ADÃO E A CAPELA SISTINA

A pintura do teto da Capela Sistina, no Vaticano, foi encomendada a Michelangelo pelo Papa Júlio II. Michelangelo, originalmente, recusou o trabalho; Primeiro, porque ele se considerava um escultor, não um pintor, e também porque discordava da visão de Júlio de como deveria ser a pintura. Foi só depois que Júlio concordou em deixar Michelangelo pintar a capela do seu jeito que ele aceitou o serviço. Levou 4 anos para terminar as 300 figuras que compõem o “quadro”. Michelangelo sofria de dores na coluna por ter de pintar de pé, curvado pra cima, com tinta escorrendo sobre seus olhos e prejudicando sua visão.

O que nós vemos na internet são detalhes das figuras aumentadas, mas ir ao vivo e ver o teto totalmente coalhado de cores e figuras que você mal pode distinguir é outra coisa. Alguns turistas levam até binóculos pra ver melhor, mas acho que o efeito proposto por Michelangelo foi o de demonstração de poder, mesmo, tipo “olha tudo isso aí. Você vai gastar uma tarde inteira pra ver tudo e ainda vai ficar com dor no pescoço”. Até porque a sugestão do Papa era somente ter os 12 apóstolos no telhado, e não o o Gênese inteiro.

A obra retrata vários personagens do Velho Testamento, com ênfase em retratar o Gênese. Mas a parte mais genial (e central do teto) é mesmo a Criação do Homem. Nela podemos ver Adão e Deus com os dedos quase se tocando. Um conceito simples, mas que brilha pelos detalhes:

Adão é uma cópia mais jovem de Deus. Para nos lembrar que foi “Criado à imagem e semelhança”. Do torso pra cima a pose dos dois está praticamente espelhada.

A pose de Adão é de repouso, descanso, enquanto a de Deus é de Ação, movimento. Isso é interpretado por muitos como se Adão tivesse acabado de despertar e ainda estivesse sem a Energia Vital, que vai ser dada pelo toque de Deus.

O brasileiro Deivis de Campos, pesquisador de anatomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), escreveu um artigo para a revista Clinical Anatomy, onde diz que Adão possui uma costela a mais no lado esquerdo do torso, que representaria Eva.

Em 1990 o médico Frank Meshberger notou que o pano vermelho com os anjos parecia demais com o cérebro humano. Michelangelo era um Mestre em anatomia, e essa semelhança poderia ter sido totalmente intencional.

A figura de Deus foi a última a ser pintada em todo o teto da Capela Sistina. Michelangelo queria se certificar de que ela ficaria perfeita.

Michelangelo terminou o afresco em 1512. Por volta de 1560, rachaduras apareceram no teto e algumas partes caíram, uma delas justamente a ponta do dedo indicador de Adão e o dedo do meio. O trabalho de repintar coube a um artista quase desconhecido, Domenico Carnevale. É irônico que justamente o detalhe MAIS IMPORTANTE de toda a pintura tenha sido o que, hoje, não é mais obra de Michelangelo (Ele praticamente pintou tudo sozinho, pois não ficou satisfeito com o trabalho dos ajudantes, que eram comuns na época).

O dedo que não toca – ou está para tocar – Deus faz toda a diferença. Deus está com o dedo esticado ao máximo, BUSCANDO o Homem com sua atitude (corpo pra frente, punho em riste), enquanto o primeiro Ser Humano está passivo, com um ar sonolento ou entediado. A última falange do dedo de Adão poderia tocar seu Criador, bastando levantá-la. Significa que Deus está lá, mas a decisão de buscá-lo é do Homem. Se ele quiser esticar o dedo tocará a Deus, mas não querendo, poderá passar uma vida inteira sem buscá-lo. A última falange do dedo de Adão contraída representa, então, o livre arbítrio.

Referência:
Cultura Genial – Michelangelo: 9 obras para conhecer o gênio;
Cultura Genial – A criação de Adão (curiosidades);
Listerious – 26 fatos interessantes sobre a obra (em inglês);
Facebook – Uma história bonita (mas inventada) sobre o dedo de Adão ter sido refeito;
Saindo da Matrix – Mirdad: Adão e Eva