A HISTÓRIA DO ROCK (parte 1): ELVIS

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Neste ano, mais especificamente em 06 de julho de 2004, comemoramos 50 anos de história do rock. Tudo isso graças a um rapaz de 18 anos, recém-formado e que, por um acaso do destino(?) nasceu branco com voz e alma de negro, para com isso impulsionar, no berço do Soul e do Blues (a cidade de Memphis), a escalada do Rock’n roll (um ritmo que se origina com a cantora Gospel Rosetta Tharpe mas que permaneceu segregado entre a comunidade negra norte-americana) para o mundo.

Era uma tarde de sábado de 1954 quando um tímido rapaz, motorista de caminhão, adentrou o Memphis Recording Service, da Sun Records para gravar uma música pra sua mãe. O rapaz estava tão nervoso que a secretária resolveu puxar conversa. Ela perguntou:
– Que tipo de cantor você é?
– Eu canto qualquer tipo de música, respondeu o rapaz.
Ela voltou a perguntar:
– Você canta parecido com quem?.
– Eu não me pareço com ninguém.

O que ele disse podia soar arrogante, mas estava próximo da realidade. As duas canções que ele gravou naquele dia – My happiness e That’s when your heartaches begin – mostravam que ele não só era diferente de qualquer outro cantor, como também havia uma grande qualidade em sua voz, um tipo de melancolia, perdida em algum lugar entre a súplica e o desejo. Elvis Presley soava diferente de tudo, a começar pelo nome.

O dono da Sun Records, Sam Phillips, logo resolveu vasculhar o potencial artístico do rapaz, mas seus primeiros testes foram um fracasso. Então Phillips pediu ajuda ao guitarrista Scotty Moore, de 21 anos, que já havia gravado pela Sun Records. No dia 06 de julho, juntamente com o baixista Bill Black, Elvis, Scotty e Phillips se reuniram no estúdio pra gravar alguma coisa. Supostamente, a primeira coisa realmente gravada foi uma melancólica balada country, I love you because. Elvis gravou dúzias de takes, tentando colocar tudo o que ele sabia numa só música. Mas não estava funcionando.

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Um curioso Elvis, com Bill, Scotty e Sam no estúdio na Sun Records

Estava ficando tarde, e Elvis ficando frustrado. Enfim eles decidiram dar uma pausa. Enquanto Scotty e Bill bebericavam umas Cocas, Elvis de repente lembrou-se de uma música que ele ouviu anos atrás. Explodindo com um ingênuo entusiasmo, começou a brincar com um velho blues de 8 anos atrás gravado pelo cantor negro Arthur “Big Boy” Crudup, chamado That’s all right (Mama). Segundo Scotty “Elvis começou a cantar e a agir como um louco, e Bill pegou o baixo e começou a agir como um louco também e eu comecei a tocar com eles. Acho que Sam estava com a porta do escritório aberta, ergueu sua cabeça e disse: “Que raios vocês estão fazendo?” E eu disse: “Não sabemos”. “Tudo bem”, ele disse “tentem encontrar um ponto para recomeçar e façam tudo de novo”.

Sam apertou o botão vermelho, e a história do Rock’n’Roll começou a ser feita.

Ninguém sabia exatamente o que estavam fazendo, mas instintivamente todos eles sabiam que aquilo era bom. “Nós achamos aquele tipo de música muito excitante” – disse Scotty – “Mas o que era aquilo? Era tão diferente de tudo”. Não importa. O que realmente importa era que aquela música tinha realmente empolgado Sam Phillips. Assim nasceu o Rockabilly. Elvis interpreta a música com tanta força e confiança que subverte a letra “That’s all right, Mama, just anyway you do” e mostra quem realmente está no comando. Nasce aí a “attitude” do rock. Claro que nessa noite o rock não nasceu somente da voz de Elvis, mas também do som alucinado e com tempo acelerado da guitarra de Scotty Moore e do baixo de Bill Black, e também do tino musical de Sam Phillips, que vivia dizendo para que dessem ênfase no ritmo: “Nós não queremos nenhuma dessas bobagens suaves. Nós queremos uma bobagem aguda e cortante! Tudo tinha que ser pungente, mordaz e ter muito ritmo”.

“Quando Sam preparou a audição, que se tornou a primeira sessão de Elvis pela Sun, ele disse que queria ouvir apenas a voz, com um pouco de ritmo de fundo. Como éramos apenas eu e o Bill para tocar e, sem bateria, soou muito vazio e eu quis preencher as coisas um pouco. Este foi o motivo pelo qual comecei a utilizar aquele estilo de tocar com o polegar e com os dedos, tentar manter um ritmo mais pesado, batendo nas notas para tapar os buracos. Depois que saí da marinha em 1952, ouvi muito Chet Atkins e Merle Travis.”

Scotty Moore

Se vocês forem escutar a versão original de Arthur Crudup perceberão que todos os ingredientes do Rock estão lá. Ritmo acelerado, vocalista loucaço, guitarra cortante. Não à toa Crudup é considerado por alguns como o Pai do Rock, mas morreu na miséria, sem os direitos das músicas que ele fez e foram regravadas por vários músicos. O fato é que a voz com altos e baixos precisos de Elvis deu a essa música o toque final que faltava pra esse ritmo decolar.

O restante da sessão foi usada para a gravação de um lado B. A segunda música que gravaram foi Blue Moon of Kentucky, de Bill Monroe (aclamado nos EUA como o pai do Bluegrass). É interessante vocês ouvirem a música original de Bill pra ouvir o que era o “normal” naquela época, e o que Elvis fez com a música. Inicialmente foi feito um arranjo country, mas acabou se tornando um rockabilly. “Muito bem, cara! Isso é diferente, agora ela é uma canção pop!” comentou Phillips por trás da mesa de controle, antes mesmo que a gravação terminasse.

Entretanto, a opinião geral no estúdio era de que, quando o público ouvisse o resultado eles teriam que deixar a cidade. Eles estavam em 1954 e Memphis ainda era um teimoso território racista, e ninguém, nem mesmo o velho Sam C. Phillips, poderia pôr uma canção negra e uma branca em um mesmo disco. Mas certamente ele o fez. Com os tapes prontos, Phillips selecionou as melhores gravações e levou-as à estação WHBQ, onde o DJ Dewey Phillips apresentava o Red Hot and Blue, um show dedicado apenas a blues negros. Às 09:30 da noite That’s all right (Mama) foi ao ar em caráter de pré-lançamento. Em poucos minutos todos os ramais telefônicos da rádio estavam congestionados. Devido à reação positiva do público, Dewey foi obrigado a tocá-la por 14 vezes seguidas naquela noite. Após um par de horas, Presley era retirado de um cinema local e levado à estação para ser entrevistado.

“A primeira vez que eu ouvi a sua música foi em 54 ou 55, quando eu estava no carro e o locutor disse: Aqui está um cara que, quando aparece nos palcos do Sul, as garotas gritam e tumultuam o show. E então tocou ‘That’s all right, mama’. Eu achei o seu nome o mais esquisito que eu já ouvi. Imaginei com certeza que seria um cara negro…”

Paul Simon
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Visual rebelde, dança sensual e endiabrada, garotas gritando e invadindo o palco, cordas de guitarra quebradas e performances como rolar num palco agarrado com um cachorro de brinquedo. Tudo isso que hoje é normal em concertos de rock começou com Elvis. Bob Luman, um cantor country daquela época, relembra como eram as apresentações de Elvis Presley: “O cara apareceu de calças vermelhas, paletó verde, meias e camisa cor de rosa, com aquela cara de deboche e ficou parado em frente ao microfone por cinco minutos antes de fazer qualquer movimento. Então começou a tocar seu violão e quebrou duas cordas, eu toco há dez anos e no total ainda não quebrei duas cordas! E lá estava ele, as cordas arrebentadas e as garotas gritando e correndo até o palco. Ele mexia os quadris, como se tivesse algum caso de amor com o violão. Ele me deixou arrepiado cara!”.

Elvis foi o 1º artista a criar histeria, o 1º a ser censurado, o 1º a ter um jato particular, o 1º a fazer um show acústico (unplugged), o 1º a fazer um show inteiro com transmissão simultânea pra todo o mundo, e o 1º a ter seu próprio imitador.

Até então os cantores ficavam parados no palco, no máximo estalando os dedos. Não só a performance, a música, mas também a voz soluçante, suplicante ou propositalmente desafinada (muito usada depois por Buddy Holly e outros) foi contribuição de Elvis. Não foi à toa que John Lennon cunhou a frase que melhor define o Rei:

“Antes de Elvis não havia nada!”

John Lennon

O resto é história. História do Rock.

(continua…)

elvis dog
Nhac!

Referência:
Pablo Aluísio: O melhor site sobre Elvis em toda a internet!

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