Minha avó foi bastante estudiosa quando aqui na Terra. Se interessava por tudo, respeitava todas as crenças, mas seu espírito crítico ficava ligado ao máximo. Se definia como livre-pensadora, assim como o pai dela, e se identificava mais com a Ordem Rosacruz. Antes de morrer, há mais de 5 anos, disse a meu avô (cético até a medula) que iria provar a ele a vida após a morte. E provou (não pro mundo, mas pro meu avô).
Bem, certa vez eu estava numa reunião espírita e um dos médiuns, já incorporado, quis falar comigo. Me deu um abração bem forte e demorado. Depois, vendo minha perplexidade, falou: “Que os mestres da fraternidade branca te iluminem!” Era a senha: minha avó usava essa saudação para os mais íntimos. Então notei que o rosto e sorriso bonachão do médium era o mesmo que ela fazia. Então olhou “atravessado” (um olhar de desdém idêntico ao que ela fazia quando queria criticar) pra o pessoal na reunião, e falou baixinho: “e eu que nunca gostei desse negócio, agora estou aqui…”
Eu sorri. Ela era médium, mas mesmo assim não aceitava. Achava que a maior parte dos que se diziam espíritos eram influência do subconsciente do próprio médium. Mas respeitava sempre a crença de todos, conversava religião animadamente com evangélicos, espíritas, ateus, ufólogos e rosacruzes, e sempre sem tentar impor sua visão do mundo (esse foi o maior legado que ela me deixou), e sempre respeitando nossas crenças e estudos, como por exemplo permitindo algumas reuniões espíritas na casa dela. Pouquíssimas pessoas sabiam que ela não gostava da idéia de espíritos interagindo conosco.