A EXPERIÊNCIA MÍSTICA DE SENNA

As experiências ditas “místicas” deveriam ser lugar-comum na nossa sociedade, porque acontecem diariamente, com várias pessoas, seja de que classe social for. Isso porque o “misticismo” ou “esoterismo” é só um nome que damos pra uma parcela das nossas vidas a qual não temos um acesso, digamos, consciente. Não é como a Física ou a Química, onde sempre jogamos um objeto pra cima e ele cai, ou sempre que botamos açúcar teremos um sabor adocicado. Mas, quando o “misticismo” acontece, ele deixa marcas profundas, ao contrário da familiaridade / previsibilidade com a qual lidamos com as ciências. Então, por que raios não vemos depoimentos de experiências místicas de personalidades famosas, de formadores de opinião, enfim, de pessoas que levamos à sério e que passam credibilidade nas artes, na ciência, nos esportes?

A resposta é bem simples: a “seriedade” delas é proporcional ao quanto elas ficarão de boca fechada em relação a esses assuntos. Todas as que tentam superar esse tabu sofrem algum tipo de repressão (quase sempre violenta) da sociedade. Até mesmo em relação a qualquer religião que não seja a nossa oficial Católica Apostólica Romana. Ou seja, algo nada animador e que serve de lição pra qualquer outra pessoa com imagem pública NÃO fazer.

Ainda assim, várias pessoas o fizeram, e muito provavelmente pagaram por sua coragem com risinhos, descrença e deboches. Maitê Proença comentou suas experiências transcendentais. Caetano Veloso, Chico Buarque e Elba Ramalho já falaram abertamente sobre seus avistamentos de OVNIs. Para não mais.

Senna

A EXPERIÊNCIA MÍSTICA DE SENNA

Mesmo com os (poucos) depoimentos de gente “famosa”, o assunto não é ventilado, não é levado à sério, fica sempre restrito a um nicho, um gueto, ou é convenientemente esquecido. Aconteceu isso com Ayrton Senna. Em 1990 ele deu uma entrevista à Mônica Bergamo, para a revista Playboy, onde contou uma experiência fantástica de expansão de consciência (Satori):

Ayrton Senna

“No treinamento de sábado me dei conta de que o carro estava desequilibrado, sem possibilidade real de vitória. O McLaren de Berger teve os mesmos problemas. Ganhar em Montecarlo era muito importante, e eu expliquei a Deus. Ele sabe tudo o que acontece em nosso coração. Mas é necessário entregar-se através da oração. E foi o que fiz. Quando domingo chegou, já no warm-up eu tive um sensação e uma visão. Eu podia ver-me fora do carro. Em torno da máquina e de meu corpo havia uma linha branca, uma espécie do auréola, que me proporcionava força e proteção.

Entrei em uma outra dimensão. Tive uma paz incrível, e certeza de que estava equilibrado, no corpo e na alma. Geralmente antes de sair eu me concentro, muito sério. Desta vez eu saí sorrindo, mesmo. Eu deixei os boxes com o mesmo carro que um dia antes havia apresentado problemas, e os defeitos… tinham desaparecido! Estavam lá, mas não os sentia, não me incomodavam. Após a corrida, Berger veio falar comigo e disse-me que seu carro tinha estado desequilibrado. Eu apenas sorri, mas não entrei em detalhes. Mas em meu carro não havia acontecido nada.”

Esta foi sua terceira vitória em Mônaco.

O mais incrível é que em toda a internet brasileira esse texto NÃO EXISTE. Ninguém se deu ao trabalho de transcrever isso no Brasil, apenas achei o texto em espanhol, imaginem! Enfim, como tornar assuntos assim coisa “normal”? Uma idéia é comentar assuntos assim em casa, com os filhos pequenos, da forma mais natural possível, pra que se crie uma cultura de base que possa gerar um real interesse da sociedade por esses assuntos (e não uma curiosidade motivada pelo excêntrico da coisa).

Atualização:

Agora temos mais acesso a vídeos de Ayrton Senna, graças às retrospectivas que fazem dele todo ano. Aqui ele fala de uma experiência no Japão em 1988:

Ayrton Senna fala da experiência com Deus

Após isso Ayrton foi duramente criticado por Alain Prost: “Ayrton tem um pequeno problema, ele acha que não pode se matar, porque ele acredita em Deus e eu acho isso muito perigoso para outros pilotos“.

Tivemos também o documentário Senna, que foi um sucesso. Então lançaram esse vídeo que fala de uma volta de qualificação em Mônaco (feita em 1988, e que até hoje é considerada uma das voltas mais perfeitas da história da F1), mas sem mencionar Deus:

Remember Senna

É preciso falar sobre esse fim-de-semana, pois ali Senna estava como que em graça Divina: Ele guiava por instinto, numa experiência que segundo ele mesmo “estava muito além de sua compreensão consciente”. Além da volta de qualificação, onde ele colocou 1 segundo e meio de vantagem para Alain Prost, seu companheiro de equipe que usava praticamente o mesmo carro, na corrida ele estava com uma vantagem de 50 segundos (MUITO à frente) do segundo colocado, e ele não deixava de acelerar, mesmo faltando poucas voltas. Foi então que o time falou pelo rádio: “Senna, você está muito à frente, diminua o ritmo”. E aí ele se desconcentrou e bateu de forma amadora, como se tivesse saído de um transe:

Senna – Exclusive Clip (’88 Monte Carlo Grand prix)

bandeira da espanha Ler em espanhol (por Teresa)

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Anderson Moretti
Anderson Moretti
3 março de 2023 4:33 pm

Tenho essa revista playboy que comemora o Aniversário de 15 anos de edições brasileiras e a modelo da capa é a linda ” ruiva-loira” Patrícia Melo Ayrton tinha essas experiências místicas mas ele nunca abandonou a religião cristã Teve visões de Jesus é muito gratificante ter lido essa entrevista e constatar que o Cristianismo bem como sua religião raiz, o Judaísmo têm muito misticismo autêntico ( muito longe de charlatanismo e ” mINTOlogia “e delírios A COISA É REAL!!! Amém ! !!!

Ricardo
Ricardo
5 janeiro de 2007 10:11 am

Alguém aqui já leu ou ouviu falar do conto “Um moço muito branco” do Guimarães Rosa?
Afinal de contas, de que se trata aquilo? É uma descrição impressionante de uma aparição de um UFO.
Procurem na web e dêem uma olhada. É impressionante.

cris
cris
5 janeiro de 2007 11:56 am

Ricardo:

Li, o Guima estava “inspirado” quando escreveu.

Raphael
Raphael
5 janeiro de 2007 4:49 pm

Concordo com o teor do texto, mas será que tudo que contam-nos é digno de acreditar-se? Senão daqui a pouco estarei com medo da Cuca e do lobisomem… E será que também não redicularizamos certas pessoas ao descrermos, quando estas contam que tal força (Deus, na maioria das vezes), ou tal amigo espiritual, ser, duendes (…por que não?), etc, as ajudou em determinado objetivo?

Apenas algumas questões…

Ninguém
Ninguém
9 janeiro de 2007 1:06 pm

Esse post foi realmente muito bom. Concordo plenamente. Espero que venha a surtir efeito, ao menos no grupo de pessoas que frequenta aqui. É assim que se muda o mundo, primeiro muda-se o microverso ao nosso redor, que influencia outros microversos visinhos, e assim, aos poucos, os macroversos começam a ser afetados, positivamente. Por fim, o Universo inteiro pode se modificar. Parabéns. Uma observação: Um texto tão importante recebe apenas 14 comentários, enquanto um outro que eu acho que foi propositadamente polêmico e improdutivo (sobre bebidas alcóolicas) ferveu com 98 comentários… Que pena. Parece que aqui, como em qualquer lugar,… Read more »

Titanico
Titanico
9 janeiro de 2007 7:29 pm

Apenas dois adendos, Ninguém: 1) Obviamente que muitos não gostam de contar suas “experiências” para ninguém, pois são muito particulares. A sua visão de um fenômeno vai ser diferente da minha. Além disso, mesmo para aqueles que acreditam em algum tipo de experiência paranormal, se alguém lhes contar um caso fantástico, não vão acreditar pois é muito “fantasioso”. Então, a grande maioria prefere se abster do que, infelizmente, se passar por louco e paranóico. 2) Sabe por que o post do álcool teve tantos comentários? Simples: todos gostam de se defenderem, por mais absurdo que possa parecer. Gostamos de falar… Read more »

Govinda
Govinda
16 janeiro de 2007 5:55 pm

Curriculum Senna:

http://www.sedentario.org/blog/?page_id=3528

Muito bem feito, vale a penar dar uma olhada…

Verônica Tila
Verônica Tila
30 outubro de 2008 4:14 pm

Primeiro título de Senna completa 20 anos

Publicada em 30/10/2008 às 8:44

A temporada de 1988 foi a da afirmação de Ayrton Senna, do fenômeno que fazia e acontecia nas categorias inferiores e vinha tendo corridas monumentais, como em Mônaco, em 1984, quando ele estava na Toleman e quase derrotou Alain Prost na chuva, e a de Portugal, em 1985, quando ele ganhou debaixo de um pé d’água em que os pilotos mal conseguiam manter o carro na reta – inclusive o próprio Prost colidiu na reta dos boxes de Estoril.

http://msn.lancenet.com.br/especiais/FORMULA-1/noticias/08-10-30/417796.stm?primeiro-titulo-de-senna-completa-20-anos

Daniela
Daniela
5 janeiro de 2007 9:28 am

Muito interessante !!!

Cabe a nós tratararmos com mais “naturalidade” os fatos que muitos julgam como “loucura”.

É só prestar um pouco de atenção em nosso coração para perceber a verdade.

LUZ e PAZ !

cris
cris
4 janeiro de 2007 6:01 pm
Moonspell
Moonspell
3 janeiro de 2007 9:00 am

As experiências desses artistas dos anos 70 e 80 gera uma certa dúvida pq todos sempre confirmaram usar algum tipo de substancia (droga). Desde as mais leves, como algumas experiencias mais pesadas. Rita Lee sempre afirmou ter visto um disco voador, ela conta em detalhes, que chega a convencer. Talvez ela… eles, tenham realmente visto… pq não? Ou, foram as substancias? Paira um “talvez´´ – uma dúvida. Sei que nerds de faculdade consomem maconha com vinho. Ouvindo coisas da antiga mpb, sendo uma espécie de seguidores de época. Sim, pq aquela era a época de experimentar de tudo. Claro, cada… Read more »

Ricardo
Ricardo
3 janeiro de 2007 10:17 am

Você disse algo interessante Acid, a respeito da sociedade desprezar qualquer manifestação místico-religiosa que não esteja ligada à religião dominante. Outro dia eu li num jornal de grande circulação uma crítica feroz às temáticas espíritas de algumas novelas recentes da Rede Globo. O crítico chamava estas novelas de “obscurantistas”. Mas isso não se restringe ao catolicismo. Se a temática da dita novela fosse judaica, islãmica ou mesmo neo-evangélica tenho certeza que a crítica seria bem mais amena, se não conivente… Mas a grande questão em jogo não é de ordem religiosa, e sim política, devido ao grande poder que essas… Read more »

Djinn
Djinn
3 janeiro de 2007 10:44 am

Mesmo pq comentários to tipo em maioria sempre vem de loucos e fanáticos.

Misticismo se asemelha a loucura.

Fiat Lux
Fiat Lux
3 janeiro de 2007 11:34 am

Eu concordo com o texto, mas de uns tempos pra cá tenho percebido que tudo aquilo que as religiões, doutrinas e filosofias antigas já falavam, a sociedade está começando a absorver com o auxilio da própria ciência (energia, força do pensamento, etc.) que explica em uma linguagem que não compromete a crença no absurdo ou inexplicável. A sociedade impõe o medo de sermos tachados de loucos e fanáticos, mas se vc comenta numa roda de amigos e até familiares sobre experiências científicas que comprovam o poder da fé por exemplo, cria uma conotação totalmente diferente do que começar a falar… Read more »

Marcio
Marcio
3 janeiro de 2007 12:38 pm

Achei a edição… é de agosto de 1990. Vou ler o texto e ver se tem mais trechos sobre isso.
http://br.geocities.com/fofas2002/playboy1990.htm

Jussara
Jussara
4 janeiro de 2007 3:20 am

Uau! “Somos Todos Um” e “Saindo da Matrix” de mudança! Muito bom!

Achei legal este texto. É muito importante que coisas assim sejam divulgadas – finalmente essa fala do Senna está na net! Eu realmente não sabia!

Ricardo
Ricardo
4 janeiro de 2007 5:13 am

Alguém aqui já leu ou ouviu falar do conto “Um moço muito branco” do Guimarães Rosa?

Claudia
Claudia
4 janeiro de 2007 5:18 pm

Obrigada por compartilhar a matéria!

Vcs se lembram de como ficaram aparecendo imagens dele na Globo, pouco depois dele ter morrido, mostrando ele concentrado e de certa forma triste no dia da corrida na qual ele morreu? Ele apareceu numa cena, apoiado no carro, olhando para ele e pensando… talvez ele tivesse notado que tinha algo de errado e estava “canalizando” como ele disse ter feito naquele dia na entrevista… De qualquer forma, esses assuntos precisam ser discutidos mais e acho que vc está fazendo um ótimo trabalho neste blog! 🙂 Obrigada pelas excelentes matérias! 😉

Paulinha
Paulinha
2 janeiro de 2007 9:08 pm

Ahhh que interessante! Maitê Proença dando seu relato na “Época” me fez identificar um pouco com ela. Não a chamaria de doidinha se ela quisesse continuar. =) E você, Acidulado, vendo a playboy hem? Ou quer dizer, Lendo.. ^^ 🙄 Puxa vida, mas o cara daqui e você foi encotrar lá fora.. 😛 Obrigada por compartilhar. Dessas experiências tem uma que eu soube de um conhecido meu, que enquanto estava dirigindo aqui em Recife, não lembro se ele estava irritado com o trânsito(rs) ou se só estava concentrado demais, ele disse que sentiu uma sensação maravilhosa de plenitude por muito… Read more »

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