O AMOR ZEN

É compreensível que o discípulo de Buda não deva odiar, e que, por fim, nem consiga mais fazê-lo. Da mesma forma, ele não deve mais amar, no sentido vulgar que se atribui a essa palavra e, finalmente, nem pode mais amar dessa forma. No entanto, ele não fica insensível, indiferente. O discípulo permite que tudo e que todos partilhem, sem esperar retribuição, de sua maravilhosa capacidade de amar, que é desapaixonada, desinteressada e uniforme: ele ama apenas por amor ao amor. Isso não acontece por lhe causar prazer pessoal, ou por saciar um anseio íntimo, mas porque precisa fazê-lo devido a esse amor que transborda.

Esse amor, portanto, situa-se além do amor e do ódio. Não é como uma labareda ardente que em si própria se extingue, mas como uma tranqüila incandescência que uniformemente se alimenta de si própria. Esse amor – que não conhece desilusão, mas não recebe estímulo exterior – esse amor em que se mesclam bondade, compaixão e gratidão, esse amor que não alicia, não se impõe, que não exige, que não persegue nem inquieta, que não dá a fim de tomar, esse amor, por isso mesmo, possui um poder realmente admirável, porque nem a esse poder ele aspira. Ele é suave, meigo, enfim, irresistível. Mesmo as coisas inanimadas se abrem pra ele, e os animais, que costumam ser medrosos e ariscos, confiam nele.

Fonte: O caminho Zen, de Eugen Herrigel

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11 setembro de 2020 1:22 pm

Interreligious Encounter Between Chan/Zen Buddhism and Carmelite Spirituality: Updates and Interviews with Participants

https://www.buddhistdoor.net/features/interreligious-encounter-between-chanzen-buddhism-and-carmelite-spirituality-updates-and-interviews-with-participants

HoundDog
HoundDog
2 setembro de 2008 10:52 am

Ola! Primeiro, kra parabéns! vc faz um ótimo trabalho nesse blog! o conheci a pouco tempo, e ja to viciado nele! Mergulhando em cada artigo, e vendo um pouco desse grande mar de conhecimento! Congratulations! ^^
Mas então, segundo o budismo tudo é impermanente certo? portanto essa forma de amor, no sentido vulgar, tende a acabar e nascer de novo, ciclicamente correto? Essa doutrina tbm é empregada com relação ao “amor zen”, visto q se alimenta de si próprio? ele seria uma exceção a impermanência, ele seria permanente, eterno?
abraço!

Saindo da Matrix
Saindo da Matrix
2 setembro de 2008 11:53 am

Ser eterno não é o mesmo que ser permanente. O que o budismo prega é que nada vai permanecer o mesmo. O planeta Terra pode ser “eterno” e não é o mesmo. Nossa alma pode ser eterna, mas não seremos os mesmos no ciclo de reencarnações. Algo que está sempre se construindo, sempre se renovando, vai ser o “mesmo” e diferente, sempre.

HoundDog
HoundDog
3 setembro de 2008 5:16 pm

Hmm… Entendi!
vlw ^^

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