O Vedanta é a parte final dos Vedas, escritura sagrada hindu de mais de 5000 anos. O Veda é dividido em quatro partes:
Rig-Veda, Yajur-Veda (fórmulas ritualísticas), Samaveda (versão reorganizada de alguns hinos do Rig-Veda) e o Vedanta. A mais antiga sistematização de que se tem notícia foi feita pelo sábio Vyasa, há mais ou menos 3300 anos.
Poderíamos resumir alguns tópicos de interesse do Vedanta:
1. O Universo sempre existiu e sempre existirá, num eterno vir-a-ser cíclico, passando por períodos de expansão e de dissolução (Pralaya).
2. O Universo não teria sido “criado” por Deus, assim como o entendemos na tradição judaico-cristã, entendimento que gera uma relação dual sujeito-objeto, criatura-criador. Nas palavras de Vivekananda, “O nosso termo sânscrito para criação, traduzida apropriadamente, deveria ser projeção, e não criação.” O Universo, pelo pensamento Vedanta, foi projetado por Deus, uma “idéia divina” que progressivamente se densifica até se materializar. Segundo essa idéia, estamos dentro do “pensamento de Deus”. Maya, na filosofia vedantina, é especificamente “a ilusão sobreposta à realidade como efeito da ignorância”.
3. Quanto a Deus, existiriam duas conotações diferentes: o do Princípio Único (Brahman) e o do causador da manifestação dos mundos (o Deus pessoal, gerente dos mundos de Maya, que chama-se Iswara, em sânscrito). Vivekananda explica:
“Existem duas idéias de Deus nas nossas escrituras (hindus) – uma, pessoal, e a outra, impessoal. A idéia de um Deus Pessoal é que Ele é o criador onipresente (Iswara), preservador e destruidor de todas as coisas, o Pai e Mãe do universo, mas Alguém que está separado eternamente da gente e de todas as almas; e a libertação consiste em se aproximar Dele e viver Nele. Mas existe outra idéia do (Deus) Impessoal, onde todos os adjetivos são supérfluos […] O que é Brahman? Ele é eterno, eternamente puro, eterno desperto, todo-podereoso, onisciente, piedoso, onipresente, sem forma (…) Nos Vedas não utilizamos a palavra “Ele”, mas “Isto”, pois “Ele” irá fazer uma distinção individual, como se Deus fosse um homem (…) Este sistema é chamado de Advaita. E qual é a nossa relação com este Ser Impessoal? É que nós somos Ele. Nós e Ele somos Um. Cada um é apenas uma manifestação deste Impessoal, o fundamento de todos os seres, e a miséria consiste em pensar na gente como diferente deste Infinito Ser Impessoal; e a libertação consiste em saber da nossa unidade com esta maravilhosa Impessoalidade. Estas são, em resumo, as duas idéias de Deus que encontramos nas nossas escrituras (hindus). Alguns destaques devem ser feitos aqui. É somente através da idéia de um Deus Impessoal que podemos ter qualquer tipo de ética. Em todas as nações a verdade tem sido dita desde os tempos mais remotos – ame seus semelhantes como a você mesmo – quero dizer, ame os seres humanos como a você mesmo. Na Índia, isto tem sido dito assim, ‘ame todos os seres como a você mesmo‘; nós não fazemos distinção entre homens e animais (…) vocês compreendem isso quando aprendem que o mundo inteiro é único – a unicidade do universo – a solidariedade de todo o ser vivo – que, ao ferir alguém, eu estarei ferindo a mim mesmo, ao amar alguém, eu estou amando a mim mesmo. Então nós entendemos o porquê de não devermos ferir aos outros.”
Vivekananda
Referência:
A cosmologia dos Vedas (universo, criação, etc) em inglês
नैव चिन्त्यं न चाचिन्त्यं न चिन्त्यं चिन्त्यमेव च । पक्षपातिविनमुर्क्तं ब्रह्म सम्पद्यते तदा ॥
naiva cintyaṁ na cācintyaṁ na cintyaṁ cintyameva ca || pakṣapātavinirmuktaṁ brahma sampadyate tadā ||
*”[O Ser] não é concebível [pois não é um objeto]; nem é inconcebível [pois não cabe no pensar].*
*Embora não possa ser objeto do pensar, deve-se meditar nele [como a fonte da Plenitude].*
*O Ser, livre de conceitos, é assim alcançado [conhecido].”*
*Amṛtabindūpaniṣad , 6।*
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Upanixade
O REAL OBJETIVO DE VEDANTA | Isso é Vedanta #33
https://www.youtube.com/watch?v=3CF3wKYra7c
Vedanta
https://pt.wikipedia.org/wiki/Vedanta
Ramesh Balsekar
http://www.youtube.com/watch?v=9tbyimId_wM
Advaita não é uma religião, Advaita é um princípio básico na maioria das religiões organizadas…
“A aparência das coisas é imposta ao eu. Eliminando-a, o eu se torna o Brahman absoluto, íntegro, sem igual e sem ação. A aparência do eu, sob o aspecto do mundo da divisão, é falsa porque aquilo que não muda, que não tem órgãos, não é divisível.(…) O eu consciente é livre do sentimento do observador, da observação e do observado. É inocente e pleno como o oceano. Assim como as trevas destroem a luz, assim, a causa da ilusão se dissolve no Supremo que não tem igual. E, dado que o Supremo não tem órgãos, como poderia ser divisível?… Read more »
ब्रह्म सत्यं जगन्मिथ्या जीवो ब्रह्मैव नापरः ।
अनेन वेद्यं सच्छास्त्रमिति वेदान्तडिण्डिमः ॥ २०॥
brahma satyaṁ jaganmithyā jīvo brahmaiva nāparaḥ |
anena vedyaṁ sacchāstramiti vedāntaḍiṇḍimaḥ || 18 ||
“O Ser é Verdade, Satya. O Universo é Relativo, mithyā.
A crença da separação (jīvaḥ) não é mais que o Ser.
Aquele através do qual esta Verdade é conhecida é
o śāstra mais elevado. Assim ruge o Vedānta”. || 18 ||
Ah!Que bom ler esse post!
Ainda mais quando se trata dos Vedas.
Eu estava precisando ler um artigo assim, mais claro. =)
Gostaria de entrar em contato com vc por e-mail para trocarmos ideias sobre varios assuntos aqui publicados….
Não da vontade de parar de ler
😮
Oie 🙂
Legal o artigo… muito interessante mesmo.
Cris
Uma dica de filme: “Quem Somos Nós?” (What The Bleep do we Know?)
(http://cinema.terra.com.br/ficha/0,,TIC-OI5665-MNfilmes,00.html)
“Pense no documentário como um Matrix da física quântica.” (Reuters)
clapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclapclap…
Valeu, Renan! Muito bom, mesmo!
Um deus pessoal, reflexo de nossas projeções naturalmente limitadas: aquele deus que nós criamos. O outro, deus impessoal, aquele que supostamente existe e teria nos criado; e que não se explica porque não se conhece o motivo de sua existência, exceto a necessidade de suas auto-denominadas criaturas em criá-lo. Ambos são falsos. Ambos são verdadeiros. Deus tecla. Deus não tecla. Deus está vivo? Como pode estar vivo se nunca nasceu? A ambição é a origem do drama. Quando paramos de perguntar a vida começa a responder. Nem a vida nem a morte de Jesus. A vida é pessoal e intransferível.… Read more »
Muito bacana.
No embalo das escrituras hindus, acabei de ler o maravilhoso Bhaghavad Gita.
São insights profundos do início ao fim….
um abraço
Acid, vc tem matéria sobre Mitraísmo? (não sei se é de origem Hindu ou Persa)
Abraço
Putz whocares? estou lendo a Bhaghavad Gita pela segunda vez, é impressionante como cada vez q se lê sempre se descobre coisas novas, parece q se ve de uma perspectiva diferente. Muito legal esse texto, Acid.
Os textos dos Vedas e Upanishads são simplesmente incríveis, levam à uma profunda reflexão de valores, principalmente para nós, ocidentais, que estamos acostumados a entender a vida sob o aspecto dualista/separatista – Criador/criatura. A fundamental diferença entre o hinduísmo e as grandes religiões monoteístas predominantes aqui no Ocidente é essa idéia do imanente, no lugar do transcendente. Em outras palavras, a idéia não é a de um Deus criador do Universo, mas sim a de que este Deus É a sua própria criação. Assim, Deus não nos criou, mas sim Deus É tudo que existe. É poético, sem dúvida, e… Read more »
Ontem vi uma palestra num Centro Espírita sobre essa ‘projeção’ do q chamamos de DEUS. O palestrante colocou idéias q o filme ‘Quem somos nós’ (q eu fiquei conhecendo a existência aqui msmo no blog, um tempo atrás) fez chegar ao alcance d qq um, d uma maneira clara, simples e direta. É maravilhoso ver como caminhamos pra essa noção menos pessoal de DEUS. E ao msmo tempo, ele é colocado + perto da gente, no seu devido lugar. Dentro d nós msmos. Cara, tem um texto nesse mesmo site sobre o SOL q acho interessante vc colocar aqui. D… Read more »