CRUZADA

Ora, Jesus, tendo saído do templo, ia-se retirando, quando se aproximaram dele os seus discípulos, para lhe mostrarem os edifícios do templo. Mas ele lhes disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não se deixará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada.

Mateus 24:1-2
cruzada filme

Assisti ao filme Cruzada e o título original – Kingdom of Heaven (Reino do céu) – reflete muito mais o espírito do filme. Sério. Quem achou Gladiador clichê demais (um cara contra o império romano) vai se surpreender com o novo filme de Ridley Scott. Desta vez ele acertou a mão na sensibilidade demonstrada na condução narrativa do filme, assim como ele fez em Blade Runner. O filme é tão bom que quero ver novamente (coisa rara, muito rara…).

O único aspecto que gostei em Gladiador foi o espiritual, quando no final ele retorna (finalmente) à sua casa, ao som de uma bela música. Em Cruzada ele faz o filme todo pensando no lado espiritual dos personagens. Relembramos que a doutrina de Jesus não tem nada a ver com as cruzadas, aprendemos que o Reino do céu está na mente e o coração e que a paz é apenas uma questão de consciência. Vemos os personagens cumprirem seus desígnios (Dharma), alguns com relutância, outros com prazer. Os diálogos, que podem até soar clichês para alguns, são na verdade lições metafísicas sobre caráter, lei do retorno (Karma), honra e código de conduta. Só não sei se foi intencional, mas que cai bem a um filme onde de um lado temos cristãos templários e do outro lado islâmicos, ah, isso cai…

Aliás, o assunto é extremamente atual, já que o ocidente resolveu invadir o oriente, mais uma vez em busca de riquezas e pontos estratégicos… seria tentador para as bilheterias – e ao mesmo tempo perigoso – retratar um dos lados como “bom” e outro como “mau”. Mas o maior mérito do filme é justamente não tomar lados, o que é favorecido pela falta de expressividade do personagem principal Balian (Orlando Bloom) e pelo excelente elenco de apoio (com Saladin preenchendo toda a tela em cada cena em que ele aparece). Após ler isso me pareceu que o filme foi retrabalhado para evitar confusões com os islâmicos, e assumiu uma postura mais conciliatória, o que é mais acertado até mesmo do ponto de vista histórico (já que o diálogo final com Saladino de fato existiu e foi daquele jeito), no que foi bem recebido pelos muçulmanos.

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não o quiseste! Eis aí abandonada vos é a vossa casa. Pois eu vos declaro que desde agora de modo nenhum me vereis, até que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.

Mateus 23:37-39

Ah, e quem gosta de ação não vai se decepcionar! Scott ao que parece aprendeu a arte de filmar cenas de batalha de modo realista, intenso e aparentemente confuso, e ainda assim fazer a platéia entender o que está acontecendo (algo que Spielberg inaugurou de forma magistral com O Resgate do Soldado Ryan). E os efeitos visuais são a coisa mais perfeita que já vi no cinema! Simplesmente NÃO DÁ pra saber o que é computação gráfica ou não! Esqueçam aqueles soldados falsos de Tróia, ou de Senhor dos Anéis: estamos diante de um novo marco nos efeitos visuais! Oscar garantido, pode anotar!

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islan Triumpho
islan Triumpho
21 maio de 2005 5:55 pm

ola!
sou novo aqui, mas precisava comentar sobre o “Oscar” e filmes como “Cruzada”;
Não da para esperar de Hollywood muita coisa. Principalmente no que se refere as avaliações para se premiar filmes de “resgate histórico”, mesmo quando o filme é muito bom.
Gosto é gosto, tudo bem, mas quem pode falar mal de o “Último samurai” não entendeu a tentativa de “mea culpa” por parte do cinema americano e do Tom Cruise (que sempre achei muito fraquinho mas me fez tirar o chapéu). 😕

tiza
tiza
11 maio de 2005 8:58 pm

Dune ,já escutei algo parecido no eterno Pink Floyd e concordo com isso…veja as loucuras que o mundo anda assistindo por não saber escutar!(muita oratória e pouca “escutatória “…)
União agriões ! (brincadeira …)

Mano Piper
Mano Piper
12 maio de 2005 11:47 am

Falando em filmes um lembrete: Star Wars Episódio III: A Vingança dos Sith estréia 19 de maio não esqueçam. 😉

Saindo da Matrix
Saindo da Matrix
12 maio de 2005 1:15 pm

Já estou com meu ingresso comprado pra primeira sessão!!! Pela primeira vez vou ver o filme em uma sala com THX!

Radical Chic
Radical Chic
12 maio de 2005 1:23 pm

Star Wars eu também não perco! Aliás, o George Lucas havia dito que na verdade seriam 3 trilogias e que ele havia começado pela do meio… Depois filmaria a primeira parte e 15 anos depois filmaria a última trilogia. Agora estão anunciando como a última parte da Saga…

Será que ele mudou de idéia, tá achando que não vai durar tanto assim… ou simplesmente encheu o saco?

Outra dúvida: o que é THX?

Ale
Ale
12 maio de 2005 1:56 pm

Finalmente assisti o filme… Muito loko mesmo… Bem realista, e mostra muito do que ocorre até hoje, não só na dsiputa pela terra santa…

Agora é só esperar pelo Ep3 eahueiahiuehaiuh…

Saindo da Matrix
Saindo da Matrix
12 maio de 2005 3:17 pm

Radical, ao que parece Lucas vai continuar a série em desenhos, ou em mini-séries pra TV. E viver de relançar a saga principal, como vai fazer em 2007, comemorando os 30 anos de Episódio IV com o lançamento do filme em 3D (com óculos e tudo). THX é um conjunto extremamente rígido de especificações técnicas de som e imagem desenvolvido pela equipe de George Lucas para o filme O Retorno de Jedi. Pra ter o selo (tipo ISO9000) o cinema deve atender a todos os requisitos (e pagar U$40.000 anuais) e os ajustes finais são feitos por especialistas dos EUA… Read more »

Ale
Ale
12 maio de 2005 5:59 pm

É, tanto que tem uns desenhos de uns 2 minutos que passa em intervalos do cartoon network com os episódios da saga das guerras clônicas….

x-builder
x-builder
13 maio de 2005 4:56 pm

Acid, vc disse que o sistema de som THX foi desenvolvido no Retorno de Jedi, mas pelo que eu saiba ele foi desenvolvido no filme THX1180, por isto o nome THX.

 Saindo da Matrix
Saindo da Matrix
13 maio de 2005 5:58 pm

Nope. O nome foi uma homenagem ao primeiro filme de Lucas. E só.
http://www.answers.com/topic/thx

Radical Chic
Radical Chic
15 maio de 2005 6:05 pm

Valeu Acid! Vou dar uma procurada nos cinemas aqui de SP… Ainda não reparei se algum tem esse selo.

Anônimo
Anônimo
28 maio de 2005 12:27 pm

Valeu Acid! Vou dar uma procurada nos cinemas aqui de SP… Ainda não reparei se algum tem esse selo.vAcid, ficou ótimo o artigo!
É um filmaço, MESMO!
E a lição da paz… Acho que é a grande das grandes.
Quem dera os grandes líderes de hoje pensassem como os do filme.
Parece que milhares de anos se passam, e o objetivo de grandes líderes (espelho do outro lado?) continuam em busca da mesma coisa: matéria.
E quem não assistiu ao filme ainda, o que está esperando?

s2k
s2k
28 maio de 2005 4:24 pm

O homem é resultado do seu tempo, suas limitações,suas crenças,sua cultura, tudo isso o lança tanto para o bem como para o mal, e muitas vezes esse bem e esse mal se misturam, principalmente por ignorancia.E por ignorancia seguimos doutrinas, religiões, pensamos como rebanho.
São poucos os que estão a frente de seu tempo.

s2k
s2k
28 maio de 2005 4:33 pm

estamos muito perto de outra cruzada, só que desta vez não é só contra o Islã mas falo de todas as religiões fundamentalistas, sejam elas do oriente ou universal de um reino qualquer…que não respeitam as diferenças,a diversidade e são intolerantes com todos aqueles que não são seus iguais…

Anônimo
Anônimo
1 julho de 2005 9:44 am

mmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm

x-builder
x-builder
19 agosto de 2005 11:00 am

Jamil, achei feliz seu comentario, porém gostaria de complementá-lo. As cruzadas começaram em um momento em que havia além da peste negra, uma época de fome , onde havia muita gente para poucos recursos (comida,vestuario, moradia). Estas guerras “em nome de Deus” também serviram para diminuir a população para que equilibrasse esta relacao população x recursos. Em suma, além dos interesses expansionistas e ideologicos da igreja católica, da consquistas de novas terras pelos senhores feudais, a Europa passava por uma epidemia de peste negra, fome e miseria , a qual a maioria da populacao sofria. Para isto as cruzadas surgiram… Read more »

Jamil El Chihimi
Jamil El Chihimi
19 agosto de 2005 10:47 am

Ainda hoje As Cruzadas são vistas como uma “Grande Epopéia”, onde o Europeu Cristão, tomou em armas para libertar as Terras, que chamavam de Santa, do jugo de homens que tachavam de “inimigos”. Mas, a verdade é outra, pois estas mobilizações guerreiras, conduzidas sob tremendo fanatismo e ódio, nada mais foi que uma guerra expansionista, onde senhores feudais buscavam expansão de suas posses, comerciantes novos locais de comercio, e a Igreja uma expansão de seus poderes.Sob o nome de Deus, arrastaram milhares de homens, mulheres e crianças, sob a promessa de alcançarem, um local no céu, lutando e morrendo em… Read more »

Dunedain
Dunedain
11 maio de 2005 8:36 pm

Sandra, apesar de não ter visto o filme, não concordo com a sua opinião “ser imparcial”. Opino por analogia. Ser imparcial,não seria ver de modo completo o círculo? ver os 360° graus. Ora, se olharmos com parcialidade é ver apenas 180° do círculo. Não concordo em ser parcial. Todas as guerras causadas por religião foi justamente por esse motivo de parcialidade em um e outro. Ex: “minha religião é a certa”, “não, é a minha” Por isso falo de achar uma síntese de igualdade para todas as coisas,só assim é uma imparcialidade consciente,onde nenhum dos lados são melhores,onde o círculo… Read more »

Dulce
Dulce
10 maio de 2005 12:49 pm

Legal Acid!
Tenho verdadeira paixão por filmes assim…aquele final do Gladiador, fez com que eu assistisse o filme algumas vezes…e me arrependi até hoje de não ter comprado o CD do filme por causa desta música que o Fabricio falou. Com certeza vou assistir Cruzada.

Saindo da Matrix
Saindo da Matrix
9 maio de 2005 3:33 pm

Tem uma música em árabe nos créditos do filme, que lembra muito o espírito da música do Gladiador.

Helena
Helena
9 maio de 2005 2:34 pm

Nossa, vou ver esse filme! Eu tava com medo de ser que nem Tróia(que eu pessoalmente não gostei), mas depois desses elogios todos.. Valeu pela dica 😉

Ale
Ale
9 maio de 2005 2:37 pm

E ae galera, blz???? Meu esse filme parece ser bom… Se pá vou tentar assistir essa quarta… Ultimamente vários filmes bons aparecendo, e ainda num consegui ver Constantine…

fabrício santana
fabrício santana
9 maio de 2005 2:40 pm

Acid,

a música a que vc se refere em “gladiador” é de lisa gerrard, da dupla “dead can dance” (www.deadcandance.com/).

ela não canta, geralmente, em nenhuma língua conhecida, mas, como diz ela, com a “língua da alma”.

como vc poder perceber/sentir, suas músicas causam um efeito que comprova essa idéia.

e em cruzada, há alguma música parecida???

Bruno Henrique
Bruno Henrique
9 maio de 2005 3:47 pm

Heheheh…eu acho que alguém pagou pro Acid fazer propaganda…

Saindo da Matrix
Saindo da Matrix
9 maio de 2005 3:49 pm

Na verdade, na verdade, estou esperando que alguma produtora de cinema me dê ingressos pra pré-estréias assim como fazem com os jornalistas 😛

x-builder
x-builder
9 maio de 2005 6:49 pm

Não querendo ser muito chato, mas… bom” e outro como “mal”. Pelo que eu entenda o antônimo de bom é mau e o antônimo de bem é mal. (Não sei) Sendo mais chato ainda, vc disse que é Oscar garantido. Mas Oscar não mede qualidade, mas lobby. Lembro que o Senhor do Aneis – A sociedade do Anel (filme onde todos falavam que ia consquistar por volta de 9 a 11 estatuetas) perdeu de lavada para “Uma mente brilhante” pq este tipo de filme agrada mais a academia. Sei lá, Cruzadas pode até ganhar estatuetas sim, mas é um filme… Read more »

 Saindo da Matrix
Saindo da Matrix
9 maio de 2005 8:00 pm

Oi X. Valeu pela correção. Eu vivo errando esses detalhezinhos da nossa língua (espuminha que o diga).
Quanto ao Oscar, eu tava me referindo ao de efeitos visuais, que sempre foi entregue ao melhor filme, sem lobbies (ou Senhor dos Anéis nunca teria ganho de Star Wars!)

roberto carlini
roberto carlini
10 maio de 2005 1:41 pm

bom eu ainda nao vi esse filme sou islamico e quero ver o que esse diretor colocou contra nois

Phatae
Phatae
10 maio de 2005 1:02 pm

O Fabricio, valeu pela dica da música…mas, vc sabe o nome dela…e o filme parece ser interessante…essa semana eu devo ir…um abraço para todos

Roberta
Roberta
10 maio de 2005 3:00 pm

Sabe, eu também gostei bastante do filme, que eu assisti domingo. Mas ajudou bastante o entendimento ter lido antes a reportagem na Super sobre a visão cristã e a muçulmana sobre as cruzadas.
Em várias falas do filme, inclusive, eu me peguei balançando a cabeça em sinal afirmativo (claro que balançar a cabeça é fácil, difícil é meter a mão na massa).
Ah, e sobre aquele filme do Judas (produzido em 2001 e que saiu em 2004 “oportunamente” seguindo toda a comoção em torno da Paixão de Cristo), você vai comentar alguma coisa?

fabr´cio santana
fabr´cio santana
10 maio de 2005 5:07 pm

phatae,

tenho a trilha sonora, mas não está comigo. mas músicas cantadas pela lisa gerrard em gladiador não são mais que 4 ou 5. dá uma escutada aqui:

http://www.amazon.com/exec/obidos/tg/detail/-/B00004STPT/104-7066630-7256759?v=glance

Sandra
Sandra
10 maio de 2005 8:01 pm

Bom o filme!Mas não me conquistou muito por ser imparcial,como diria “em cima do muro”….
Muita luz pra todos!!!!

fabr´cio santana
fabr´cio santana
11 maio de 2005 11:14 am

vi ontem… me passou uma tremenda msg de tolerância, apesar de toda a beligerância (ih!, que frase horrível!).

fotografia ótima, atores muito bons. só não sei se a falta de expressão de balian é proposital ou orlando bloom é ruim mesmo…

p.s.: não identifiquei nenhuma canção de lisa gerrard no filme.

Phatae
Phatae
11 maio de 2005 10:35 am

Vlw, Fabrício…ótimo post Acid…

Ale
Ale
11 maio de 2005 2:56 pm

Vou assistir hj!!!!! uhuhuh… Se tudo der certo…

Shalashaska
Shalashaska
11 julho de 2013 4:19 am

Um dos melhores filmes históricos da década passada, em minha humilde opinião. Eu era pirralho quando foi lançado, e lembro o quanto o conflito religioso abordado mexeu com a minha cabeça à época. Ótima resenha, Acid.

Outro aspecto brilhante, que você não citou, é a trilha sonora!

http://www.youtube.com/watch?v=mfW4pefWaiI

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