APONTANDO PARA A LUA

Um monge aproximou-se de seu mestre – que se encontrava em meditação no pátio do Templo à luz da lua – com uma grande dúvida:

– Mestre, aprendi que confiar nas palavras é ilusório; e diante das palavras, o verdadeiro sentido surge através do silêncio. Mas vejo que os Sutras e as recitações são feitas de palavras; que o ensinamento é transmitido pela voz. Se o Dharma está além dos termos, porque os termos são usados para defini-lo?lua cheia

O velho sábio respondeu:
– As palavras são como um dedo apontando para a Lua; cuida de saber olhar para a Lua, não se preocupe com o dedo que a aponta.

O monge replicou:
– Mas eu não poderia olhar a Lua, sem precisar que algum dedo alheio a indique?
– Poderia – confirmou o mestre – e assim tu o farás, pois ninguém mais pode olhar a lua por ti. As palavras são como bolhas de sabão: frágeis e inconsistentes, desaparecem quando em contato prolongado com o ar. A Lua está e sempre esteve à vista. O Dharma é eterno e completamente revelado. As palavras não podem revelar o que já está revelado desde o Primeiro Princípio.
– Então – o monge perguntou – por que os homens precisam que lhes seja revelado o que já é de seu conhecimento?
– Porque – completou o sábio – da mesma forma que ver a Lua todas as noites faz com que os homens se esqueçam dela pelo simples costume de aceitar sua existência como fato consumado, assim também os homens não confiam na Verdade já revelada pelo simples fato dela se manifestar em todas as coisas, sem distinção. Desta forma, as palavras são um subterfúgio, um adorno para embelezar e atrair nossa atenção. E como qualquer adorno, pode ser valorizado mais do que é necessário.

O mestre ficou em silêncio durante muito tempo. Então, de súbito, simplesmente apontou para a lua.

Tam Hyuen Van

Comentários do autor deste conto Zen podem ser lidos clicando no link acima.

japao zen lua

Fonte: Para ser Zen

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Dohko de Libra
Dohko de Libra
13 outubro de 2010 4:04 pm

Você não percebeu? Tanto AA quanto AAA quer dizer algum tipo de pilha. Então que seja aquela do coelhinho, que dura dura dura…

Ike, do âmago do vulcão.
Ike, do âmago do vulcão.
11 outubro de 2010 7:49 pm

Tb acho caro Tiago.

Mas, “Pensar sem palavras” os animais já fazem isso muito bem (Mas não podem ir muito longe tb, não é?!

Qual a única coisa que nos diferencia das outras espécies pensantes dessa terra, senão a linguagem escrita e a imaginação ( Que com o advento do POLITICAMENTE-CORRETO, já não andam lá essas coisas)?

João,

E por que eu preciso ver ‘Tropa de Elite 2’ antes de votar?

Poderia ser mais específico?

Anônimo
Anônimo
12 outubro de 2010 12:21 am

Encontra-se no livro dos Salmos assim: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus …….”

Acabemos com o barulho e os ruídos da vida, e no silêncio ouçamos o som da voz de Deus a chamar. Ele quer falar conosco ….

Somente no universo dos que amam, o silêncio fala… e alto! Mostra sua face de pureza e bondade, comunica-se com os homens que, cheios de defeitos, ainda se conservam cúmplices do amor.

Lionheart
Lionheart
12 outubro de 2010 8:07 am

Olá pessoal Sei que é totalmente off-topic, mas gostaria de fazer uma pergunta a todos que estiverem lendo estes comentários (e ao dono do blog também): por acaso vocês já tiveram a experiência, ou ouviram falar, da luz de um poste de rua se apagar quando você passa embaixo. Quero dizer, não uma ou duas vezes, mas muitas e muitas vezes, com relativa frequência e com postes diferentes. Isso vem acontencendo comigo há algum tempo e na internet existe até grupo de discussão sobre o assunto. Pelo visto acontece com mais gente do que eu pensava. E se acontece, alguém… Read more »

Lex Zen
Lex Zen
12 outubro de 2010 11:33 am

João Porquê??? Tava esperano a versão pirata… digo de locadora. Quanto ao Budismo… Porquê é tão imprtante não ficar só lendo e passar a praticar meditação… e os oito caminhos… (…) Como eu disse, este bardo* do nascimento e da vida é muito importante. Se você puder reconhecer este bardo como nada mais que um sonho, uma exibição mágica, e combinar esse reconhecimento com bodhicitta* desimpedida, à partir do coração, então você vai dominar este bardo do nascimento e da vida. Quando você domina este bardo, você dominará todos os outros bardos*. E, se alcançar isso, você se tornará um… Read more »

Lex Zen
Lex Zen
12 outubro de 2010 11:35 am

Observadores superficiais tentam apontar o paradoxo de que o Buda, que quis libertar a humanidade da dependência de deuses e da crença em um Deus criador arbitrário, acabou ele mesmo endeusado nas formas posteriores de budismo. Eles não compreendem que o Buda que é cultuado não é a personalidade histórica do homem Sidarta Gautama, mas a corporificação das qualidades divinas, que são latentes em todo ser humano e que se tornaram aparentes em Gautama e em inúmeros Budas antes dele. Não vamos confundir o termo “divino” — mesmo o Buda dos textos Pāli não evitou classificar a prática das mais… Read more »

Dohko de Libra
Dohko de Libra
12 outubro de 2010 4:01 pm

Lionheart, acontece comigo também, mas eu nunca achei uma explicação. E realmente é assim, de longe vc vê o poste aceso, e na medida que vc se aproxima, ele apaga. Depois vc se afasta e ele acende. Mas o contrário também acontece, de ele estar apagado e vc acendê-lo. E não são postes oscilantes, daqueles que ficam só acendendo e apagando. Dê-me seu e-mail p/ gente entrar em contato. Se reunirmos pessoas assim talvez a gente consiga explicar isso.

Anônimo
Anônimo
12 outubro de 2010 4:44 pm

Lionheart e Dohko,

Vcs já repararam se quando isto ocorre, vcs estão em algum momento de irritação, nervosos ou tensos por algum motivo? Ou tipo tentando solucionar algum problema na cabeça?

Anônimo
Anônimo
12 outubro de 2010 5:16 pm

Fere de leve a frase… E esquece… Nada
Convém que se repita…
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.

Mario Quintana

Lionheart
Lionheart
12 outubro de 2010 10:16 pm

Dohko de Libra

Isso que você descreveu é exatamente o que acontece comigo.
Meu e-mail: ricgerim@yahoo.com.br

Quanto ao comentador anônimo, nunca percebi se estava irritado ou tentando resolver algum problema no exato momento em que aconteceu. Mas eu sou um cara naturalmente nervoso (por dentro, não na aparência). Quanto ao fato de estar tentando resolver algum problema, bem… todo mundo sempre está tentando resolver algum problema, não é? rsrs.

Mas valeu pela atenção galera.

kiabo azul
kiabo azul
13 outubro de 2010 8:53 am

façam uma associação: AAAL (associação de andarilhos alternadores de luz) e busquem a solução. Meu problema é que toda hora que estou andando de carro, o sinal fica amarelo p/ mim. Toda hora acontece isso. Talvez a cor amarela seja um arquetipo de perigo/atençao, né não? Que venha o conhecimento.

Lionheart
Lionheart
13 outubro de 2010 9:32 am

Kiabo Azul

Mais uma associação que começa com A? Assim não pode, assim não dá. Eu já faço parte de uma que se chama AA. Se eu entrar para uma AAAL vou virar motivo de chacota no meu bairro, pô.

Dr. Hoffman
Dr. Hoffman
13 outubro de 2010 10:12 am

acredito que quando entendemos o real sentido da cada coisa nessa vida, essas coisas se tornam mais faceis para passar adiante e cada vez mais que passamos adiante entendemos melhor ainda e passamospara frente melhor ainda….

tudo ruma para a iluminação de todos…

eh inevitavel, um dia conseguimos….

=D

Muito bem vindo este post

Lucas Vitório
Lucas Vitório
18 outubro de 2010 7:17 pm

Excelente!

Geninha
Geninha
11 outubro de 2010 12:33 pm

É…

João
João
10 outubro de 2010 2:23 pm

Pessoal vocês precisam assistir Tropa de Elite 2 antes de votar!

Ike, do âmago do vulcão.
Ike, do âmago do vulcão.
13 outubro de 2010 8:47 pm

Agora eu já sei do porquê dessa maldita taxa de iluminação pública cobrada pelas nossas autoridades. E o porquê da minha conta de luz tá vindo tão cara ultimamente…

Aos ‘circuitos ambulantes’ desse espaço, queiram por gentileza não sair mais de casa?!
|¬)

Yoda
Yoda
6 outubro de 2010 7:50 am

Bom dia, caro amigo!
Belo conto…
“O cavalo do vazio cavalga o vazio”

Dohko de Libra
Dohko de Libra
6 outubro de 2010 8:24 am

Gostei do conto. Muito boa a mensagem que ele passa. Se bem que dói um pouco o ouvido ouvir “Framengo”, ou “pobrema”. Mas claro, olhar p/ a lua…
Obs: este conto até que foi legal, mas em geral não gosto muito de contos de monges, porque são muito contraditórios: revelam monges arrogantes e mal-educados tentando ensinar lições, totalmente o oposto do ensinado das próprias lições.

Anônimo
Anônimo
6 outubro de 2010 9:56 am

isso é pq vc esta olhando pro dedo e não pra lua

kiabo azul
kiabo azul
6 outubro de 2010 9:57 am

.

demonho coisa ruim dos infernu
demonho coisa ruim dos infernu
6 outubro de 2010 1:58 pm

Poxa, vc quer mais arrogância do que JC dizendo a mulher que precisava de um milagre que não seria bom tirar o pão dos filhos para dá-lo aos cachorrinhos?
Acho que existem momentos onde certa rispidez do mestre faz-se necessária ao discípulo.

Ana Carol
Ana Carol
8 outubro de 2010 9:25 am

“os homens não confiam na Verdade já revelada pelo simples fato dela se manifestar em todas as coisas”

Sem palavras…

Phebre
Phebre
8 outubro de 2010 9:57 am

O que mais me chama a atenção no budismo é a forma de construção de conhecimento, nós ocidentais ficamos lendo pilhas e pilhas de livros absorvendo conhecimento pela autoridade de grandes escritores. Enquanto o mestre budista apresenta o caminho e você o constrói o seu conhecimento.

João
João
8 outubro de 2010 1:24 pm

“What are these barriers that keep people from reaching anywhere near their real potential? The answer to that can be found in another question and that’s this: Which is the most universal human characteristic: fear, or laziness?”

joaninhapensadora
joaninhapensadora
8 outubro de 2010 2:42 pm

Essa forma de ensinar é a que permite a interpretação do discípulo, assim cada um entenderá conforme sua propria capacidade.
Cada um tem a sua verdade….
E aqui estamos nós preocupados com o dedo…. acho que no fundo é medo de ver a Lua…

Ike, do âmago do vulcão.
Ike, do âmago do vulcão.
8 outubro de 2010 8:34 pm

Boa Destemido; esses posts são ótimos pra sacudir um pouco o lago das nossas vidas. Não tenho muita dúvida em dizer que as mentalidades do ocidente e do oriente tendem mais à complementação do que à contradição (E, falando em palavras, tenho que me resolver com essas malditas crases). Mas… Si a verdade já está revelada e se manifesta diariamente em todas as coisas, o que então faltaria para o entendimento (Ou percepção) dessa verdade, senão a necessidade de poder ‘expressá-la’ (Em rabiscos nas cavernas ou em manuscritos virtuais)?! Abs ‘meditativos’. “A PALAVRA TEM PODER. TANTO É VERDADE QUE QUANDO… Read more »

Tiago Oliveira
Tiago Oliveira
9 outubro de 2010 2:48 pm

nossos signos são restritos demais para expressarem o que queremos dizer realmente. e isso vai se tornando cada vez mais evidente conforme a idéia que desejamos transmitir vai ficando mais profunda, complexa ou subjetiva.
Aí vamos precisando de milhares de palavras para TENTAR chegar perto de nossa idéia original.
Entretanto há a teoria (relatos) de uma linguagem mais elaborada, transmitida por idéias em bloco, que as pessoas tomam por intuição ou por epifania…
seria bom seu eu já soubesse “pensar sem palavras” 😀

Lucas Oliveira
Lucas Oliveira
17 março de 2017 5:40 pm

Phena Sutta (SN XXII.95) – Espuma.

O Buda apresenta alguns vívidos símiles para descrever a vacuidade dos cinco agregados.

http://www.acessoaoinsight.net/sutta/SNXXII.95.php

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