LACONISMO NO ZEN-BUDISMO

monge zazen

Existe a tentação de considerar o Zen-budista como pobre de sentimentos, senão absolutamente insensível. Não, decerto, por ele permanecer comovido, no mais profundo do seu ser. Tampouco se percebe essa impassibilidade no seu semblante, da mesma forma que a superfície do mar não revela a calma que existe em suas profundezas. Isso acontece pelo fato de o Zen-budista se acautelar contra a exibição de seus sentimentos por não gostar de revelá-los com palavras.

Sob esse laconismo ocultam-se diversos motivos.

Em primeiro lugar, a recusa – conscientemente cultivada e depois tornada instintiva – contra o exagero desonesto. O Zen-budista conhece, devido a sua carreira, o perigo ligado à expressão dos sentimentos: o de dizer mais do que se sente e, portanto, o de revelar menos quanto mais se fala. Por outro lado, ele tem o ouvido aguçado demais para que lhe possa escapar a facilidade com que nos livramos de sentimentos inoportunos, pelo fato de manifestá-los. Se dissermos a quem sofreu uma grande dor como nos solidarizamos com o seu sofrimento, ao sentirmos que essa pessoa se sente compreendida e confortada, então achamos, depressa demais, que pela mera manifestação de nosso sentimento já lhe fizemos justiça. Assim que essa pessoa sai do campo da nossa visão, deixamos de pensar nela, a não ser de vez em quando, e nos voltamos, impassíveis, para os nossos próprios afazeres: com isso, destruímos o sentimento característico da emoção e nos tornamos cada vez mais insensíveis. Porém, afinal – e aqui surge o motivo decisivo – o Zen-budista está longe de restringir-se à alegria e à compaixão apenas para com os homens e para com aquilo que se liga à existência humana. Ele abrange, com esse sentimento, tudo o que vive e, portanto, também os animais e as plantas, sem excluir os mais insignificantes entre estes. Diante deles, a palavra permanece impotente.

Os sentimentos não sofrem nada por não serem chamados pelo nome. Ganham muito em intimidade e intensidade quando são sentidos pela pessoa sem serem expressos por palavras. O Zen-budista realiza a comprovada experiência de que existe uma comunicação fundamental que encerra todas as formas de vida e, portanto, também o âmbito da vida humana; comunicação que, devido à sua imediatidade, renuncia – aliás, tem de renunciar – ao caminho das palavras, das comunicações e do intercâmbio verbal.

Extraído do livro O caminho Zen, de Eugen Herrigel

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