Acabei de ver o Joker: Folie à Deux (Coringa 2), e eu estava muito, muito relutante em ver por conta das críticas. Quando soube que era mais um Matrix 4, onde o Diretor resolveu destruir sua obra anterior porque ela caiu sob o domínio dos redpills (a ponto de cunharem o termo “Coringar” no imaginário popular e colocarem Bolsonaro como o Coringa). Por conta disso eu não quis ver no cinema, e levei duas semanas até ter coragem de ver online. Nesse meio tempo li e ouvi várias críticas, todas colocando o filme como um desastre. Minha expectativa era ZERO.
Mas eis que gostei. E o sentimento que está crescendo em mim nesse momento é que, APESAR das cenas musicais muito estendidas, eu estou achando que gostei bastante. E que seria uma obra-prima se essas mesmas cenas fossem mais curtas, mais intimistas, menos espetaculares. Ok, ok, eu sei que essas cenas fazem parte da loucura do Arthur, mas no primeiro filme esses surtos eram bastante contidos a ponto de enganar a platéia e isso fez o filme crescer MUITO. Já aqui a loucura está escancarada, caricata como o desenho animado do início (também desnecessário, como se fosse um manual de como enxergar o filme = a sombra do Coringa perseguindo Arthur Fleck). Tirando esses detalhes, o filme é um mergulho nas CONSEQUÊNCIAS DA LOUCURA e da violência pra TODOS OS ENVOLVIDOS. E esse aspecto foi tratado com muita sensibilidade (novamente) pelo diretor com cenas e atuações primorosas. Violência gerando loucura, que gera violência, uma espiral que vimos no caso dos Irmãos Menendez (um caso real retratado numa série nesse momento famosa na Netflix). Eles são culpados? São. O quanto culpados? Difícil dizer, e é essa a espinha dorsal do filme Joker: Folie à Deux. Não é sobre o palhaço, não é sobre o mítico vilão do Batman, não é sobre a Arlequina: É sobre o Arthur. E eu entendo que isso decepcionou os “fãs”. Mas o filme questiona: fãs do que, mesmo? Da violência desenfreada? Da loucura alheia? De gente que goza com a desgraça da vida dos outros? A cena do pessoal saindo do Tribunal é curta mas é brilhante, porque ecoa exatamente o que aconteceu com a platéia desse filme quando elas perceberam que esse não era o filme do “Coringa delas”. E o Arthur sendo perseguido pelo cosplay do Coringa na rua, que é mais maluco que ele? É metalinguagem de altíssimo nível, feita com muita seriedade e competência, ao contrário do Matrix 4 (que foi claramente feito na base do ódio). Embora o diretor Todd Phillips tenha dito que irritar o fã tóxico do primeiro filme não tenha sido a intenção, ele claramente faz isso (e ele meio que admite isso). Antes de ver o filme eu fiquei com raiva desse antagonismo “woke” que está na moda e que tem sido feito sistematicamente com os fãs de Star Wars, MAS, após ter visto o filme, eu dou razão ao Diretor. O Arthur é um f*dido. E continua sendo um f*dido no final do primeiro filme, só que virou uma celebridade, como fazemos com pessoas perturbadas mentalmente que caem na graça da Internet. A cena do anão no Tribunal é “coisa de cinema”: É profunda, bem filmada, traz várias camadas, faz uma ponte com o primeiro filme e a gente vê um aspecto que é largamente ignorado no mundo do entretenimento que são as consequências psicológicas de atos que nem foram feitos contra a pessoa diretamente. A atuação de todo mundo ali é fantástica!
Joker: Folie à Deux é talvez o filme mais injustiçado desse novo século. É um filme à moda antiga, que tem um ritmo muito lento, traz números musicais que são ame-os ou odeie-os e é corajoso o suficiente pra ir contra toda a lógica do mercado e expectativa da platéia. É algo que só vai ser completamente entendido e celebrado daqui a 10 anos, como previu o Hideo Kojima. Quentin Tarantino é outro que amou o filme, dizendo do diretor Todd Phillips:
“O Coringa dirigiu o filme. O conceito inteiro, até mesmo ele gastando o dinheiro do estúdio — ele está gastando como o Coringa gastaria, certo?” E ele fala do final: “E então seu grande presente surpresa — haha! — o boneco na caixa, quando ele oferece a mão para um aperto de mão e você recebe uma campainha com 10.000 volts disparando em você — os geeks de histórias em quadrinhos. Ele está dizendo um f***-se para todos eles. Ele está dizendo um f***-se para o público do cinema. Ele está dizendo um f***-se para Hollywood. Ele está dizendo um f***-se para qualquer um que possua ações da DC e da Warner Brothers. E Todd Phillips é o Coringa. Um filme de Coringa, ok, é o que é. Ele é o Coringa.”
Concordo que o Todd deu uma de Coringa. Talvez nunca mais ele dirija um filme pelos próximos 10 anos depois dessa pegadinha que ele fez, mas eventualmente Folie à Deux vai ser celebrado como o epitáfio dos filmes de Super Herói dessa época. Um ponto final triste e realista num sonho coletivo no qual embarcamos com Homem de Ferro 16 anos atrás, que já deu o que tinha de dar e que já não está mais se sustentando como diversão e escapismo bobo.
nesse contexto eu curto, eu não gostei do filme,mas gosteu do fato dele existir, é uma grande foda-se pros fans mesmo. E principalmente pro estudio que fica louco pra drenar ate ultima gota do produto
Bem pelo menos vemos aqueles que achavam “ legal” ter uma tatuagem de Coringa pensando seriamente em removê-las. A cena com os policiais foi pesada.
Pesadíssima