JEAN MICHEL JARRE (Parte 4)

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OXYGÈNE 7-13

No mesmo ano em que ele bate seu maior recorde de público até hoje (1997) foi também o ano de lançamento da continuação do álbum Oxygène, inclusive continuando a numeração do álbum original (de 7 a 13). Foi um álbum dedicado a seu mentor Pierre Schaeffer, que havia morrido dois anos antes, e foi seu último trabalho com o colaborador Michel Geiss, que compunha a Le Tribe (A tribo), um grupo próximo de amigos e técnicos que cuidavam de tudo um pouco dos espetáculos e sons.

Oxygene, Pt. 13 (Minha preferida do álbum)

No ano de 1998, Jarre cria (em parceria com os ingleses do Apollo 440) uma nova versão de Rendez-Vous 4, intitulada Rendez-Vous 98. Cria também, junto com o artista japonês Tetsuya “T.K.” Komuro, o single Together Now, pra fazer a ponte entre as Copas da França (1998) e a do Japão / Coreia do Sul (2002).

Ainda em 1998 lançou um álbum só de remixes de Oxygène 7-13 feitos por outros artistas: Odyssey Through O2. Estávamos na época da explosão do trance, e o mais legal deles veio do grupo alemão Sash! (do sucesso Ecuador), que remixou as músicas Oxygène 7 e Oxygène 10:

Oxygène 10 (Sash! Mix II)

Jarre foi o escolhido para ser o “Representante dos Músicos Europeus”, e passa a lutar contra a pirataria na internet. Com as assinaturas de vários artistas, ele entrega uma petição no Parlamento Europeu, propondo uma nova lei de direitos autorais para o mercado online da música.

TWELVE DREAMS OF THE SUN

Reportagem do SBT sobre o Concerto do Egito (Dezembro de 1999)

Na virada do ano 1999 para 2000 (que não foi exatamente a virada do século, mas todo mundo comemorou como se fosse) Jarre fez um Concerto de 12 horas de duração nas pirâmides do Egito. Chamado The Twelve Dreams Of The Sun (Os doze sonhos do Sol), tinha duas partes: uma noturna, e outra no nascer do Sol. Infelizmente todo o aparato de projeção que funcionou brilhantemente em Paris e Houston não pôde ser usado nas pirâmides, porque no dia do show uma forte névoa encobriu os monumentos. Talvez um presságio do que estava pra acontecer na carreira de Jarre?

C’est la vie (com Natacha Atlas)

Uma cena legal do Concerto é o Jarre cobrindo a cabeça como um beduíno e tocando Oxygène 7 na harpa laser. E uma curiosidade: a música Revolution foi censurada pelo presidente do Egito, o Ditator Hosni Mubarak, e a letra foi substituída por Evolutions, e a palavra SEX (sexo) foi banida também. Ironicamente a ditadura de 30 anos de Hosni Mubarak veio abaixo após uma revolução em 2011.

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Jean-Michel Jarre beduíno com lasers

Jarre deu uma entrevista à Band antes do Concerto.

IDADE DAS TREVAS

Em 2000 Jarre lançou Metamorphoses que, como o nome diz, é uma metamorfose na carreira do compositor francês. Aqui, pela primeira vez ele faz uso extensivo dos vocais em suas músicas, não só ele como convidados(as), fazendo uso das influências house, trance e techno que, no final das contas, ele mesmo influenciou lá atrás.

Olhando para trás, gostei do álbum Oxygène 7–13, mas depois que terminei, sabia que tinha que começar do zero. Eu tinha que ir a algum lugar completamente diferente. Metamorfoses é como uma página em branco para mim, um novo começo.

Jean-Michel Jarre

Também em 2000, Jarre, junto com Tetsuya Komuro (aquele japonês da música da Copa) resolvem criar uma banda: The ViZitors. Juntos, decidem fazer um show na ilha de Okinawa, no Japão, em homenagem ao escritor de ficção científica Sir Arthur C. Clarke, intitulado 2001 – Rendez-Vous in Space, que ocorre em 01/01/01 e apresenta composições novas que servirão de base para o futuro álbum do The ViZitors. Projetos de outros shows são planejados mas acabam não ocorrendo. A banda então é desfeita e o disco cancelado. 💀

As músicas são boas. Uma pena que a coisa não foi pra frente.

Em 2001 Jarre acabou então lançando Interior Music, um álbum promocional feito exclusivamente para ser tocado dentro das lojas da marca de luxo Bang & Olufsen. Deve ter sido o dinheiro mais fácil que Jarre já ganhou.

Ainda este ano ele fez o Concerto Acropolis, na Grécia, para ajudar uma fundação que cuida de crianças com câncer. A única novidade no setlist foi Hymn To The Akropolis (que parece nova, mas na verdade é a música Give Me A Sign retrabalhada em estilo clássico):

Em 2002 veio Sessions 2000, numa pegada mais jazz, minimalista, praticamente irreconhecível.

Em 2003, Geometry of Love, cujo estilo é música de lounge (ambiente) com uma pegada de jazz eletrônico. E foi feita pra ser assim, mesmo, porque foi encomendada pra o clube francês VIP Room. A capa é o púbis pixelado da então namorada de Jarre, Isabelle Adjani.

Também neste ano ele se apresenta novamente na China – dessa vez na Cidade Proibida – ao lado da orquestra sinfônica de Pequim, para um público de 15 mil pessoas. Foi o primeiro Concerto do mundo a ser transmitido e gravado em 5.1 Surround Sound, com certificação THX:

Live Pekin Part 1 (Cité Interdite). Veja também o show com áudio comentário do próprio Jarre.

Em 2004, AERO se torna o primeiro álbum lançado em 5.1 surround de todo o mundo. Jarre pegou músicas antigas e fez uma releitura delas em surround, além de compor algumas poucas novas. Pra ouvir essas faixas em surround precisa ter o DVD ou um tocador de DTS, além de um Home Theater. Mas se quiser ter uma idéia de como era você pode baixar as músicas que foram convertidas em Dolby Virtual Surround por um fã e ouvi-las num headphone, que não é a mesma coisa mas é melhor que nada. Spoiler: As releituras são bem mais pobres que as originais; talvez por Jarre ter se encantado com a espacialidade da coisa, ele pesou a mão nos efeitos.

“Para o AERO, eu queria revisitar no 5.1 algumas faixas existentes, a fim de dar a elas a espacialidade que eu imaginava quando as compus originalmente, e também para compor algumas novas faixas com essa nova tecnologia. Todas as faixas existentes no AERO foram executadas com os instrumentos originais, regravadas e organizadas espacialmente para esta nova experiência sonora dimensional, sem trair sua própria essência.”

Jean-Michel Jarre; notas do CD

Em 2006 ele fez o concerto Water for Life, no Marrocos, para 25 mil pessoas:

Em 2007, lançou Téo & Téa, uma continuação do estilo “muderno” do AERO, também em 5.1 surround.

Como podem ver, todos esses álbuns novos podem passar sem uma música de amostra porque, basicamente, não gosto de nenhuma. Esses 7 anos foram de Jarre procurando se reinventar – como sempre fez – mas sem o mesmo brilho que teve no passado. Foi um novo século bem difícil criativamente. Talvez uma maldição egípcia?

RENASCENÇA

Com 2007 chegaram os 30 anos do primeiro álbum Oxygène, e parece que reacendeu uma fagulha em Jean-Michel Jarre. Ao invés de simplesmente remasterizar Oxygène para o relançamento, Jarre fez um álbum regravando TUDO, intitulado Oxygène: New Master Recording em 5.1 surround. Ele considerou que a tecnologia digital chegou num ponto em que está equiparada à qualidade do analógico, e resolveu regravar para ter o máximo de qualidade sonora. E pra celebrar o momento ele resolveu se desafiar e tocar TODO o álbum ao vivo, com os sintetizadores da época e SEM ajuda de computadores (algo que nem mesmo ele havia tentado fazer).

Oxygène Live In Your Living Room (Bônus do DVD Oxygène: New Master Recording)

Tem algo de mágico em ver o som ser gerado nesses equipamentos analógicos, onde tem um contato mecânico do homem com a máquina. Se você ainda não acha que Jarre é um gênio, assista ao vídeo acima imaginando que ele fez isso mais de 30 anos atrás, sozinho, com todos esses equipamentos espalhados numa cozinha e gravando camada por camada, pacientemente, pra depois juntar tudo.

Em 2011 ele lançou um Box com 2 CDs intitulado Essentials & Rarities, em homenagem a seu “padrinho” Francis Dreyfus, que foi quem apostou nele e publicou seu primeiro álbum Oxygène. Dreyfus havia morrido no ano anterior.

O Box é cheio de raridades, como diz o título. Coisas que ele fez com Pierre Schaeffer, coisas como o La Cage (seu primeiro single que foi um fracasso) e uma composição que eu curti muito:

Hypnose (1970)

Em 2013 fez um Concerto em Cartago, na Tunísia, bem no meio das revoltas iniciadas pela Primavera Árabe. Mas tudo transcorreu bem, já que o país inteiro ama ele.

Em 2015 o canal alemão ARTE exibiu o documentário Making music from noise: Soundhunters, que tem a participação de Jarre, e A Journey Into sound, este dedicado a Jarre e que mostra como foi o projeto do seu próximo álbum, que viria a ser conhecido como Electronica.

Parte 5: (em breve)

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Ricardo Alves de Melo
Ricardo Alves de Melo
22 abril de 2020 9:00 pm

Não esqueça o Concerto d Mônaco para o casamento do Príncipe Albert, o último show gratuito dele e que eu tive a oportunidade de estar, incluindo meu encontro com o mestre dos teclados. Foi uma semana inesquecível na Riviera Francesa.

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