AS DUAS DORES DO AMOR

Por Martha Medeiros

Existem duas dores de amor. A primeira é quando a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão envolvidos que não conseguimos ver luz no fim do túnel.

A segunda dor é quando começamos a vislumbrar a luz no fim do túnel. Você deve achar que eu bebi. Se a luz está sendo vista, adeus dor, não seria assim? Mais ou menos. Há, como falei, duas dores. A mais dilacerante é a dor física da falta de beijos e abraços, a dor de se tornar desimportante para o ser amado. Mas quando esta dor passa, começamos um outro ritual de despedida: a dor de abandonar o amor que sentíamos. A dor de esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar livre, sem sentimento especial por ninguém. Dói também.

Na verdade, ficamos apegados ao amor tanto quanto à pessoa que o gerou. Muitas pessoas reclamam por não conseguir se desprender de alguém. É que, sem se darem conta, não querem se desprender. Aquele amor, mesmo não retribuído, tornou-se um souvenir de uma época bonita que foi vivida, passou a ser um bem de valor inestimável, é uma sensação com a qual a gente se apega. Faz parte de nós. Queremos, logicamente, voltar a ser alegres e disponíveis, mas para isso é preciso abrir mão de algo que nos foi caro por muito tempo, que de certa maneira entranhou-se na gente e que só com muito esforço é possível alforriar. É uma dor mais amena, quase imperceptível. Talvez, por isso, costuma durar mais do que a dor-de-cotovelo propriamente dita.

É uma dor que nos confunde. Parece ser aquela mesma dor primeira, mas já é outra. A pessoa que nos deixou já não nos interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: eu amo, logo existo. Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente.

E só então a gente poderá amar, de novo!!!

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Sandro
Sandro
26 junho de 2006 7:11 pm

Simplesmente magnifico e veridico.

Thais
Thais
24 abril de 2007 5:08 pm

Conseguiu traduzir em palavras o que eu não estava conseguindo explicar a mim mesma.

Elvis "Wolvie" Rodrigues
Elvis "Wolvie" Rodrigues
17 setembro de 2007 8:19 pm

Excelente…
Não comentarei mais a respeito.

Hugo
Hugo
13 janeiro de 2008 5:33 pm

Eu tb senti tudo isso! Incrível como Martha conseguiu descrever muito bem essas sensações!

Luciana
Luciana
10 março de 2009 8:13 pm

Martha sempre brilhante, sempre tão pontual! Lindo texto!

=_
=_
15 maio de 2009 9:02 pm

bem alguem ta sofrendo de amor aki ? ta tudo certo , esses sao um dos grandes problemas que temos q passa.

goan7
goan7
1 novembro de 2011 2:06 pm

“o verdadeiro amor não se apega a nada.”

Sabedoria e Amor a todos.

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