos sobrenaturais. Um grimório, por exemplo, um livro de feitiços, é simplesmente um modo extravagante de falar de gramática. De conjurar um encantamento. É somente encantar, manipular palavras pra mudar a consciência das pessoas. Eu acredito que um artista ou escritor são o mais perto do que você poderia chamar de um xamã do mundo contemporâneo.

Creio que toda cultura deve ter surgido de um culto. Originalmente, todas as facetas de nossa cultura, sejam as ciências ou as artes, eram territórios dos xamãs. O fato é que, nos dias atuais, este poder mágico se degenerou ao nível de entretenimento barato e manipulação. Atualmente, quem usa o xamanismo e a magia para dar forma a nossa cultura são os publicitários. Em lugar de despertar as pessoas, o xamanismo é usado como um opiáceo, para tranquilizar as pessoas, para fazê-las mais manipuláveis. A sua caixa mágica, a televisão, com suas palavras mágicas, seus slogans, pode fazer com que todos no país pensem nas mesmas palavras e tenham os mesmos pensamentos banais exatamente no mesmo momento.

Em toda a magia há um componente linguístico incrivelmente grande. A tradição mágica dos bardos os colocava num patamar muito mais elevado que os magos. Enquanto os magos poderiam fazer sua mão se mover de forma engraçada, ou fazer você ter um filho com um pé de pau, um bardo não te amaldiçoaria. Ele faria uma sátira, coisa que poderia te destruir. E se fosse uma sátira inteligente, não te destruiria somente aos olhos de teus colaboradores. Te destruiria aos olhos de tua própria família, e aos teus próprios olhos. E, se fosse uma sátira finamente elaborada e muito astuta, o bastante para sobreviver e ser recordada durante décadas ou mesmo séculos, então anos depois de tua morte as pessoas ainda leriam e ririam de tua ruína e do teu absurdo.

Os escritores e as pessoas que podiam comandar as palavras eram respeitados e temidos como gente que manipulava a magia. Nos últimos tempos, creio que os artistas e escritores têm permitido serem vendidos, sendo levados pela maré. Aceitaram a crença predominante de que a arte e a escrita são simplesmente formas de entretenimento. Não são vistas como forças transformadoras que podem mudar um ser humano, que podem mudar uma sociedade. São vistas simplesmente como entretenimento, coisas com as quais podemos ocupar 20 minutos ou meia hora, enquanto esperamos morrer.

Não é o trabalho de um artista dar ao público aquilo que o público QUER. Se o público soubesse o que quer, eles não seriam o público, e sim o artista. É o trabalho de um artista dar ao público o que ele NECESSITA.

Veja o documentário na íntegra:

Documentário The Mindscape of Alan Moore legendado Portugues

E mais um outro que eu achei enquanto procurava o de cima:

A Cabeça de Alan Moore – Legendado (Português Brasileiro)

0 0 votes
Avaliação
Subscribe
Notify of
21 Comentários
Newest
Oldest Most Voted
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários
Renato Pinheiro
Renato Pinheiro
14 março de 2009 7:21 pm

…. Depois de SEXTA-FEIRA 13… … … … Sábado 14, com muito sol, praia e diversão pra toda a família! 🙂 … !artis vivendis egum! De um modelo geral.. seria o mesmo que “Da arte vive o ego!” que num modelo geral, pelo menos observado nossa cultura global..bate e condiz na mosca! Perfeito Acid, é a melhor concepção pra nossa percepção de época.. antes da PROPAGAnda ninguém podia viajar nas artes dos outros.. questão de acesso, questão de divulgação, questão de valorização.. Hoje é o método-mór.. suplantado acima de qualquer teoria médica ou suposição filosófica.. Hoje tudo é subproduto comercial..… Read more »

kiabo azul
kiabo azul
18 março de 2009 3:09 pm

tb me amarro nessa musica, mas acho q eles ironizam né nao? pelo jeito deles cantarem… sei lá

kiabo azul
kiabo azul
18 março de 2009 3:11 pm

pra mim o melhor baixo q já ouvi é o de faith e do korn. bem louco!

billy shears
billy shears
18 março de 2009 11:31 pm

“tb me amarro nessa musica, mas acho q eles ironizam né nao? ”

É…também pode ser feita essa leitura, porém, a crueza da letra demonstra a insatisfação de seus criadores com alguns temas tratados, p/ ex: “Nós nos importamos muito com seu povo, e suas armas
Com as guerras que você lutou como um imbecil”…

Falar em baixo do Faith..dê uma conferida em Morning After…o baixo se sobressai de maneira contundente.

Valeu.

billy shears
billy shears
18 março de 2009 1:36 am

Pois é, a arte tem essa magia de nos despertar para uma infinidade de sentimentos existentes ou não em nós. Com ela refletimos, nos alienamos, nos apaixonamos, nos transformamos, interagimos e etc… Foi dito, há tempos, que o homem é um animal político, acho que também somos animais artísticos…rs..levando nossa política através da arte. Acho que foi isso que Lennon buscava quando deu de ombros para o iê , iê, iê e perseguiu um ideal político e transformador com sua postura artística, a partir de sgt peppers até sua morte. A arte é uma forma de dizer que nos importamos… Read more »

ieiê
ieiê
22 março de 2009 1:59 am

Ah, e o baixo do Killing Joke!
Alias, tudo, baixo, guitarra, percursão e vocal.
Sem falar que os Killing Joke tbém tinham esse lance da magia… já falavam do surgimento do novo homem, etc.

kiabo azul
kiabo azul
22 março de 2009 10:49 am

a musia love like blood dessa sua banda citada é mto massa!

Leamdro Màrck
Leamdro Màrck
22 março de 2009 7:30 pm

Quando eu me formei como técnico em desenho de comunicação (Tecnólogo Designer Gráfico) Como o curso é chamado hoje pelas Escolas Técnicas Estaduais aqui em Sampa. Tinha um dilema, onde é que eu iria trabalhar? Eu queria apenas desenhar, pintar enfim mas também tinha de sobreviver então restou-me duas opções: Pra ser Artista Plástico além do talento que deveria ser aprimorado através do estudo e da prática, caso eu conseguisse alguma evidência teria também de desenvolver o tal chamado networking ou Q.I. pra inserir me no mundinho artístico e cultural das grandes galerias. Coisa como ganhar na loteria, basta ir… Read more »

Leamdro Màrck
Leamdro Màrck
22 março de 2009 7:33 pm
Elielson
Elielson
17 março de 2009 9:27 am

O poder de influência sobre as massas é talvez a parte mais triste da realidade.
A midia não faz apenas o consumidor, como tbm o vendedor…
O bruxo mesmo… é o dinheiro.

Saindo da Matrix
Saindo da Matrix
16 março de 2009 7:39 pm

Patrick, primeiramente obrigado pela tradução! Agora, você poderia me arranjar o texto traduzido pra eu fazer mais um post?? Esse primeiro eu tive de digitar tudo na mão, demorou que só. Valeu!

Patrick Berlick
Patrick Berlick
16 março de 2009 7:33 pm

Bem,gente…eu traduzi o documentário Mindscape e o cara eh gênio e ponto final…o trabalho dele no Monstro foi inigualavel e ponto final.Ponto…final.

Lex
Lex
14 março de 2009 9:04 pm

Quem leu o “Monstro do Pântano”????? Na edição 20, o escritor inglês Alan Moore assumiu o lugar de roteirista. Relativamente desconhecido até então, Moore só havia escrito várias histórias para a 2000AD e para a Marvel UK; mas porque o Monstro do Pântano estava a beira do cancelamento, os editores estavam dispostos a correr qualquer risco que Moore pudesse representar. O “risco” que Moore correu foi o de destruir e reconstruir todo o conceito do personagem. Na revista nº 20 o Monstro do Pântano leva um tiro na cabeça e é capturado por homens da corporação Sunderland. Na edição 21,… Read more »

Renato Pinheiro
Renato Pinheiro
14 março de 2009 9:18 pm

DuraLex..

Durante a era Moore, o Monstro do Pântano ficou catatônico em decorrência do choque de mergulhar-se profundamente no “verde”, uma dimensão que conecta toda a vida vegetal.(…)

(…)
ARTE PURA!!!

É .. por aí mesmo.. arte alimenta o ego.. e manda ele pro verde! 😉

Imagina o que conecta o do animal homo-sapiens, ou intelcetualis? sei lá! 😛
Abraços

Maíra
Maíra
15 março de 2009 12:25 am

Um Artista, escritor, pode transformar a vida de muitas pessoas, transmitindo mensagens importantes para o despertar da consciência e muito mais. De certa forma, você, Acid, é um artista e é isto o que faz, ajudando muitas pessoas. Se expressa bem na escrita e no conteúdo, além de selecionar bem os textos que você coloca no seu blog.
O artista não precisa dar o que o público quer, mas o que o público precisa. Mentes brilhantes sabem fazer isto!

kiabo azul
kiabo azul
15 março de 2009 12:08 pm

mudando de assunto



acid, vc ja falou do menino Ram Bahadur Bomzom q meditou por varios meses sem comer nem beber nada durante todo o tempo? É interessante

Test Pilot Yui
Test Pilot Yui
15 março de 2009 8:44 pm

A linguagem deriva de uma comunicação menos especializada, mais geral e universal e muitas vezes age de forma subliminar e alcança todos os sentidos. Normalmente o que é subliminar age no subconsciente (porquê o cosciente é difícil de subjugar). E o subconsciente desequilibra a balança porque dispõe de todos os recursos automáticos à disposição. Em um ambiente opressivo o que reage primeiro é o subconsciente. A luz, o som, os gestos… Tudo contribui para impressionar o subconsciente e bombardear o consciente indiretamente. O consciente precisa estar preparado para trazer a tona memórias capazes de neutralizar o subconsciente e acalmar a… Read more »

Marcos Ubirajara
Marcos Ubirajara
16 março de 2009 10:58 am

“É o trabalho de um artista dar ao público o que ele necessita.”

Sim! E subjacente à toda arte, um grande sentimento de compaixão.

Grande abraço!

Wesley
Wesley
16 março de 2009 12:10 pm

Falando sobre o poder da palavra, lembrei daqueles programas que fazem o “bullying artístico”, como o CQC e o Pânico na TV. Eles tem uma permissão natural para fazer aquelas entrevistas, mesmo humilhando as pessoas cara a cara. São cumprimentados com muito cainho, mas por detrás disso reside o medo do artista em ser ridicularizado. É puro instinto de sobrevivência. Esses caras tem poder mesmo, que não está escrito em lugar nenhum, mas são mais poderosos porque é um poder que se sente no ar, nota-se o artista suando frio quando os vê.

Aliny
Aliny
16 março de 2009 3:19 pm

Assisti o V de Vingança e fiquei simplesmente maravilhada com a história. Tenho algo dentro de mim que pode explodir a qualquer momento, uma necessida de “fazer justiça”, embora meu pouco envolvimento com os meios sociais (diga-se da porta da minha casa para fora) não me permita sequer ver uma forma de iniciar algo revolucionário. Aprendi que a revolução deve ser iniciada dentro de nós mesmos… bom, só esta já é bastante difícil, temos um mundo de relutâncias com relação ao que aprendemos, aquilo que já veio pronto, que está na mídia, que foi escrito por um estudioso intelectual (ou… Read more »

Anônimo
Anônimo
3 setembro de 2009 5:23 pm

As viagens ou a arte podem fazer alguém perder a cabeça? A síndrome de Stendhal, que atinge turistas emocionados pela beleza das obras de arte, é uma entre outras síndromes que acometem os turistas estrangeiros em vários locais do mundo.

Matéria completa em:
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/lemonde/2009/09/03/ult580u3909.jhtm

Posts Relacionados

Comece a digitar sua pesquisa acima e pressione Enter para pesquisar. Pressione ESC para cancelar.