FILOSOFIA NEGLIGENCIA A REALIDADE?

Por Natalia Cruz Sulman

Paira no imaginário popular a ideia de que o filósofo é um sujeito aluado, que não tem talento prático, nem gosto pelos prazeres do mundo. Esta é bem expressa pela narrativa de que Tales de Mileto, o primeiro filósofo, desejante de conhecer as coisas do alto, esquecia do que estava aos seus pés; até que certo dia caiu num poço fundo, e foi ridicularizado por uma escrava.

Pessoa no Fundo do poço

Em memória à cena, uma personagem de Machado de Assis diz, na Ressurreição:

Um filósofo antigo, estando a contemplar os astros, caiu dentro de um poço. Eu sou da opinião da velha, que apostrofou o filósofo: “Se tu não vês o que está a teus pés, porque indagas do que está acima da tua cabeça?”

Outra personagem responde: “O filósofo podia responder que os olhos foram feitos para contemplar os astros.” E escuta como resposta: “Teria razão se ele pudesse suprimir os poços. Mas que a vida senão uma combinação de astros e poços, enlevos e precipícios? O melhor meio de escapar aos precipícios é fugir aos enlevos.”

O diálogo realmente tem algo de verdadeiro: a vida não só é feita de nobres pensamentos, mas também de encarar dificuldades inesquiváveis. Para bem pensar, você precisa ter resolvido conflitos internos; para bem estudar, você precisa ter o autossustento. Sem isso, os seus estudos são como fuga da vida adulta.

Além disso, há no trato das circunstâncias uma questão de teoria do conhecimento: a compreensão da totalidade, sob a forma humana, implica compreensão do particular, já que o macrocosmo está refletido no micro, ou, em linguagem platônica, o sensível imita o que está no inteligível.

Plotino chega a perguntar: “Que músico seria o homem que, tendo contemplado a harmonia inteligível, não escutasse a que está nos sons sensíveis? Que especialista em números não se deleitaria ao ver o simétrico, o proporcional e o ordenado?

Agora se alguém, olhando para as belezas presentes no sensível, não fosse transportado para o inteligível, este nem teria compreendido as coisas daqui, nem as coisas de lá.”

Há nisso uma lição profunda: o particular pode exigir atenção redobrada, uma vez que é posto tanto em seu movimento de individuação quanto de universalização, e, nesse sentido, apresenta-se como universal concreto.

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Geninha
Geninha
5 janeiro de 2022 11:17 am

Em que momento o filme foi exibido? Em que ano? Qual a grade de filmes do mesmo ano? Há uma cena de Todo Mundo em Pânico que completa esse filme. Relataram até o XIXI da XUXA – uma bebida de um barzinho da região que morava. Um dos meninos marcou a novela Vamp – me ensinou a começar pelos pés. Se alguma menina pedir para pisarmos pés de vocês para beijar – case! 😂 Deve ter algum filme por aí, que alguém pisa no pé de alguém… Os meninos costumavam pisar nos pés das meninas para pedir beijo. Madalena lava… Read more »

Geninha
Geninha
5 janeiro de 2022 11:22 am
Reply to  Geninha

Raramente assisto filmes de terror, suspense… pensava que era apenas o medo por não gostar de assistir. Daí fizeram outro em que uma moça ficava nas costas de um rapaz, e que ela sonhava sido identificada através de uma fotografia… parei pra pensar… Os meninos me levavam de cadeirinha na escola… o que eles queriam dizer com aquilo?! Ainda não li o texto, mas quando o Ardiam apareceu no Meu blog falando que a Fiat havia “corrompido” seu poema é usado indevidamente, me solidarizei. E enviei o poema das índias nuas pra ele. Me fugiu a memória o poema e… Read more »

Geninha
Geninha
5 janeiro de 2022 11:26 am
Reply to  Geninha

Em A Rede Social ele pergunta… “Está chovendo?”

https://m.youtube.com/watch?v=NNHS-SHDAqg

o Oswald de Andrade tem um poeminha que se chama “Erro de português”, em que ele fala assim:
“Quando o português chegou debaixo duma bruta chuva vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol o índio tinha despido
o português”

A minha fantasia sexual é fazer amor na chuva, mas não podemos… os satélites.

https://periodicos.ufmg.br/index.php/tabebuia/article/download/6401/3986

Geninha
Geninha
5 janeiro de 2022 11:40 am
Reply to  Geninha

Há coisas que não teriam como eles saber. Não com a precisão que é retratado. Se você ver alguma cena de sexo de baixo dos lençóis….

Nuvem de Profetas.

https://m.youtube.com/watch?v=J5zGPoG4YmU

Geninha
Geninha
5 janeiro de 2022 7:02 pm
Reply to  Geninha

Não sei onde escrevi sobre a evolução no seu blog, a postagem. Não lembro, muitos anos…

Mas o livro era

Ensino dirigido de Biologia – Biologia Geral – Plinio Carvalho Lopes.

Livros para cursinhos, vestibulares, concursos etc.

O Livro que mais li a época que permaneci aqui foi O Livro de Ouro da Mente o citei várias vezes por ele trazer uma imagem muito semelhante a um imagem do filme “Código para o inferno” ao abordar o autismo e asperger.

Renato Pinheiro
Renato Pinheiro
22 dezembro de 2021 10:46 pm

Gashô… Sidarta! Mas filosofêtas da acadêmos estão em tão grande implicância que até MMinistros irmãos Wein, ficaram de criticar… não querendo Filósofos em universidade públicas a forma! Posi-é .. eu sou a resistência de 1975 ohms! Namastê aê!

Armorial Parahyba
Geninha
Geninha
5 janeiro de 2022 12:15 am

Estou tão cansada… não consigo ler. Mas ela carta é do Eduardo:
https://www.facebook.com/100003169176763/posts/4671793372936256/?d=n

Geninha
Geninha
5 janeiro de 2022 12:19 am
Reply to  Geninha

Acredito que seja. Na época o marido fazia tecnologia em Marketing e eu fazia os trabalhos da faculdade dele, era nesse padrão.
Administração.

A dica do Quem Somos Nós – filme etc.

Cansada, e um tanto magoada, acho.

Há questões que ferem e as músicas dão essa pausa, consolam… (intervalos)

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