GIBRAN: DESPEDIDA

Por Gibran Khalil Gibran (livro O profeta)

GIBRAN: DESPEDIDA

Vós não estais encerrados em vossos corpos, nem confinados em vossas casas ou campos.
O vosso ser habita sobre as montanhas e vagueia sobre o vento.
Não é uma coisa que rasteja ao Sol para se aquecer, ou escava buracos na escuridão para se proteger, mas é algo livre, um espírito que envolve a terra e se move no éter.

Se essas forem palavras vagas, nâo procurais esclarecê-las.
Vago e nebuloso é o começo de toda as coisas, mas não o seu fim.
E eu prefiro que vos lembreis de mim como de um começo.
A vida, e tudo que vive, é concebido na bruma, e não no cristal.
E quem sabe se o cristal não é a bruma em decomposição?

Ao lembrardes de mim, gostaria que lembrassem disso:
Aquilo em vós que parece mais fraco e perdido, é o mais forte e mais determinado.
Não foi vosso alento que construiu e solidificou a estrutura de vossos ossos?
E não foi o sonho que nenhum de vós lembra de ter sonhado, que construiu vossa cidade e modelado tudo o que está nela?

Pudésseis antes ver as marés dessa respiração, deixaríeis de ver tudo o mais, e pudésseis ouvir o murmúrio do sonho, deixaríeis de ouvir qualquer outro som.
Mas vós não vedes nem ouvis, e isso é bom.
O véu que tolda vossos olhos será levantado pelas mãos que o teceram.
E o barro que tapa vossos ouvidos será removido pelos dedos que o amassaram.
E então vereis.
Então ouvireis.
E todavia não lamentareis ter conhecido a cegueira, nem sentireis teres sido surdos.
Pois nesse dia conhecereis o propósito oculto de todas as coisas;
E abençoareis as trevas como abençoais a luz.

Foto: Craig Golding

Adeus, povo de Orphalese.
Este dia já se foi.
Fecha-se sobre nós como o nenúfar sobre seu próprio amanhã.
O que foi-nos dado aqui, nós conservaremos.
E se não for o suficiente, mais e mais vezes estaremos juntos, e juntos estenderemos nossas mãos para o doador.
Não esqueçais que eu voltarei para vós.
Mais um curto momento, e minha saudade apanhará pó e espuma para outro corpo.
Mais um curto instante, um rápido momento de descanso sobre o vento, e outra mulher me conceberá.
Adeus para vós e para a juventude que vivi entre vós.
Foi apenas ontem que nos encontramos em um sonho.
Cantastes para mim em minha solidão, e eu construí, com vossa nostalgia, uma torre no céu.
Mas agora nosso sono se foi e nosso sonho desvaneceu, e já não é o alvorecer.
O pleno meio-dia está sobre nós, e nossa sonolência tornou-se dia pleno, e devemos nos separar.
Se no crepúsculo da memória nos encontrarmos novamente, de novo conversaremos, e cantareis para mim uma canção mais profunda.

E se nossas mãos se encontrarem em outro sonho, construiremos outra torre no céu.

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Alexandre Leats
Alexandre Leats
20 abril de 2022 11:14 pm

Meu D’US!
Não reconheci o livro por esses escritos!
🤦🏻‍♂️

Nantilde
Nantilde
4 fevereiro de 2010 4:19 pm

VCS já ouviram falar da arma secreta baseada nos experimentos de Tesla que os americanos construíram ? Me parece que é chamada de HAARP e há uma instalação militar no Alaska– onde ninguém pode entrar– em que ela está instalada. Já vi vários vídeos sobre o assunto. Se por acaso for verdade , nós e o próprio planeta estamos muito mal. Bem, o Chávez acusou os Estados Unidos de haverem provocado o terremoto no Haiti.Mas, o jeito bufão de ser do pretenso Bolívar não lhe dá muito crédito. Contudo, se a tal arma existe, pode fazer algum sentido.

Wicket
Wicket
4 fevereiro de 2010 11:33 pm

Saudações meus irmãos??

“A morte e só o começo…”.

Um grande abraço Acid

luciano kruggeer
luciano kruggeer
5 fevereiro de 2010 12:30 pm

adorei o texto do grande poeta iniciado gibran e tambem da musica de fundo,gostaria de prestar honras ao responsavel pelo site e lhe dizer que acompanho a anos o desenvolvimento do saindo da matrix e digo que esta cada vez melhor.atenciosamente os cavaleiros da ordem do deserto…fiquem com a luz

Alexandre Leats
Alexandre Leats
20 abril de 2022 11:15 pm

Totalmente distinto à tradução mais fiel!
Horrível essa tradução!

Gabriel
Gabriel
13 fevereiro de 2010 9:21 pm

Eu sou um amante dos escritos de Gibran. Ele aborda a tematica espiritualidade de uma forma “simples” num primeiro olhar, porém o mesmo texto se torna mais e mais profundo a cada releitura. Por enquanto eu comprei quatro livros dele (o profeta, tempestades, a voz do mestre, jesus filho do homem) e certamente o profeta é o melhor destes. |—-| Mas ACID, o comentário do Nid me deixou curioso. Esta despedida é pra alguém ou algo em especial, ou somente uma despedida casual, descompromissada ?! |—-| Um abraço a ti e a todos que acompanham o site, seus escritos são… Read more »

Luiz Augusto
Luiz Augusto
1 março de 2010 4:36 pm

Você é um deslumbrado com a vida… Descobre aos poucos seus segredos, e quer compartilhar tudo com os pobres de espírito (como eu). Os pobres de espírito não sabem onde fuçar o que lhes incomoda, e você se deu à missão de orientar as ‘fuçadas’… É assim que vejo seu ótimo blog. Você tem idéia da sua utilidade ? Grato !

Soraia
Soraia
9 março de 2010 10:39 pm

Absolutamente fantástico.

George Luiz
George Luiz
21 janeiro de 2013 9:05 am

– Existencialmente poético!

**_

timóteo pinto
timóteo pinto
4 fevereiro de 2010 3:36 pm

kiabo azul, gostou do carro elétrico? procure por G.H. Garrett, em 1932 ele patenteou um esquema de motor de carro funcionando a agua. em 1934 ou 35 ele demonstrou seu carro por ai, mas foi como o autor do livro sugar blues que ao vir ao brasil foi sabotado na mídia, isso nos anos 60, tirando q no caso do carro d’água do tio G. a impresna da época se espantou, afinal, quem imaginaria que ao acabar a água do carro se poderia reabastece-lo no lago mais próximo! e nem polui. Entra água, sai vapor d’água, mas no meio tempo… Read more »

Men Kepher Ra
Men Kepher Ra
4 fevereiro de 2010 12:15 pm

hã? ahan.

Lu Mendes
Lu Mendes
4 fevereiro de 2010 11:24 am

Comprei o livro O profeta na semana passada, é uma das leituras estimulantes ao espírito que já li. Quando ele fala sobre o que é o amor é lindo.

Glauco Carvalho
Glauco Carvalho
2 fevereiro de 2010 10:37 am

Sem palavras. Absolutamente lindo!

Faruk Zahra
Faruk Zahra
2 fevereiro de 2010 3:02 pm

Felizmente depois que descobri Gibran comecei a ter orgulho de minha origem libanesa … Apesar de sempre me considerar um Cosmopolita

Nid
Nid
2 fevereiro de 2010 4:49 pm

Eu Desejo acid que vc não esteje os preparando para um Adeus.

Joao
Joao
3 fevereiro de 2010 8:59 am

a foto do post é muito bonita!

Anônimo
Anônimo
3 fevereiro de 2010 9:30 am

Grande Acid, quando agente pensa que ele morreu… ele renasce das cinzas.

kiabo azul
kiabo azul
3 fevereiro de 2010 6:43 pm

Quem matou os carros eletricos?
http://www.youtube.com/watch?v=Vixn01AEZWE&feature=related



Interessante isso. 0-100 em menos de 9 segundos, silencioso, não polui e dura mto. Dai as industrias de petroleo vieram e crau! Foda…

kiabo azul
kiabo azul
4 fevereiro de 2010 9:01 am

esse documentario é bom pra quem acha que votar é importante. Pra quem acha que votar vai fazer a diferença e que os politicos são quem mandam nas empresas ao invés do contrario.

Gustavo
Gustavo
2 fevereiro de 2010 6:59 am

Sempre fico de queixo caído com as palavras do Gibran Khalil Gibran.

Estamos assim: véus cobrindo os olhos, e barro nos ouvidos. [Suspiro]

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